3- Location

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“A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar.”
– Sun Tzu

  Depois de largar toda aquela maquiagem e roupas extravagantes de dançarina, finalmente retornei ao meu lar

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  Depois de largar toda aquela maquiagem e roupas extravagantes de dançarina, finalmente retornei ao meu lar. Chicago. O patriotismo é perceptível em todas as casas que erguem suas bandeiras americanas em um mastro cheio de devoção e paixão.

  Antes de ir para casa, resolvi visitar minha irmã Keyla e meu sobrinho Chad. Os dois moram numa zona periférica, no Hyde Park. A criminalidade e a violência são aspectos desse lugar. Gostaria de partilhar refeições e meu apartamento aconchegante mas Keyla se negara a usar meu dinheiro "sujo", ela é a única parente que tenho e a única pessoa que realmente me conhece. Bato na porta três vezes e espero paciente depois de dispensar o taxista que cobrou mais de cem dólares só para vir até esta localidade.

— Quem é? — ouvi a voz familiar de Keyla quase berrar, na tentativa de sobressair o som alto da televisão.

— Sou eu, Keyla — sorri mesmo que ela não veja e seguro a minha mala. Após alguns segundos escuto a porta ser destrancada e um garotinho correr em minha direção.

— Tio Tom, sentimos sua falta. — Chad passou correndo pela mãe e enlaçou minhas pernas em um abraço.

— Ei garoto, desse jeito nós iremos cair — sorrimos e ele pulou em meus braços, Keyla sorriu também, abriu mais a porta e pôs a cabeça para fora rapidamente, para olhar se alguém notara a minha presença.

— Por onde esteve? Faz tempo que nos vemos. Quer beber alguma coisa? Mamãe fez limonada. Você vai dormir aqui, tio? — os olhos verdes do garoto de oito anos brilhavam esperançosos, então, não pude resistir.

— Sim. E iremos assistir aquela boa e velha partida de futebol americano. Exceto, se a patroa não deixar. Deixaaa? — Chad e eu fizemos um coro puxando o "a" e completando com uma carinha de anjo.

— Se fizerem bagunça, vou arrancar as orelhas de vocês. — Keyla revirou os olhos e sorriu.

  Após comermos pizza e conversamos sobre diversos assuntos, Chad finalmente nos deu um descanso e foi assistir desenhos animados. Keyla fez um aceno de cabeça e balançou um maço de cigarros. Era assim que nossas conversas começavam.

— De onde você veio desta vez? — ela foi direto ao ponto, logo após acendeu um cigarro e dar uma leve tragada.

  Observei o uniforme de garçonete e o cabelo cacheado dela sendo domado por um boné com logotipo da empresa.

— Brasil — respondi sem interesse e dei uma longa tragada antes de soprar toda a fumaça e observar a inquietude da vizinhança.

— Tony, quando você vai parar com isso? Quando vai ter uma vida de verdade? Filhos, uma mulher ou talvez, um homem... Não sei. Quando haverá felicidade em seu semblante triste? — Keyla fitou-me com aqueles olhos verdes penetrantes e relaxou a tensão em seus ombros rapidamente.

— Keyla, você sabe que não sou digno do amor de ninguém. Não posso amar, nem ser amado. Sou uma máquina de morte e destruição. Escolhi um caminho que só eu posso trilhar — fitei o céu de poucas estrelas e suspirei fundo. — Eu já tenho tudo o que preciso. Você e o Chad.

  Keyla abriu os braços e seus olhos estavam marejados quando meu corpo se uniu ao dela num abraço forte. Minha irmã e meu sobrinho são a única família que tenho.

— Eu te amo, irmão. Mas não posso trilhar esse caminho com você. Temo pelo meu pequeno, não quero que ele seja como o pai. Quero dar uma vida digna, repleta de amor, carinho e muita honestidade. É difícil ser mãe solteira, principalmente pobre. Mas eu não vou desistir de dar tudo que ele merece, mas não da forma que você espera. Sinto muito.

  Nos afastamos por alguns segundos e segurei em suas mãos levemente ásperas de tanto trabalho árduo.

— Tudo bem, querida. Se eu tivesse um filho, irei pensar o mesmo que você. Sempre vou amá-los da mesma forma, e sempre irei te apoiar em tudo. Mas quando precisar de mim, para qualquer coisa, é só me ligar. Farei tudo por vocês. Tudo, Keyla.

— Até mesmo aquela sua lasanha à bolonhesa? — a morena sorriu e deu um leve soco em meu braço. — Não me prometa tudo, rapaz.

  Sorrimos e escutamos a voz de Chad nos chamar pois outra partida havia começado. Todos nos apertamos num velho sofá e por um minuto pensei que minha irmã tinha algo que meu dinheiro jamais poderia comprar: dignidade. A casa de Keyla não tinha luxo, mas ainda assim era um lar, de uma mulher sofrida e de uma mãe que fora abandonada ao descobrir a gravidez. Keyla era uma guerreira, assim como tantas outras.

  Após uma emocionante partida e ver nosso time acabar perdendo miseravelmente, fomos dormir, mas não tão tristes pelas derrotas pois no fundo, estarmos juntos era o que importava de verdade. Chad acabou dormindo em meus braços, levei o garoto até o seu pequeno quartinho cheio de fotos de jogadores e observei que em sua cama estava a bola que eu havia dado em seu aniversário.

  Sorrio ao observar todo o carinho que ele tinha com as pequenas coisas e pela simplicidade de tudo aquilo. Keyla sorriu antes de fechar a porta e apagar a luz. Ela me entregou um travesseiro e um lençol para que melhorasse minha acomodação no sofá.

  Tentei dormir mas como sempre minha mente estava barulhenta e não me permitia fechar os olhos. Suspirei fundo e verifiquei a hora, tirei mil dólares da minha mala e deixei em um envelope na porta do quarto dela.

"Se não for usar o dinheiro, ao menos doe para a caridade." - T.

   Torço para que no fundo ela aceite, pois sei que precisa. Abro lentamente a porta do quarto de Chad e silenciosamente me despeço do pequeno. Desço as escadas e pego minha mala, aciono um táxi do bairro que logo após tentaria me roubar, mas não antes que eu quebrasse sua mão e o desarmasse.

  Chego até meu prédio, após acionar outro táxi, cumprimento o porteiro e sorriu antes de adentrar no elevador e ir para o meu solitário apartamento. Amanhã seria um dia diferente e meu restaurante "Petals & Flowers" me aguardava. Muitos não entendiam o conceito do nome, mas havia um significado próprio. Dediquei o nome à todas as flores que mesmo com suas pétalas arrancadas, não deixaram de acreditar que poderiam ser belas novamente.

  Após adentrar em meu apartamento e sentir aquele cheiro familiar, jogo minha mala no chão, fecho a porta e deito no sofá vermelho. Lar, doce, lar. Depois de refletir se dormiria ou não no chão, observei um pacote em cima da bancada da cozinha.

De novo?

  Suspirei fundo e pensei em descansar por alguns segundos, mas a curiosidade foi maior. Rasgo o lacre sem cerimônias e observo o dossiê com as informações da encomenda.

Destino: Magnificent Mile
Alvo: Bella Gonzalez
Recompensa: 1 milhão de dólares


— Caralho... — é tudo que consigo dizer ao ler o valor. Em cinco anos como assassino profissional de aluguel, nunca houve um valor tão alto. O que essa mulher havia feito de errado? E com quem? Isso eu descobrirei em breve.

Hard To Resist | CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora