Capítulo 9 Vergonha

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Adriana/Bianca

Quando escuto a proposta dele é que minha ficha cai. Deus ele me viu daquele jeito. Estou perdida em minha vergonha quando ele apoia os braços na mesa e em um tom mais alto pergunta:

-Já decidiu Docinho? -Minha vontade é sumir daqui, mas não posso perder todo esse dinheiro.

-Eu aceito, mas preciso saber das regras.

-Não tem regras. -Estou na merda, mas preciso saber de algumas coisas.

-Tem sim, sempre tem.

-Vamos fazer assim, o que você não faz por dinheiro? -Cretino.

-Não transo a três.

-Só isso que você não faz?

-Também não transo sem preservativo.

-E você por acaso acha que eu vou foder uma prostituta sem camisinha? Acha que sou louco mulher?

Quando penso que estou no fundo do poço, ele me afunda mais um pouco.

-Não, mais é melhor deixar isso bem claro.

-Okay, é apenas isso ou a Docinho quer falar mais alguma coisa? -Nossa! Que ódio desse babaca.

-Sim, o dinheiro é adiantado e assim que eu recebe-lo vou até minha casa buscar minhas coisas, e eu não aceito porrada. -Ele me olha com uma certa angústia.

-Nunca te bateria, me passe sua conta, e não precisa trazer nada, comprarei tudo que você precisar.

-Por mim tudo bem, desde que não desconte do meu dinheiro depois, mas mesmo assim vou ter que ir em casa, não tenho conta em banco e lá que guardo meu dinheiro.

O tempo todo nossa conversa foi olho no olho, enquanto isso eu só queria encontrar em seus olhos um pouco da paz que um dia eu achei ali, porém só enxergo raiva.

-Por que não tem uma conta no banco?

-Minha vida particular não te intereça.

-Verdade, desde que você seja exclusivamente minha por dez meses.

-Só mas uma coisa.

-Fala.

-Apesar do que você presenciou eu não sou prostituta.

-A profissão mais antiga do mundo mudou de nome? -pergunta gargalhando.

-Babaca.

-Nem vou devolver o insulto, já que você não é puta. -debocha.

Sem me controlar avanço pra cima dele, mas antes que minha mão bata em seu rosto ele a segura forte e me puxa. Bato de encontro ao seu peito, estou ofegante olhando em seus olhos e mesmo com ódio e magoada de alguma forma absurda, me sinto segura. Completamente sem noção do que estou fazendo, fecho meus olhos. Sinto sua respiração também ofegante próxima aos meus lábios, passo a língua nos lábios ansiosa pelos seus, ele para.

Abro os olhos.

-Não sabia que prostituta beijava. -Falando sorrindo, ele me solta e se afasta.

Mais envergonhada ainda, abaixo minha cabeça, mas logo depois a levanto. Pode ser loucura da minha parte, mais eu vi algo bom no fundo dos seus olhos, afasto a loucura e pergunto:

-Vai pagar agora ou eu estou despensa?

-Quer receber agora ou quer dar o fora? -Eu só queria sumir, mas não posso.

-Receber.

-Otimo.

Ele se afasta, tira um quadro da parede, me viro de costa para ele até ele me chamar.

-Toma, confira por favor.

Para irrita-lo, me sento e conto bem devagar.
É uma puta que ele quer, é uma puta que ele vai ter.

-Muito obrigada gato, posso ir em casa ou já quer que eu tire a roupa?

-Vou chamar o motorista para você. -Não respondo nada, não sei que merda estou fazendo e nem se vou conseguir deixar meus traumas no passado. Não tem essa, eu preciso desse dinheiro e pronto.

-Pode descer. -me avisa minutos depois.

-Obrigada.

Saio sem olhar para trás, entro no carro muda. A viagem parece demorar mais do que o normal. quando paro em frente ao meu prédio, o motorista me avisa que eu tenho trinta minutos para retornar,  balanço positivamente minha cabeça, entro no prédio e mas quando eu fecho minha porta, sinto uma dor apertando meu peito e sem controle algum eu choro.

Mas meu choro é pela vida que eu poderia ter tido ao lado do Lucas, por algum motivo encontrar Luke, me fez lembrar de tudo isso. Não que um dia eu tenha realmente esquecido. Lucas foi o único que realmente me amou incondicionalmente, eu fui tão cruel e mesmo assim ele ainda voltou. Se eu tinha dúvidas se era ele naquele shopping ela acabou quando seus restos mortais foram achados nos destroços daquele maldito acidente. Aquele acidente mudou minha vida.

Com ele morreu meus sonhos. Somente consegui ser forte porque eu tinha que cuidar do meu príncipe, e quando eu já não tinha forças, nasceu minha princesa Flavinha. Eu juro com a minha alma que se não fosse por meus filhos, eu já teria me encontrado com Lucas. Não sou louca! Eu sinto em minha alma que ele está esperando por mim.

Sem conseguir parar de chorar viro meu sofá e guardo o dinheiro no fundo. Não esquecendo de colocar o mínimo na gaveta com chave da minha cômoda. Não preciso separar nada. Sempre tenho uma pequena mala pronta.

Depois de respirar e me acalmar, percebo que dez meses não serão nada comparados aos anos que vivi com aquele lixo. Tomo um banho rápido e antes de sair passo na dona Solange. Deixo uma cópia da minha chave com ela e passo o meu número de celular. Ela vai cuidar da minha  menina, menina é a minha gatinha amiga e companheira, nesses dez anos de fuga.

Mesmo odiando o jeito como ele me tratou esse dinheiro será finalmente o meu passaporte junto com meus filhos para fora do Brasil, e mesmo tão ferida e humilhada eu ainda consigo me sentir grata ao mesmo tempo que me sinto confusa. Por que um homem daquele resolveu pagar por sexo e justo para mim?

Luke

Passo as mãos incansavelmente em meu rosto.

Deus! Como eu queria que ela tivesse me mandado engolir o meu dinheiro e saído daqui de cabeça erguida. Mas não, ela quer dinheiro. Sempre foi dinheiro. Por dinheiro no passado ela me deixou e por esse mesmo dinheiro ela hoje me aceitou.

Como ela pode imaginar que eu seria capaz de agredi-la? E aquela maldita boca? Ela estava esperando ser beijada. Que piada! Nunca mais derei a ela a chance de dizer que me beijou por pena.

Por que minha Bianca se transformou numa interesseira? Será que ela sempre foi assim e eu nunca enxerguei isso? Será que o amor de adolescente me cegou tanto assim?
Por que eu não paguei apenas uma maldita noite?

Eu não posso passar dez meses ao lado dela. Se bem, que logo voltarei para Nova Iorque. Por que não me lembrei dessa porra antes? Por que me meti nessa merda? É só estar perto dela, que eu me transformo novamente naquele bobo da corte. Não. Dessa vez vai ser diferente, até porque, aquele cara apaixonado morreu naquele shopping center.

Eu poderia até ter esquecido que ela era uma interesseira, mas nunca o que ouvi de sua maldita boca.

O sol já nasceu faz tempo. Tomo um banho e solicito café para dois. O motorista me mandou mensagem dizendo que já estão chegando e eu confesso que não tenho a mínima ideia de como vou agir com ela.

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💋beijo da Aline💋💋.

Como ela me mudou. 🔞 Where stories live. Discover now