Capítulo 23

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Beija-Flor e eu passamos a nos ver sempre depois daquele dia. Não importava o que Tomás dizia, a gente sempre arrumava um jeito. Acho que quando as pessoas querem algo de verdade, ela encontra uma maneira, mesmo que seja contra todas as possibilidades. Quem fica arrumando desculpas é porque não tem interesse.

Aprendi muito com ele, e uma das lições mais interessantes e proveitosas foi que as noções de certo e errado não variam somente de uma cultura para o outra, variam de uma pessoa para a outra.

Uma vez fiz um comentário, ele deitado em meus braços após uma gozada espetacular dos dois. Estávamos deitados na hidro e ele, apoiando seu corpo para pegar uma geladinha na lateral, escorregou o joelho, eu o segurei antes que afundasse sua cabeça e engolisse alguma água.

- Vou pedir para colocarem algum tipo de console mais baixo, semana passado seu rapaz, o Simão escorregou também - falo e fico sem graça ao falar de outro homem para ele e ele percebe.

- Que foi? Parece menino que fez arte, ficou vermelhinho - ele brinca chupando meu mamilo.

- Não se importa que eu mencione outros homens? - Pergunto olhando seus olhos incrivelmente azuis, e aí fiquei realmente sem graça quando me dei conta, ele não era nada meu, nem namorado, nem companheiro, não havia mesmo porque ele se importar.

Beija-Flor se vira me virando junto e me deitando em seus braços. Levanta meu corpo, esticando os braços, e me olha. Eu estava completamente sem lugar.

- Meu príncipe, sou capaz de jurar que pensou merda. Quase fedeu, diga seu último pensamento - ele pede sério.

- Não há porque se incomodar, não somos nada um do outro, não temos nada, por que iria se importar com quem me deito? - E sinto a primeira lágrima escorrer.

Ele usando seus braços me põe sentado na beirada e sai da hidro.

- Eu devia te porrar, seu filho da puta - ele diz bravo, pegando uma toalha e começando a se secar.

Olho surpreso para ele, estico meu braço tentando tocá-lo, e ele bate em minha mão forte, um tapão mesmo.

- Não me toque - posso ouvi-lo dizer, e sai do banheiro indo até meu quarto onde estão suas roupas. Eu chego rápido e o abraço por trás, molhado.

- Cara, vamos conversar, não sai assim, não me deixe assim - digo e ele se vira, encarando meu rosto coberto de lágrimas. Posso ver seus olhos escurecendo. Incrível, o azul já havia desaparecido.

- É isso que você pensa? - ele pergunta apertando meu pulso. - Nada, não temos nada? - ouço sua voz alterada.

- Não, eu não penso assim, só tenho medo de que você pense assim, penso em você todos os dias, anseio pelos momentos que possa estar comigo...

- Então por que disse uma merda daquela? - Ele me interrompe soltando meu pulso e se sentando no sofazinho.

- Porque você me deixa confuso, você diz que me ama e quando ligo até escolhe o melhor amante para mim. Se não pode me ver, manda alguém em seu lugar. Hoje sugeriu que poderia vir com alguma garota e que poderíamos fazer uma festinha juntos. Não sei o que pensar, às vezes tenho medo de que esteja só se divertindo com seu principezinho tolo e apaixonado.

Ele pega a toalha que usava, se aproxima de mim e seca meu rosto.

- Você está apaixonado por mim?

Eu o abraço e só balanço a cabeça, concordando. Nossos lábios se buscam, seu beijo é doce; apaixonado seria a melhor palavra. Seus braços me envolvem carinhosamente, como um ninho. Ele vai me levando até minha cama e nos deitamos nela, ele nos cobre e ficamos abraçados algum tempo.

O Refém (livro gay)Where stories live. Discover now