Capítulo 13

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Naquela semana voltei à faculdade. Na segunda cedinho, chamo o Tomás e aviso que o segurança dentro de sala não entra mais.

- Mas senhor...

- Tomás, não quero mais ninguém na sala comigo e acho que só um na porta, vamos tentar com um e depois voltamos a conversar. Se quiser deixar mais algum no carro é com você.

- Senhor, tenho ordens de sua mãe.

- Estou mudando essas ordens, Tomás.

Naquele primeiro dia, claro que todos na sala estranharam a falta do segurança e estava com uma tala no nariz, que apesar de não ter quebrado foi imobilizado pelo médico.

O primeiro professor a entrar me vê na sala e vem falar comigo.

- Bom dia, está tudo bem rapaz? Estava no exterior de novo? Assim vai prejudicar seus estudos, já está quase acabando, só mais um pouco de paciência.

- Não, senhor - digo falando com ele, mas vejo que todos estavam atentos. - Sei que meus pais disseram que viajei, mas na verdade fui sequestrado, é que precisavam manter a imprensa afastada. - E ouço um burburinho. Alguns ali já haviam tido algum parente ou amigo nessa situação.

- O que foi isso no seu nariz? - Ele pergunta.

- Um sequestrador de 2 por 2 me sentou a mão, mas antes de casar sara - digo brincando.

- Deixe ver se entendo - ele diz - sempre teve segurança ostensiva, logo depois de um sequestro, ela diminui? Eu entendi direito?

- Sim, fiquei tanto tempo preso que tive tempo para entender que aquilo tudo era um grande exagero. E também vou fazer os trabalhos em grupo, se algum grupo me aceitar - digo um pouco mais alto olhando para a classe. Logo um rapaz, bonito umas duas cadeiras atrás, pula para a cadeira vazia logo atrás de mim e me estende seu braço.

- Sou Pietro, tem um lugar no meu grupo.

- Obrigado - digo sorrindo, aceitando sua mão, oferecendo a minha.

- Meu irmão foi sequestrado tem uns dois anos, é barra né? Posso te emprestar meu caderno ou revemos a matéria juntos - diz uma garota lourinha na fileira ao lado e aquela semana, devagar, fui sendo aceito pela sala.

Toda hora um chegava perto e falava algo comigo. Perguntavam sobre o sequestro, sobre minha vida.

Cheguei uma manhã e tinha um bombom sobre minha cadeira. Comi devagar e ao terminar levanto a mão com o papel e agradeço em voz alta. Mais tarde recebo um bilhetinho que havia sido passado de mão de mão, onde pude ler:

"De nada, lindeza", definitivamente uma letra masculina.

Aquilo nunca teria acontecido com o segurança nas minhas costas. Pode parecer tolice, mas jamais havia recebido um único bilhetinho, me senti parte de um grupo, pela primeira vez em muitos anos.

Me enturmei rapidamente com o grupo do Pietro, infelizmente hétero e com uma namorada super simpática, nem tudo podia ser como em meus sonhos. A garota, que ofereceu o caderno, a Fernanda, também fazia parte do mesmo grupo, no intervalo, pedia a um dos seguranças para comprar algo para nós e ficávamos conversando. Cheguei a tomar uma cerveja no bar, ao lado da faculdade, claro que tinham dois seguranças na mesa conosco, mas estava adorando aquela novidade, toda aquela "liberdade".

Mamãe veio conversar e tentar me convencer a voltar com os seguranças.

- Mãe, essa fase acabou, no ano que vem estarei fora do país fazendo meu mestrado, está na hora de aprender a viver.

- Vou pedir para pesquisarem sobre o pessoal do seu grupo - ela diz.

- Não precisa mãe, mesmo que ache alguma coisa teremos que estudar juntos então não gaste tempo ou recursos com isso. Irei à casa do Pietro na sexta - digo para o Tomás - acho que dois seguranças são suficientes. Ah também vou trazê-los aqui no próximo trabalho, preciso de mais dois computadores na sala de leitura, coloque-os em rede Tomás.

O Refém (livro gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora