XVI

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- O que você está fazendo aqui? – Caroline perguntou, a voz trêmula. Deu um passo na direção deles.

- Fique exatamente onde está, milady. – Matthew alertou, apontando a pistola para ela. Caroline obedeceu imediatamente. – É bem óbvio o que eu estou fazendo aqui. Vim sequestrar sua enteada, pretendo ganhar um bom dinheiro como resgate por essa pequenina aqui.
Sentiu as pernas fraquejarem. Respirou fundo, não se importando que ele percebesse sua aflição. Precisava manter a calma e conseguir algum modo de sair daquela situação.
Estavam afastados demais, havia poucas chances de alguém aparecer por ali justo naquele momento. Mesmo que Suzanna e ela tentassem lutar contra Matthew ele tinha uma pistola, seria tolice sequer tentar. Por sorte, a ama de Nicole parecia suficientemente calma.
- Não faça isso, Matthew, por favor. – Implorou – Leve a mim. Ela é só uma criança e lhe dará muito mais trabalho do que eu. Você conseguirá o mesmo dinheiro do dote, até mais. Pode pedir ao meu pai também. Deixe que a menina e a ama voltem para casa, eu juro que vou com você sem protestar.
Birminghan a encarou, parecendo estar refletindo sobre a proposta. Ele continuava apontando a pistola em sua direção. Nicole estava choramingando baixinho, totalmente assustada.
Deus! Caroline queria correr para ela.
- A menina é muito mais fácil de controlar do que você!
- Eu juro que não vou tentar fugir. Por favor, solte-a, por favor. – Caroline implorou mais uma vez, não podia deixar que ele a levasse.
Mais um momento terrível de silêncio, até que Birminghan decidiu.
- Você, criada. – Apontou com a pistola para Suzanna – Rasgue um pedaço do seu vestido e amarre as mãos de sua senhora. Não tente nenhum truque ou atiro em você.
Suzanna apressou-se em obedecer. Birminghan aproximou-se mais para observar enquanto ela amarrava as mãos de Caroline. Não havia como deixar os laços soltos. Só podia rezar para que ele falasse a verdade e estivesse atrás de dinheiro.
- Diga a Reddich que se quiser ver a condessa novamente deve deixar 100 mil libras na capela do povoado. – Birminghan praticamente jogou Nicole nos braços da ama e agarrou Caroline, colocando a ponta da pistola no pescoço dela – Avise para ele que nem pense em tentar me pegar ou eu mato a esposa dele.
Suzanna assentiu, pegou Nicole nos braços e correu. Caroline observou-as se afastarem perguntando-se se voltaria à vê-las.
Birminghan e ela caminharam um pouco, até onde um cavalo esperava pacientemente amarrado a uma árvore. Em momento algum ele afastou a pistola do pescoço dela. Não conseguiria escapar agora, mas pelo menos Nicole estava a salvo.
Colocou o pé no arreio da cela para subir no animal quando sentiu um pano úmido e fétido em seu nariz. Pontos pretos piscaram em seus olhos e náuseas tomaram seu estômago antes de desmaiar.

Com a cabeça latejando e o estômago dando voltas, Caroline lutou para abrir os olhos, tentou erguer os braços até o rosto apenas para perceber que suas mãos estavam amarradas a alguma coisa. Tentou focar a mente em algo, um barulho, qualquer coisa que a fizesse esquecer o zunido em seus ouvidos. Escutou barulho de coisas batendo, parecia longe, não conseguia distinguir o som.
Respirou fundo, devagar, dissipando o restante da névoa da inconsciência.
Onde estaria Matthew?
Estaria presa perto de Townsend Park?
Finalmente conseguiu abrir os olhos, embora não houvesse muita coisa para ver. A única janela do pequeno cômodo estava fechada, a luz do sol entrava pelas frestas da madeira, não estivera tanto tempo desmaiada. Ela estava no chão, suas mãos amarradas a um velho guarda-roupa.
Sua atenção foi chamada para o barulho na porta, pôde distinguir duas vozes, um homem e uma mulher. Não precisou adivinhar quem era, Birmighan entrou no cômodo.
- Que bom que está acordada. – Ele falou, com uma calma que surpreendeu Caroline – Precisarei amordaçá-la? Você pode gritar o quanto desejar, ninguém aqui virá em seu auxílio, entretanto eu realmente apreciaria se você não incomodasse meus ouvidos.
- Não gritarei. – Caroline respondeu, a voz embargada por causa da garganta e bocas secas.
Não acreditava que gritar ajudaria em sua situação. Precisava descobrir o que Matthew faria a seguir.
- Tem sede?
- Sim. - respondeu, com desconfiança.
- É normal quando se toma láudano. Passará logo. Deveria agradecer porque não lhe dei ópio. Os efeitos são horríveis.
Caroline assentiu, engolindo em seco. Por um momento pensou que seu sequestrador lhe daria um pouco de água.
- Quando iremos para a vila?
- Nós? Não iremos. Tenho alguém para buscar o dinheiro e outra pessoa para acompanhá-la até perto de casa. Não pretendo arriscar minha pele encontrando o conde.
- Parece um bom plano. – Caroline declarou observando-o apoiar-se contra a parede – Era esse o plano desde o início? Iria me cortejar e depois me sequestrar?
Birminghan a encarou por tanto tempo que ela pensou que ficaria sem resposta.
- Não. Eu realmente planejava me casar com você. – Ele respondeu, agachando-se diante dela. – Mas o conde Reddich teve que estragar tudo.
- Conhece-me pouco se confiou que eu iria me casar com você. – Caroline ergueu a cabeça e lançou-lhe um olhar altivo.
Birminghan riu, cinicamente.
- Você casou com Reddich, não? Seria a mesma situação.
Birminghan ficou de pé e encostou-se novamente contra a parede. As mãos cruzadas sobre o peito. Sua postura elegante não deixando dúvidas quanto à sua origem nobre. Caroline precisava resolver aquele quebra-cabeças. Havia mais ali do que um caçador de dotes.
- Seu plano falhou quando tentou me forçar no jardim Rivington – Ela o acusou.
O homem na sua frente riu novamente.
- Não há plateia, milady. Não precisa fingir ser uma dama recatada. É uma bastarda, tão fácil como todas as bastardas da sua laia. Seu teatrinho não teria durado muito se o conde não tivesse nos interrompido.
As palavras desprezíveis atingiram Caroline. Ela sabia que não deveria lhes dar importância, entretanto, era impossível evitar a raiva fervilhar seu sangue. Parte da raiva era destinada a Matthew, mas grande parte era destinada a si mesma por não ter enxergado através da máscara.
O sorriso de autoconfiança que ela achara tão charmoso era na verdade um sorriso cínico.
A postura relaxada não passava de deboche de um nobre pretensioso, que confiava que suas ações jamais seriam punidas.
Caroline respirou fundo. Queria gritar com ele, dizer que preferiria ir embora da Inglaterra a casar-se com um mau caráter como ele, contudo, enfurecê-lo não a ajudaria. Precisava que ele falasse, precisava descobrir toda a verdade dessa história.
- Pediu a ajuda do ex empregado do meu pai ou foi o contrário? – Perguntou, agindo como se ele não a tivesse insultado.
Birminghan estreitou os olhos para ela, a testa franzida.
- Encontrei o ex empregado de West por acaso. E descobrimos que tínhamos um objetivo em comum. Ele desejava vingar-se de seu padrasto, eu desejava me vingar do seu pai, pareceu-me uma sociedade benéfica para ambos.
- Meu pai?
- Oh sim. O poderoso Chase. – Birminghan respondeu, inconsciente da confusão que se passava na cabeça de Caroline. – O que as velhas matronas de Londres diriam se soubessem que Georgiana Pearson é a prostituta do poderoso Chase e casada com Duncan West. É uma família e tanto!
- O que você tem contra Chase?
- O que eu tenho contra o poderoso Chase? Vingança, minha cara. – Birminghan falou – Meu pai, o marquês de Belmont, perdeu tudo o que possuía nas mesas daquele maldito cassino. Ele pediu um prazo, mas Chase não dá prazos, não é mesmo? Havia negócios em que meu pai estava envolvido, negócios ilegais obviamente. Chase não hesitou em denunciá-lo. Ninguém nos ofereceu a mão. Meu pai tirou a própria vida ainda no navio. Fomos viver com um tio, minha mãe e eu. Então minha mãe morreu e eu decidi voltar para a Inglaterra. Meu tio queria que eu trabalhasse junto com ele. Eu, o marquês de Belmont, trabalhando como um reles burguês.
As últimas palavras foram praticamente cuspidas. Embora mantivesse a fachada de elegância e refinamento uma veia pulsava em sua testa.
Ele agachou-se novamente na frente dela, segurando seu queixo com a mão forte. Caroline sustentou o olhar.
- Quando cheguei em Londres e descobri que a prostituta de Chase e sua pequena bastarda circulavam pelos salões como se fossem a realeza, decidi que era a minha vez de fazer uma jogada. Criar minha própria sorte. Meu prêmio seria a filha do próprio diabo, seu dinheiro, depois sua confiança, e quem sabe então sua vida.
Birminghan soltou o rosto de Caroline e ficou de pé, arrumando o casaco impecável. O rosto ficou dolorido no lugar onde os dedos dele apertaram, mas manteve a expressão impassível. Não permitiria que ele percebesse.
- Você está enganado. Minha mãe não tem nada a ver com o Anjo Caído. Sua vingança foi dirigida às pessoas erradas.
- Poupe-me, Caroline. – Birminghan retorquiu, de pronto. – O ex empregado de West o odiava mais que tudo e seguia cada passo que o jornalista dava. Por isso também seguia a prostituta que trabalhava no Anjo Caído e que teve uma morte infeliz assim que Georgiana Pearson foi desposada por Duncan West. Um observador atento consegue ver. Ou vocês acreditam mesmo que podem enganar o mundo?
- Pois você foi enganado. A aquele homem odiava meu pai. Ele teria dito qualquer coisa para conquistar um aliado.
- Um aliado? – Falou com escárnio – Acredita que eu era um capacho? Pois saiba que era justamente o contrário. Se aquele idiota não tivesse agido por conta própria e sabotado às tipografias de West jamais teríamos sido descobertos e eu não precisaria estar aqui nesse fim de mundo.
Caroline assentiu. As sabotagens foram algo que ela não conseguira compreender. Havia sido uma tolice em meio a um plano inteligente. Fazia sentido que tivesse sido a atitude de alguém desesperado.
- Seu plano de me comprometer estava arruinado, qual seria o próximo passo? – Perguntou.
Sequer esperava que ele respondesse. Mas ela precisava saber. Precisava entender toda aquela trama para ter certeza de que sua família estaria realmente a salvo quando Birminghan recebesse o dinheiro que queria.
- Isso não importa mais. – Birminghan falou, fazendo um gesto de descarte com a mão. – Não terei o dinheiro que me era devido, mas seu resgate valerá o risco.
Birminghan saiu do quarto e deixou Caroline sozinha com seus temores. O segredo de sua família estava por um fio.
...





O lado bom de um escândalo [COMPLETO]Där berättelser lever. Upptäck nu