XIII

3K 353 10
                                    


Caroline Pearson não se apaixonou por James Townsend enquanto caminhava pela nave da Igreja de St. George. O tempo não parou quando seus olhos se encontraram, tampouco quando ele segurou a mão dela durante a cerimônia, massageando os nós dos dedos, num gesto discreto e persistente.
Eles não se apaixonaram enquanto professavam os votos que fariam deles marido e mulher.
E embora o amor não a tenha atingido como uma vez ela imaginou que aconteceria, Caroline sentiu seu corpo e sua mente serem invadidos por uma estranha e bem vinda calma, ela sentiu-se contagiar pela serenidade e segurança que James transmitia.
Ela não quis fugir da Igreja.
Ela não duvidou da escolha que fizera.
...
Os convidados se reuniram na casa dos West's após a cerimônia. Georgiana organizara um belíssimo almoço, uma mesa de bolos e sobremesas variadas, com direito a um quarteto de cordas. James e Caroline circulavam juntos pela casa, cumprimentando a todos.
- Oh queridos, que casal encantador vocês formam. – A marquesa de Trentham elogiou quando James e Caroline foram cumprimentá-los. – Nossa amada rainha realmente lançou moda ao casar-se vestida de branco, é uma cor espetacular para noivas. Denota pureza, não creem?
O último comentário foi feito num tom deliberadamente sarcástico. Caroline fingiu não escutar. A marquesa não merecia que lhe dessem importância.
- Uma belíssima festa, lady Caroline. – A marquesa continuou – James, meu filho, queremos convidar Nicole para ficar uns dias conosco, não é conveniente que um casal recém-casado tenha que cuidar de uma criança. Não será trabalho para mim. Certamente vocês farão uma viagem. Lembro-me da alegria da minha querida Adélia ao retornar da lua de mel em Paris.
James franziu o cenho para lady Margareth, pronto para retrucar a sogra pela alusão inconveniente à Adélia e por querer levar Nicole para Lancashire, mas calou-se ao sentir o toque sutil de Caroline em seu braço.
- Agradecemos a generosa oferta, vossa graça. – Caroline respondeu – Não pretendemos fazer nenhuma viagem por enquanto. Quando James casou com sua filha eles não tinham uma menina para cuidar, entretanto nós dois temos responsabilidades com Nicole.
A marquesa piscou, obviamente surpresa com a resposta. Caroline manteve a expressão calma e um sorriso no rosto, enquanto em sua mente enumerava todas as formas possíveis de afastar aquela mulher odiosa de sua família.
Sua família. Caroline sequer escutou a despedida do marquês. Estava refletindo sobre essas duas palavras. Seria assim tão fácil pensar em seu marido e em sua enteada como a família dela?
- Peço que me perdoe pela inconveniência da marquesa, Caroline. – James falou, interrompendo os pensamentos de Caroline.
Ela sorriu para ele.
- Não é necessário desculpar-se por ela. As palavras de lady Margareth não tem qualquer importância para mim.
- Ainda assim, preferia que não tivesse que suportá-la.
James pegou a mão de Caroline e depositou um beijo na palma. Ela sentiu quando suas bochechas esquentaram, ruborizadas.
...
- Você é certamente o pai da noiva mais rabugento de toda a história. – Temple anunciou, portando-se ao lado do pai da noiva em questão.
- Sinto como se tivesse voltado 9 anos no tempo e estou vendo Georgiana e Langley. – West disse, tomando mais um pouco de uísque.
Os garçons que Georgiana contratou serviam champanhe e vinho para os convidados, entretanto West necessitava de uma bebida mais forte.
- Não é uma comparação justa com Reddich. – Temple replicou.
West não olhou para ele, continuou observando Caroline e James que conversavam com o marquês de Trentham e sua esposa.
- Não lhe parece uma ironia cruel que depois de tudo o que Georgiana enfrentou a filha dela se case por causa de um escândalo?
- Sei que está preocupado, mas confio nos instintos de sua mulher. Ela está bem confiante sobre esses dois.
West soltou um resmungo baixo.
- Por Deus, homem, vai afugentar todos os convidados da festa.
- Ele está infeliz com o casamento. – Temple respondeu.
- Ora, West. Caroline está casando com um bom homem. – Bourne o tranquilizou.
- Que não a ama.
- Acredita realmente nisso? – Cross perguntou, juntando-se a conversa e indicando com a cabeça o casal tema da conversa.
James beijava a mão da esposa, aparentemente sem se importar com os convidados que assistiam o pequeno interlúdio.
- Apostaria sem medo de perder que Reddich já está apaixonado por Caroline. - Cross afirmou, pousando a mão no ombro do amigo.
- Ele não age como um homem apaixonado. – West replicou.
- Você quer dizer que ele não age como um canalha apaixonado. – Bourne provocou, rindo – Sua filha casou-se com o modelo do cavalheirismo inglês. Se ela estivesse casada com um canalha como nós, provavelmente vocês teriam um neto de 7 meses. Você deveria ser grato.
West encarou Bourne e seus amigos e tomou o resto de seu uísque. Desejava que eles estivessem certos.
...
Caroline subiu para o quarto para trocar o pesado vestido de noiva. Georgiana dispensara o auxílio de Antonia e a acompanhara ao quarto.
Enquanto trocava de roupa, Caroline se perguntava o motivo da mãe estar tão calada, embora tivesse uma vaga ideia.
Essa noite ela dormiria na Townsend House e partiriam para Yorkshire de manhã bem cedo. James sugeriu que ficassem mais uns dias em Londres, entretanto ela sabia que ele desejava voltar para Townsend Park e Caroline desejava deixar a cidade. Estava cansada da temporada. Não se importou de enfrentar a estrada logo após o casamento, já que não haveria noite de núpcias, pelo menos não por enquanto.
- Querida, antes que você desça, nós duas precisamos ter uma conversa.
Caroline sentou-se na cama, ao lado da mãe. Não recordava já ter visto Georgiana tão pouco à vontade.
- Supõe-se que eu devo informá-la sobre o que ocorrerá em sua noite de núpcias. Bem, você já sabe o básico, eu expliquei para você como nascem os bebês. Há algo que deseje saber?
Caroline franziu os lábios tentando conter o riso.
- Há mais algum detalhe que a senhora acredite que eu deva saber? – Ela devolveu a pergunta.
- Para ser franca eu tinha esperanças que você fosse seduzida por seu pretendente e eu me livrasse dessa conversa!
- Mãe! – Caroline exclamou.
Georgiana deu de ombros.
- Tem certeza que você não pagou a uma das meninas do cassino para lhe explicar sobre as relações entre um homem e uma mulher?
- A senhora teria gostado disso, não é mesmo? – Caroline provocou, rindo.
Ela não pagara nenhuma das cortesãs do cassino para uma palestra sobre tais assuntos, entretanto era suficientemente curiosa para pegar emprestado (sem avisar) um dos livros do escritório de Cross, que coincidentemente falava um pouco sobre o assunto, inclusive com ilustrações bastante explícitas. Caroline certamente não revelaria aquilo para a mãe.
- Eu tenho os conhecimentos básicos, então creio que não haverá contratempos. – Declarou. Estava divertindo-se bastante com o desconforto de Georgiana, contudo a hora de ir se aproximava.
- Sim. Sim. Tem razão. Seu marido se encarregará de mostra-lhe o resto. – Georgiana concordou.
- Sentirei sua falta, mãe.
Caroline envolveu Georgiana num abraço apertado. Era difícil dizer adeus mesmo sabendo que não era um adeus definitivo.
- Oh querida! Sentirei sua falta também. – Georgiana falou emocionada.
Permaneceram abraçadas durante quase um minuto. Georgiana teve que usar um lenço para enxugar os olhos quando finalmente separaram o abraço.
Encontraram Duncan parado do lado de fora do quarto. Ele deu um abraço apertado em Caroline. Tinha os olhos marejados e parecia levemente embriagado.
James esperava por Caroline no salão juntamente com Nicole. Eles despediram-se dos convidados e entraram na carruagem.

O lado bom de um escândalo [COMPLETO]Where stories live. Discover now