XX

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  - James Townsend !
- Deixe-me em paz, St. John!
- Eu roubei uma garrafa de whisky do seu escritório! – St. John gritou
James estava de pé encostado a uma árvore, observando o rio. Ele andara por quase uma hora depois que fugira de casa, como um covarde.
Quando escutou o grito de Caroline foi como se escutasse os gritos de Adélia novamente.
É algo normal no parto, todos lhe disseram.
Gritar alivia a dor da mulher, todos lhe garantiram.
Um dia inteiro de trabalho de parto e finalmente Nicole nascera. Ele estava no quarto quando sua filha foi embalada em lençóis limpos e entregue nos braços da mãe. Adélia sorriu apesar de estar esgotada pelo esforço.
Ele viu quando a hemorragia começou e quando o médico e a parteira pediram que tirassem a criança do quarto. Isabel também estava lá, ela levou Nicole para o quarto das crianças e o obrigou a ir junto. Mas James não ficou lá muito tempo. Ele voltou para o quarto, mas não havia nada que ele pudesse fazer, tampouco o médico e a parteira.
Todas essas terríveis lembranças o atingiram como um soco no estômago quando ele escutou aquele único grito de Caroline.
-Beba, James. – St. John ofereceu-lhe a garrafa tão logo chegou junto dele.
James aceitou.
Que grande covarde era. Não obstante, embriagar-se era a única maneira de conseguir passar por aquilo.
Sentaram no tronco de uma árvore e beberam. St. John não puxou conversa e James ficou agradecido pelo silêncio.
Uma garrafa de whisky depois James sentia-se tonto, enjoado e que Deus o ajudasse, tinha vontade de chorar.
- Nick
- James
- Poderia voltar para Townsend Park e ver se já terminou?
St. John permaneceu em silêncio por um momento antes de responder.
- Não. Eu não posso, James.
- Nick, eu...
St. John ergueu a mão, interrompendo-o.
- Quando a porta do quarto abrir é você quem Caroline vai esperar ver, não eu. É a sua voz que ela vai querer escutar no corredor.
- Você não entende, Nick...
- Eu entendo, James. – St. John pôs a mão em seu ombro – Tive esse mesmo medo que lhe aflige quatro vezes com sua irmã. E eu sei que para você é infinitamente pior. Mas acredite, meu amigo se algo ruim tivesse acontecido nós já estaríamos sabendo. Sua esposa está bem, provavelmente com seus filhos nos braços.
James empalideceu.
- Você disse filhos?
- Oh, esqueci de te contar. A parteira tinha certeza de que são gêmeos. – St. John deu-lhe um sorriso encorajador.
- Oh meu Deus!
James ficou de pé andando de um lado para o outro, passando as mãos pelos cabelos num gesto nervoso.
- Está pronto?
- Não!
- Vamos mesmo assim.
E caminharam de volta para casa.
...
Ao adentrar na casa a primeira coisa que James percebeu foi a ausência do sr. Carson. Não era normal que o mordomo não estivesse na sala. Ele não sabia dizer se aquilo era um bom ou mau sinal.
A resposta para as dúvidas de James vinha descendo as escadas. Uma velha senhora, que só poderia ser a parteira parou diante dele, com uma expressão aborrecida.
- Deve ser o pai. – A velha falou, e para surpresa de todos na sala deu tapinhas no rosto do conde – Sua mulher aguentou bravamente as dores que a natureza lhe impôs e pariu dois herdeiros para você e onde você estava? Homens não suportariam um único dia sendo mulher.
James não ousou contradizer à senhora. Aquela mulher ajudara a trazer seus filhos ao mundo e ela não estava de todo errada.
A parteira acompanhou uma das criadas até a saída enquanto James subia as escadas praticamente correndo.
- Finalmente! – Isabel exclamou, ao vê-lo entrar. – Meu Deus, você está horrível!
- Eu posso entrar, Isabel?
- Caroline certamente deseja vê-lo, eu no lugar dela o expulsaria. – Isabel respondeu, aborrecida.
- Obrigada por ficar com ela. – James agradeceu a irmã, ignorando a ofensa merecida.
James correu os olhos por todo quarto. A cama tinha lençóis limpos e as janelas estavam abertas. Isabel não acreditava que a claridade ou os ventos normais fizessem mal à saúde, tampouco Caroline. Tudo estava no seu devido lugar.
Caroline estava deitada na cama, segurando um pequeno embrulho em cada braço, Nicole estava sentada de um lado.
- Papai! – Nicole gritou, sendo repreendida por Isabel – Papai, não pode gritar porque assusta os bebês.
- Então falaremos baixo. – James a pegou no colo.
- Que cheiro ruim. – A menina disse, fazendo uma careta de nojo.
James riu da sinceridade da filha, sabia que seu hálito cheirava a bebida.
- Venha, Nicole. – Isabel pegou a sobrinha dos braços do pai. – Vamos procurar Suzanna para lhe dar o jantar, depois você pode voltar para cá.
Isabel saiu com Nicole do quarto deixando James sozinho com Caroline e os bebês.
- Você está bêbado?
- Sim. – ele respondeu se aproximando.
Eles se encararam em silêncio.
- Você está bem? – James conseguiu perguntar.
- Estou sim. – Caroline respondeu, séria. – Estamos bem. Já faz mais de uma hora que eles nasceram, James.
Ele assentiu.
- Eu sei que você tinha os seus motivos, eu compreendi todos eles durante esses meses, só que eu pensei que quando chegasse a hora você estaria aqui. Senão aqui ao meu lado, pelo menos em casa.
James engoliu em seco. Merecia todas as recriminações. Não havia palavras ou desculpas que ele pudesse usar, mesmo sabendo que Caroline compreenderia e o perdoaria.
Caroline estava esgotada. A parteira garantira que foi um dos partos mais simples que tinha feito na vida. Era fácil para ela falar, Caroline quem tinha feito todo o trabalho!
Estava cansada. Dolorida e furiosa. Sobretudo furiosa. Adoraria acertar a cabeça de James com a garrafa de whisky que ele tomara, seu consolo era saber que ele teria uma dor de cabeça terrível no dia seguinte.
Caroline fechou os olhos e suspirou.
- James, eu preciso descansar. Você poderia chamar sua irmã para mim, por favor?
- Claro. – Ele respondeu, contudo não saiu do lugar. – Caroline, me perdoe... Eu...
- James... Você sabe que eu já o perdoei. – Ela interrompeu, seus olhos marejados com lágrimas que ela não permitiria que caíssem – Mas eu não quero... Eu não posso ter essa conversa agora, por favor.
Ele assentiu tristemente e saiu do quarto.
Isabel veio ajudar com os bebês e James foi até a cozinha procurar algo que o ajudasse a sobreviver àquela ressaca.
Caroline estava com os bebês nos aposentos da condessa, ele não entrou novamente no quarto dela, ela merecia descansar e ele precisava ficar sóbrio, entrou no próprio quarto e foi dormir.
...
Era tarde da noite quando um choro de criança despertou Caroline. Os berços foram colocados no quarto da condessa, ela desejava amamentar os próprios filhos, assim como sua mãe fizera. Virou-se na cama para levantar-se e ver qual dos gêmeos acordara apenas para deparar-se com James já com o filho nos braços.
- Não levante. – Ele sussurrou.
Ele entregou-lhe o menino e sentou numa cadeira ao lado da cama.
O menino pegou facilmente o seio que a mãe oferecia. Embora fossem pequenos, os gêmeos eram bastante saudáveis.
James observou Caroline sorrir enquanto amamentava o filho deles e estranhamente se lembrou de um momento meses antes no jantar na casa de Leighton. A primeira vez que olhou para ela como uma mulher. Naquele dia, tanto sua mente quanto seu coração quiseram negar o primeiro vislumbre de desejo que surgia. Mal sabia ele que o desejo se tornaria um sentimento tão forte e precioso, que encheria seu coração e sua vida de felicidade.
Sentiu um aperto no peito de arrependimento por tê-la magoado.
- Caroline – Chamou o nome dela, querendo que seus olhos encarassem os dele – Sei que você disse que já havia me perdoado, mesmo assim, eu sinto muito.
- Eu sei, querido. Você não precisa explicar. – Caroline disse, mas seus olhos traziam uma tristeza que James não havia visto antes.
- Eu não queria perder você.
Caroline fechou os olhos e suspirou.
Estava magoada, pensava que James não poderia magoá-la. Que conseguiria compreender os fantasmas dele e ajudá-lo a enfrentá-los. Mas ali estava, seu coração egoísta magoado, mesmo consciente de que James não desejava machucá-la.
- Eu também não queria que você me perdesse.
-Eu não queria perdê-la também – James murmurou, baixo.
Aquela pequena frase foi o bastante para que a raiva que ela sentia se dissipasse, também foi o suficiente para que Caroline compreendesse os sentimentos de James.
Por que ele conseguia desarmá-la tão facilmente?
Ela já sabia sobre os medos dele, entretanto ela não havia refletido sobre a culpa.
Amar uma mulher e perdê-la, seguir em frente e amar mais uma vez. Não seria inesperado que a culpa o assombrasse. Essa era uma das piores marcas da perda de pessoas queridas, a culpa de ser feliz novamente.
Ergueu a mão livre para enxugar uma lágrima solitária que escorria do olho dele. James encarou a mão dela surpreso.
Ele não percebera que estava chorando?
- Não era uma escolha sua, James. – Falou, a voz firme, segurando a mão dele com força – Você não poderia prever o que aconteceu.
- Eu sei. – ele respondeu, a voz embargada - Eu estava tão entusiasmado com a criança que não pensei... em nenhum momento eu acreditei que algo pudesse dar errado. O parto se estendeu e todos diziam que era normal e eu confiei nisso... e então ela se foi...
- Oh James! Eu sei. Eu entendo.
Caroline falou, mas ele pareceu não escutar.
- Desde que você falou que estava grávida eu só podia pensar que não queria te perder ... Eu não conseguia afastar a ideia de que eu não tive medo de perdê-la...
- Meu amor, eu conheço você e eu sei que se você pudesse ter feito algo para salvar Adélia você teria feito sem hesitar. Eu acredito nisso mais do que tudo.
Ele se aproximou mais dela, com cuidado para não apertar o bebê que mamava tranquilamente, alheio a conversa que se desenrolava ao redor.
Encostou sua testa na dela e fechou os olhos, deixando que a respiração dela acalmasse a dele.
- Não sei como você consegue fazer isso?
- O quê? – Caroline perguntou, fitando-o curiosa
- Acalmar-me assim. – James respondeu, afastando o rosto do dela para poder olhá-la nos olhos – E pensar que achava você agitada demais para mim.
Caroline sorriu abertamente.
- Amo você!
- Também te amo!
E fácil assim a harmonia entre eles foi restabelecida.
- Você já escolheu os nomes? – James perguntou, mudando de assunto.
- Eu? Não é o pai quem escolhe os nomes dos filhos varões? – Caroline brincou.
- Como você fez a maior parte do trabalho acredito que esse direito seja seu. – James respondeu. A voz transmitia a leveza da brincadeira, mas seu semblante estava sério.
- Eu pensei em George, por causa de Georgiana. – Caroline falou – Não pensei num segundo nome.
- Por que não coloca o nome do seu pai?
- James, minha mãe nunca me disse...
- West, eu me referia a West.
Novamente Caroline sorriu.
Aquele homem sabia mesmo como fazê-la sorrir.
- George e Duncan. – Caroline experimentou – Teremos que amarrar fitinhas nos braços deles, são muito parecidos.
Como se tivesse reconhecido seu nome, Duncan que estava no berço começou a chorar. James se levantou para ninar o menino enquanto o irmãozinho terminava de mamar.

...
- Você deve colocar essa mão aqui.
Georgiana arrumou mais uma vez os braços de Nicole.
A menina estava sentada numa poltrona, esperando ansiosamente pela oportunidade de segurar os irmãos. Embora desde que soubera da gravidez da mãe deixara claro para todos que desejava uma irmãzinha, Nicole logo esqueceu a tola exigência e se rendeu de amores aos bebês.
Passara a última semana implorando para pegá-los no colo, tendo ouvido apenas negativas da parte de seu pai. Mas tão logo Georgiana e West chegaram, a menina retomou o pedido, sendo prontamente atendida pelos avós.
Caroline observava a cena sentada no sofá.
Seu pai segurava Duncan que dormia tranquilamente e James segurava George, que estava acordado. Ele ainda tentara argumentar que deveriam esperar mais alguns dias, até que os bebês estivessem maiores, entretanto o olhar que Georgiana lhe lançou o fez calar-se.
Georgiana pegou George dos braços de James e colocou nos braços de Nicole. A menina parecia não respirar. James não saiu de perto mesmo vendo que a sogra não soltara o bebê.
Depois foi a vez de Duncan que permaneceu dormindo durante a pequena aventura.
- Viu papai. – Nicole falou – Eu disse que sabia segurar os bebês!
- Tem razão, querida. – James concordou, sorrindo.
Caroline sorriu mais uma vez observando a cena. James ergueu a cabeça, encontrando seu olhar e estranhamente outra cena lhe veio à memória. Meses antes, em um jardim. Quando ele lhe garantia que ficaria tudo bem e ela acreditara. Deixara-se acolher nos braços dele, sentira tanta segurança enquanto ele a consolava.
E pensar que teve tanto medo de um escândalo para encontrar a felicidade justamente por causa de um.
Ele caminhou até o sofá sem tirar os olhos dos dela. Sentando ao seu lado, tomou sua mão, beijando-lhe a palma.
- Te amo. – Caroline sussurrou.
- Te amo. – James sussurrou em resposta  

O lado bom de um escândalo [COMPLETO]Where stories live. Discover now