Capítulo XXII

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Em algum momento entre a sobriedade e a alta alcoolemia, o sono venceu-me e o que aconteceu durante o mesmo assustou-me.

Pela primeira vez em muitos anos de minha vida adulta sonhei com papai (...)

Em Aubrey Hall andávamos lado a lado pelos campos próximos as casas de nossos arrendatários, conversávamos como sempre fazíamos quando estávamos a sós. Porém eu não era uma criança ou um jovem, eu era adulto.

- Meu filho você precisa estar preparado para suas responsabilidades, e quando digo isso, obviamente não me refiro apenas as obrigações do título.

Meu estarrecimento diante de sua fala, não passou despercebido.

- Meu Pai, ainda terei muitos anos para pensar em tais assuntos. Não pretendo casar-me cedo, nem constituir uma família tão numerosa quanto a nossa. Ainda que seja um fruto vivo do mais puro amor, não acredito que possa existir tal sentimento para mim.

Com um sorriso papai me interrompe.

- Anthony, você acredita que eu esperava encontrar sua mãe?Acaso pensa que em meus maiores sonhos seria capaz de imaginá-la tal como é? É óbvio que não meu querido, mas algo aconteceu assim que meus olhos pousaram sobre ela naquele baile. Meu coração, antes de todo o resto, soube que ela seria minha Viscondessa.

- Eu sei meu pai. Já ouvi a história de vocês milhares de vezes, mas ainda assim não posso conceber que seja racional dar tanto poder a outra pessoa, dar-lhe não apenas meu nome e minha proteção, mas também minha alma.

Dou-lhe um sorriso triste...

Papai agarrou-me pelos ombros e forçou-me a olhar diretamente em seus olhos sinceros enquanto dizia:

- Não tenha dúvidas que ela é - junto com todos vocês, claro - todo o meu mundo. E não encare isso, como dar poder a uma mulher, mas sim a você ser elevado a um outro patamar. Você não estará mais sozinho, não precisará levar todo o peso do mundo sozinho, terá alguém com quem dividir as alegrias e tristezas, conversar sobre as coisas que acredita e que ninguém de maneira nenhuma pode saber. Seus desejos mais secretos serão partilhados, suas conquistas divididas... O amor é uma dádiva meu filho, e se me fosse permitido, escolheria sua mãe outras milhares de vezes.

- Eu tenho certeza de que ela sente o mesmo. Seu sorriso é sempre mais brilhante quando o senhor está perto.

- Anthony isto é o amor filho, em sua mais simples representação. Não estrague suas possibilidades por medo de amar. Busque o amor, e quando encontrar a mulher que despertar este sentimento maravilhoso em você, faça-a saber do quanto é amada. Não tenha receio de se mostrar vulnerável, não confunda isto com fraqueza, seja forte e ame em sua plenitude.

- Meu pai, tentarei me lembrar de suas palavras por toda a minha vida. Obrigado.

Abraçou-me forte:

-Te amo filho. Desejo que seja imensamente feliz.

- Eu te amo mais, pai.

Acordei atordoado. O sonho havia sido real demais, vívido demais. Com a cabeça mais parecendo a bigorna de um ferreiro decidi que deveria ir até o clube. Atirei-me em uma das poltronas e fiquei imerso em meus pensamentos até que Benedict e Colin resolveram se juntar - sem convite - a mim. Em momentos pesarosos como este, a única coisa que desejava era ser filho único, os irmãos podem ser extremamente irritantes como pregos nos sapatos.

Como era de se esperar fizeram todo tipo de barulhos inconvenientes com as nozes apenas para aborrecer-me e aumentar, minha já terrível, dor de cabeça.

Discutiram sobre a minha vida como se eu não estivesse presente, deram conselhos sobre como devo me portar com Kate, elevando minha raiva a níveis alarmantes. Porém, quando me disseram que só me deixariam em paz quando eu fosse para casa, algo se conectou. Meu sonho... Era o que tinha que fazer, ir para casa e dizer a Kate que a amo, e viver o máximo de tempo que tiver com ela, sem me importar de fato se amanhã será realmente o último. Afinal, martirizar-me, beber até cair, e ficar aqui ouvindo esses dois idiotas só fará de mim um fraco, e isso jamais serei.

Levantei-me como um raio, decidido a ir para casa e me perder nos braços de minha doce esposa. Implorar pelo seu perdão, dizer a ela o quanto fui idiota - acaso não sabia que os homens são seres tolos que não conseguem ver uma solução nem quando essa está a centímetros de seus narizes? Ao chegar em casa para minha surpresa e total desolação, Kate havia saído, e ainda acompanhada do cão impertinente de nome Newton.

Mandei selar o cavalo, pois uma vez que decidi amá-la e declarar-me, não esperaria nem mais um segundo para fazê-lo.

#AnthonyBridgerton

Diário do Visconde Bridgerton - COMPLETA Where stories live. Discover now