Capítulo IX Parte II

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Newton um cão, ou melhor um projeto de cão, estava aos saltos no corredor tendo como alvo de suas afeições a Sra Sheffield, e esta não pareceu em nada satisfeita com tais atenções. Um corgi não poderia parecer menos ameaçador com seu sobrepeso evidente e sua predileção a brincadeiras. Tudo aconteceu muito rápido: em um momento estávamos reunidos nas formalidades esperadas em uma visita e no outro eu estava tendo os dedos esmagados pela Srta Sheffield ao colocar a guia em seu cão para um passeio.Temo que fui enredado, pois ela foi muito eficiente em fazer-me aceitar ou melhor, nem ter a capacidade de retrucar sobre o passeio com sua enteada.Não que não houvesse gostado de prolongar os momentos de martírio de Kate, óbvio.

Já com seu cão na guia e caminhando ao meu lado nos dirigimos ao Hyde Park, com qualquer outra dama o passeio seria normal e tranquilo, mas com ela começo a perceber que é tudo diferente. Foi assim no baile onde fomos apresentados, sincera, sarcástica e direta- não seria diferente em público. Observá-la mais de perto, a luz do sol proporciona uma imagem mais clara, suas feições estão mais límpidas, e muito mais interessantes, até mais do que gostaria de confirmar. Quando levantou seu rosto para os raios solares, perdi o compasso por um tempo, senti os dedos formigarem para tocá-la, cheguei a fazê-lo, confesso não da maneira que gostaria, mas levando em consideração onde estávamos foi um toque que me pareceu mais íntimo que um simples ato cavalheiresco.

Estávamos mantendo uma conversa amena até que o cão começou uma corrida, animado possivelmente com tudo que via a sua frente, e lutando fervorosamente com aquilo que o mantinha cativo. Esse foi o prenúncio do caos, mas nem em meus maiores delírios poderia conceber tudo o que se seguiu, relembrando os fatos, a sequência destes se tornam ainda mais degradantes.

Corremos feito desesperados atrás da criatura endiabrada, a Srta Sheffield não estava mais se importando com o decoro e lançou-se a correr e gritar tentando alcançar o cão, definitivamente para dizer o mínimo, impertinente. Um pouco desalinhada, e ofegante, ao me deparar com ela, fui assaltado por um desejo que não deveria sentir por minha futura cunhada. Isto é extremamente desconcertante, dado a sua inclinação a detestar-me, desaprovar minha relação com sua irmã e tudo o mais. Persegui aquele demônio com pelos, e percebi que o pior estava por vir, quando Kate alertou-me sobre a presença de Edwina à beira do Serpentine. Uma certeza atravessou-me: o cão diabólico iria atirar-se em cima da pobre moça, é claro, isso se confirmou, tentei gritar, alertá-la, mas obviamente de nada adiantou, seu destino estava selado.

Berbrooke aquele parvo ficou olhando para Edwina sem tomar nenhuma atitude, creio que seu cavalheirismo se perdeu junto com seu cérebro em algum lugar entre o seu nascimento e a vida adulta. Tomei as rédeas da situação e tratei de retirá-la da água, ela não estava nem de longe parecida com o diamante da temporada. E obviamente eu não estava muito digno naquele momento, fervendo de raiva, incrédulo e a ponto de cometer um assassinato, ainda tive que lidar com as impertinências da Srta Sheffield, aquela que estava seca e com a língua ainda mais afiada.

Se mamãe nos visse naquele momento, iria se envergonhar, pois despejei toda a minha fúria nela, e ela respondeu-me! Onde estão os bons modos, e as moças contritas e obedientes? Em que ponto da história da sociedade se perderam as regras que uma dama não deve passear com cães que não podem controlar? E onde diabos elas aprendem a ser tão insuportavelmente inteligentes e desafiadoras? Argh já não estou mais escrevendo com clareza. Fervendo de raiva ela conseguiu algo que jamais imaginei: ficar ainda mais atraente, em algum ponto de nossa discussão esqueci de sua irmã ali toda molhada, essa dama é um perigo a sociedade tal como conhecemos.

Para completar a minha ira, e o desejo assassino que corria em minhas veias, ela ordenou ao cão que se sacudisse aos meus pés, ou seja,eu que já estava um pouco, fiquei completamente molhado pela água suja do Serpentine! Fiz algo condenável- mas que no momento não me importei muito- estiquei a mão para o seu pescoço, queria matá-la. Sabiamente escondeu-se atrás de sua irmã, obviamente não levaria a cabo, mas que sua atitude me deixou louco, isso com toda a certeza.

Estabeleci o que deveria ser feito, e levei a senhorita Sheffield certa para casa, afinal ela estava completamente molhada. Nosso caminho até sua residência foi pontuado por uma conversa amistosa, completamente diferente do que é uma conversa, ou melhor, um embate com a Srta Sheffield errada. Voltei para casa desejando um banho de imersão e um pouco de paz, aquela mulher tem o poder de promover o caos. E seu cão é uma aberração, se eu fosse seu dono as coisas seriam diferentes, completamente diferentes, se ela fosse a Srta Sheffield certa, eu a colocaria sob rédeas curtas, e poderia calar aquela boca espirituosa de diversas maneiras muito interessantes e prazeirosas... De onde saiu isso? A água do Serpentine deve ter afetado meus miolos.

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