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  Caroline não voltou a conversar com a mãe sobre o conde de Reddich. Georgiana estava muito ocupada no Anjo Caído. Duncan West estava igualmente atarefado no jornal. O tempo finalmente tinha abrandado e ela aproveitou para ir às compras com Constance e lady Morgan.
Morgan falara sem parar sobre o conde durante todo o tempo em que esteve com as amigas. Parecia muito feliz com a corte dele, embora ele só a tivesse levado para passear duas vezes. Caroline não ousou comentar que a amiga talvez estivesse se precipitando.
O sr. Birminghan lhe enviara um pequeno buquê com um bilhete sem assinatura. Ela soube que era dele porque repetia as mesmas palavras que havia lhe dito no parque, finalizando com um simples "só depende de você".
Sentia-se cada vez mais inquieta por esse estranho interesse dele. Ainda sim, achou o bilhete encantador.
Embora estivesse aborrecida com a mãe, Caroline concordou com a ida ao teatro. Shaquespeare era sempre bem vindo. Não desejava brigar com a mãe por motivo algum, eram sempre muito unidas, esperava que a ela compreendesse e não insistisse mais no assunto do conde.
Ao chegar ao camarote suspirou ao ver que o conde estava lá. Ele a cumprimentou com sua usual gentileza e o sorriso torto que atraía o olhar de todas as damas num raio de 1 milha.
Caroline sequer olhou para a mãe quando escolheu o assento ao lado dele.
Se Georgiana West queria que a filha fizesse companhia a James Townsend, ela faria.
Sabia no fundo do coração que a mãe tinha as melhores intenções e que só queria unicamente sua felicidade. Contudo, Caroline conhecia Georgiana West o suficiente para saber que ela não media esforços para cuidar das pessoas a quem ela amava. Mesmo que isso significasse interferir diretamente na vida delas.
- Caroline, fiz algo que a ofendeu?
O conde perguntou depois de passarem os primeiros dois quartos de hora assistindo à peça, sem trocar uma única palavra.
- Não, milorde. De forma alguma.
Ela respondeu rapidamente. E então sorriu, para provar que não havia dissabores entre eles.
- Nas outras ocasiões em que nos encontramos nos tratamos pelo nome de batismo.
James se inclinou para perto dela, falando baixo na tentativa de não chamar atenção para eles nem atrapalhar quem estava assistindo à peça. Tão perto que a perna dele roçou no vestido dela e seu hálito soprou sua orelha. Tão perto que ela pode sentir o cheiro mentolado do hálito dele.
Não o cheiro de charuto ou daquele fumo das Índias que estavam e voga entre os cavalheiros ingleses. Mais um item para a extensa lista de qualidades do melhor partido da temporada casamenteira de Londres, Caroline pensou, com diversão e um pouco de exasperada.
- Tudo bem. James.
Ela se sentou mais ereta na cadeira. Esperava que o conde não estivesse com intenções de ouvir a irmã sobre cortejá-la. Ele era gentil, bem humorado e muito bonito, no entanto Caroline só pensava nele como um conhecido. Para ser honesta, pensava nele como um amigo. Sim. Ele parecia o tipo de homem que seria um amigo valoroso.
Além disso, Morgan estava apaixonada por ele e elas eram amigas.
- No baile você pareceu achar divertido que minha irmã estivesse bancando a casamenteira. Mas percebo que isso a está aborrecendo.
Ele inquiriu, ainda inclinado em direção a ela.
- No baile, você parecia aborrecido com sua irmã. Não está mais?
Caroline devolveu a pergunta.
James a encarou.
Será que ele só sabia conversar com as pessoas olhando diretamente nos olhos?
- Parece inevitável que ela faça isso,
James deu de ombros.
- Melhor que ela concentre seus esforços numa só pessoa, não?
Caroline olhou na direção do palco, fingindo prestar atenção ao espetáculo.
- Você não esperava que sua mãe fosse aderir à causa.
Não era uma pergunta e pelo visto ele também percebera os verdadeiros motivos por trás do jantar na casa Leighton.
- Acredito que terei que tirar seu nome da licença especial.
Caroline virou o rosto na direção dele sem conseguir esconder o espanto.
Apesar do tom da voz ter soado sério ele estava sorrindo. Um sorriso pequeno, um meio sorriso, na verdade. Mas, definitivamente um sorriso.
Será que ele estava flertando com ela?
- Você está brincando...
Caroline sorriu para aliviar a tensão do momento.
- Estou Caroline.
James concordou.
Ela se virou para prestar atenção ao restante do primeiro ato, mas pode sentir o olhar de James sobre ela por mais uns instantes.
O primeiro ato da peça terminou e todos aproveitaram para sair dos camarotes. O teatro estava cheio, como era típico do auge da temporada.
Georgiana e West conversavam com conhecidos. Caroline já ia se juntar a eles quando viu um cavalheiro alto de cabelos castanhos num canto mais afastado. Ele a encarou por um breve instante e sorriu. Ela sabia que não deveria, mas não resistiu ao impulso e caminhou na direção dele, falaria rapidamente, seriam apenas alguns minutos.
Afinal, Birminghan lhe enviara rosas. A boa educação exigia que ela agradecesse.
- Senhorita Pearson.
Birminghan cumprimentou levando a mão dela aos lábios. Ele sorriu e o sorriso dele parecia desafiá-la a quebrar as regras. Caroline se perguntou se não estaria facilitando muito as coisas para ele. Ela jamais tinha feito aquilo. Se esgueirar num corredor escuro do teatro para encontrar um cavalheiro. Sentia um frio no estômago, uma ansiedade causada pela certeza de estar fazendo algo que não deveria. Não era nada demais e, no entanto, era.
Três pequenos passos e ela poderia voltar para a luz e para as pessoas. Três pequenos passos que a separavam do mundo seguro das damas debutantes. Três pequenos passos que garantiam à ela aquela pequena aventura juvenil.
Sua mãe dissera mais de uma vez que ela não dava nenhuma oportunidade aos pretendentes. Que não se envolvia com ninguém. Pois bem, ela estava se envolvendo naquele instante.
- Vi que estava com o conde de Reddich. Ele a está cortejando?
Birminghan quis saber ainda segurando a mão dela.
- Ele perguntou o mesmo sobre você.
Disse ela, com um pequeno sorriso.
Ele estaria com ciúmes?
- É mesmo?
- Sim. E eu expliquei que nós nos conhecemos no baile de noivado de Elizabeth e que você me acompanhou num passeio no Hyde Parque.
Caroline respondeu com ar de pouca importância.
- Só isso?
Birminghan entrecerrou os olhos e deu um passo na direção dela.
- Sim.
A voz dela tremeu ligeiramente.
- Não havia mais nada a dizer.
Ele sorriu, aquele sorriso presunçoso novamente, enviando calor para todo o corpo dela.
- Talvez eu devesse mudar isso. Ele sussurrou as palavras, o rosto próximo ao dela.
Birminghan soltou a mão de Caroline e se aproximou mais, não deixando nenhum espaço entre os dois. Tocou seu queixo com a mão enluvada e ergueu seu rosto. Ela fechou os olhos, esperando. Ele tocou seus lábios de leve, aumentando a pressão aos poucos, ela suspirou e ele aproveitou o pouco espaço para mordiscar lhe o lábio inferior.
Mas antes que Caroline pudesse entender o que estava acontecendo, ele a soltou.
- Essa não é a hora nem o lugar.
Birminghan falou bastante sério e afastou-se dela.
Caroline o encarou sem compreender.
Até que uma risada alta vinda do salão a recordou do lugar onde estavam.
Por Deus! O que estava pensando?
Eles poderiam ser vistos. Birminghan pegou a mão de Caroline mais uma vez e fez uma reverência.
- Nos veremos no baile da duquesa de Rivington.
E com essa promessa, ele saiu pelo corredor, deixando-a sozinha com a lembrança de seu primeiro beijo.
...
Já passava muito da meia noite e Caroline ainda não conseguira dormir.
Que tolice! Perder o sono assim por causa de um simples beijo. Ela suspirou pelo o que seria a centésima vez desde que se recolhera ao quarto.
Mais cedo naquela noite, depois que o Birminghan se despediu, ela tentou agir com o máximo de tranquilidade. Permaneceu com os pais durante o intervalo. Assistiu ao restante da peça, opinou sobre a apresentação com algumas damas amigas de Georgiana. Inclusive, procurou conversar com James, como forma de se desculpar pelo modo grosseiro com o qual se comportara no início da noite e também no jantar da casa Leighton. Contudo, o conde estava bastante sério e não atendeu às suas tentativas de diálogo, Caroline achou por bem não ser inconveniente.
Quando voltou para casa, recolhida no refúgio do próprio quarto, então sim, pôde reviver aquele pequeno momento. Fechou os olhos e imaginou o rosto de Matthew e seus marcantes olhos azuis. O sorriso presunçoso que fazia o coração dela bater mais rápido.
Era uma tola mesmo! Sonhar acordada por um beijo tão rápido.
Só que Caroline nunca havia sido beijada. Até mesmo Constance que era a mais tímida entre elas já tinha ganhado o primeiro beijo. Tinha sido de um primo durante uma brincadeira de esconde-esconde, mesmo assim ela estava um passo à frente de Caroline.
Ela não saberia dizer o por quê nunca acontecera antes. Talvez sua mãe tivesse razão e ela realmente afastasse os cavalheiros.
Entretanto, Caroline não desejava concordar com essa opinião, porque para ela o certo era que até esse momento ela não sentira vontade de ser beijada por nenhum rapaz, tampouco os cavalheiros que a cortejaram. Mas Matthew despertara nela a vontade de se arriscar.
Decidira que na próxima vez que o visse o chamaria pelo primeiro nome. Ele a beijara, não havia sentido se tratarem com tanta formalidade quando estivessem sozinhos.
Ficariam sozinhos novamente?
Precisava descobrir mais sobre ele, mas sem envolver Chase nisso. Talvez um dos sócios da mãe a ajudasse, se concordassem em não contar para Georgiana. Não, nenhum deles faria isso, tinham ciúmes dela quase tanto quanto o pai dela. Ainda não queria falar com os pais sobre Matthew. Não pretendia guardar segredo por muito tempo, só por mais uns poucos dias.
Caroline se ergueu na cama, afofou o travesseiro mais uma vez e voltou a deitar. Era hora de dormir. Se Morgan estava sendo precipitada sobre o conde de Reddich, a reação de Caroline sobre esta noite estava beirando ao ridículo!  

O lado bom de um escândalo [COMPLETO]Όπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα