0.2

16.1K 1.5K 1K
                                    




- O nome dela é Lalisa Manoban. Ela é uma pessoa ótima, mas é bastante reservada, principalmente quando se trata de estranhos, portanto não estranhe se no começo ela se isolar um pouco. - falou Chaeyoung do outro lado da ligação. Estava tentando conhecer um pouco a garota com quem provavelmente iria morar, não podia ir para lá sem saber ao menos seu nome.

- Então ela não gosta de gente, é isso?- ouvi risos do outro lado da ligação.

- Não sua boba, Lalisa tem seu jeito. Mas ela nunca trataria mal ninguém, muito pelo contrário, é uma das pessoas mais educadas e gentis que conheço, ela só precisa que você mostre pra ela que ela pode confiar em você. Só não vá esperando uma amiguinha para ir no jardim contar borboletinhas, por quê Lalisa não faz esse tipo.

- Então ela é selvagem, é isso?- falei apenas para provocar Chae, me abrindo na risada.

- Vai se ferrar, Jennie.- Chae também ria do outro lado da linha. - Só sei que com esse seu jeito de garotinha que ainda brinca com bonecas, Lalisa vai querer te esganar assim que você abrir a boca.- agora foi sua vez de zombar de mim.

- Ei, eu não brinco com bonecas... não mais. E para de ser exagerada, por quê eu sou mais madura que você.- rimos um pouco. Sim, a maior parte de nossas conversas eram risadas, o que me fazia amar aquela companhia.- Bom Chae, preciso desligar, pedi o táxi até o apartamento faz um tempinho e ele vai chegar a qualquer momento. Eu te amo, chatinha, até mais tarde.

- Até mais, chatona, também amo você.

Revirei os olhos e balancei a cabeça enquanto ria, depois de alguns instantes desliguei a chamada e desci até a calçada, pronta para pegar o táxi que chegaria a qualquer momento.

🍂

Assim que saí do táxi, avistei um prédio chique, alto e imponente, me fazendo tremer ao pensar em qual andar a garota morava. Poderia ser o mais alto, para meu azar. Bom, como tenho dois pés esquerdos, isso não seria uma novidade para mim. Só de imaginar já me dava calafrios, eu com certeza morro de medo de altura. Fui retirada de meus devaneios aleatórios quando uma voz chamou meu nome bem a minha frente.

- Jennie Kim?- uma menina alta dos cabelos ruivos vinha em minha direção com uma das mãos para me cumprimentar, e consegui ser capar de detectar um sorriso meio forçado em seu rosto. Bom, ou talvez fosse apenas uma impressão minha.

- An... olá. Sim sou eu.- apertei sua mão.- Lalisa? Lalisa Manoban?

- Sim. - ela fez um sinal rápido para que eu a seguisse, e assim o fiz. - Vem, vou te mostrar o apartamento.

Entrei impressionada com o hall de entrada do prédio, era incrivelmente lindo. Grande, com vários sofás, um balcão de atendimento comprido e do outro lado uma cascata de água sobre a parede. Olhava para cada detalhe com um sorriso no rosto, talvez como uma criança de cinco anos quando chega em uma loja de brinquedos. Chae tinha razão, às vezes eu me comportava como uma criança. Bom, o que eu poderia fazer? Vim de uma família bastante humilde e não sou acostumada com coisas tão requintadas assim no meu cotidiano. Do fundo perto dos elevadores vi Lalisa me chamando, parecendo impaciente. Ótimo, já comecei bem irritando a proprietária.

- O elevador chegou, entre.- senti a palma de sua mão segurar de leve minha cintura e me conduzir para dentro da cabine metálica.

- Obrigada.- pude ver um sorrisinho indiscreto pairar em seu rosto. Não entendi o motivo dele e como costumo ser curiosa, não me contive.- O que houve?

Ela pigarreou e balançou a cabeça.- Não houve nada. Apenas estranhei seu comportamento no hall, achei interessante.- a garota se virou para frente e eu também, mas alguns instantes depois, tive quase a certeza de que poderia sentir o olhar de Lalisa sobre mim. Não podia olhar para confirmar, pois criaria um momento tenso ali, então decidi apenas ignorar o assunto.

Assim que pus os pés para fora do elevador sorri em descrença ao ver o número do andar no qual a garota morava. Décimo primeiro. Uau, eu realmente tenho dois pés esquerdos.

Quando chegamos ela abriu a porta do apartamento e deixou que eu entrasse e explorasse cada detalhe dele. Pude ver meu quarto que por sinal era maior do que eu imaginei. A cama era enorme, e a vista da janela era linda.

Eu ouvi a garota ruiva me chamar de outra parte da casa e vi que a mesma estava na varanda, que parecia ser enorme, mas fiquei parada onde estava.

- Por quê não vem ver?- ela estranhou, pois eu continuava parada.

- An? Ah, não é que... eu não gosto muito de... sabe? Lugares altos.- revelei sem graça e notei aquele sorriso do elevador em seus lábios outra vez. O que ele queria dizer? Ela estava debochando de mim, talvez?

- Ah entendi.- ela se afastou da varanda e caminhou para dentro.- Pelo menos não sou eu quem vai perder essa vista maravilhosa.- disse passando por mim e tentando me fazer 'inveja'.

- Acho que posso viver com isso.- sorri sem humor e a outra não respondeu, para meu alívio. Sua presença não era das melhores, digamos que talvez um pouco... desconfortante. Observei suas costas magras cobertas por seu blazer preto quando me virei e comecei a segui-la pelos outros cômodos da casa.

Continuei meu percurso pela casa, me encantando com cada coisa que via. A sala foi a primeira que vi ao entrar, era realmente enorme. Havia uma televisão de última geração grudada à parede, um sofá comprido e com um formato de L em frente à televisão e com uma mesinha de centro no meio, além da mesa de jantar que ficava no mesmo cômodo e tinha lugares que nem usaríamos, já que seríamos só nós duas. Isso se eu quiser dividir o mesmo ambiente por um tempo indeterminado com essa mulher... nada legal. A cozinha não ficava por baixo do resto do apartamento. Era ampla e os armários eram todos cor de madeira escura, a geladeira de duas portas ocupava boa parte da metragem do cômodo, e ainda havia um mármore no meio da cozinha para uso múltiplo. Os banheiros eram grandes e havia um em meu quarto e outro no quarto dela que ficava com a porta em frente à minha. Sorri ao ver uma banheira lá, eu iria fazer questão de nunca mais tomar banho de chuveiro. Acho que não precisava mais de nada, aquele lugar era ótimo, mas não sei se encontraria condições de ajudar a pagar as despesas daquele 'mini-palácio'.

A ruiva deve ter notado meu rosto de preocupação ao pensar na situação econômica.

- Olhe, se o dinheiro for problema não quero que se preocupe, tudo já está nos conformes e não vai precisar franzir a testa.- disse apontando para minha testa e notei ser o primeiro comentário dela sem ser sarcástico ou desconfortante. Mas ela logo ficou séria novamente, aquilo com certeza era estranho. Lalisa deveria sofrer de um certo transtorno de bipolaridade.

- Eu me decidi, e vou ficar.- me pronunciei animadamente.

A garota não demonstrou muita animação, mas me deu a devida atenção com a assinatura dos documentos. Me mudaria no dia seguinte e moraria ali a partir de agora. Espero que as coisas deem certo, e se minha convivência com Lalisa não fosse maravilhosa, que pelo menos fosse tolerável. Eu iria tentar me esforçar para que isso desse certo, não queria ter que voltar para casa dos meus pais e engolir minhas palavras.

That's the way it is Where stories live. Discover now