Capítulo XXI

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Ainda que a chuva não tivesse feito o seu pior, e eu estivesse completamente molhado e desesperançoso, não tive forças dar as costas a janela do nosso quarto.

Com o olhar fixo, me pus a pensar nas reações de Kate ao meu comportamento. Será que está se arrumando  para sair, talvez ir a casa de sua mãe, ou voltou para cama? Santo Deus, só de conjurar sua imagem meu peito é atravessado por uma dor excruciante.

Após passar todos esses anos conformado com minha finitude, não imaginei que seria possível sentir tamanha dor. Não, não era o medo de sucumbir à morte, mas sim o medo de perdê-la.

Recuperando as forças, virei-me a passei a  distanciar-me do que meu coração realmente desejava: o calor de Kate, seus braços, seu amor. Sei que não é o correto, mas como poderia encará-la depois de saber que a amo? Saber que não tive o controle e a determinação esperada para lidar com essa situação?

Com um humor soturno caminhei até o White's, decidido a ficar bêbado. Certamente o álcool traria o alívio necessário para os inúmeros pensamentos que surgiam sem autorização em minha mente. E,  quem sabe amanhã aconteça um milagre que me traga alento.

A atmosfera do White's não contribui em nada para que meu humor melhorasse, obviamente todos queriam saber porque não havia pego uma carruagem de aluguel ou por que estava tão mal humorado, então, antes que cometesse uma atrocidade com um dos amigos, e conhecidos parti para a casa Bridgerton. Era de se esperar que todos estivessem dormindo, então poderia me trancar no escritório sem a preocupação de um longo interrogatório.

Ao chegar, entrei sem dificuldade e segundos depois estava em meu escritório, meu reduto. Reconheci todos os cheiros masculinos - couro, madeira e cera - ,  mas senti falta do cheiro dos lírios que indicariam a presença da minha Kate.

Fixei o olhar na mesa e sua imagem agachada invadiu minha mente, sua expressão do mais puro terror me assaltaram. Lembrei-me de como fiquei atordoado por sua presença naquele dia, e em todos os outros que nos encontramos. Seu cheiro impregnava o ambiente e nem a bela mulher a minha frente foi capaz de dissipar os desejos mais deliciosamente primitivos.

Sua risada, seus olhos, seus cabelos, sua pele resplandecente, seu corpo nu pronto e ávido a receber-me,  Kate, minha Kate, estava em todos os lugares, em cada fibra do meu miserável ser.

Definitivamente estou bebendo de maneira errada, porque os pensamentos não diminuíram com o conhaque. Resolvi que o Whisky seria o melhor remédio. Sim, tomarei toda a garrafa!

O Whisky deve ter feito efeito, pois em algum momento da madrugada, ou da manhã, apaguei. Despertei com o doce som da voz de Kate me chamando, achei que poderia ser os efeitos do álcool, uma vez que ela não poderia realmente saber que eu estava escondido em meu escritório,
embebedando-me feito um rapazola, ao invés de enfrentá-la. Continuei achando que era sonho, até que suas unhas foram cravaram sobre meus ombros. Despertei num salto. O ela que estava fazendo ali, tão cheirosa, limpa, linda, resplandecendo - ainda que com olheiras -  no meio do meu sofrimento? Com os músculos protestando, a cabeça parecendo que foi usada de bigorna por um ferreiro por toda a noite, explodi; disse-lhe que não desejava vê-la, que não tínhamos o que falar e que em dois ou três dias conversaríamos.

A despachar da casa Bridgerton doeu mais em mim do que nela, eu teria que sofrer um calvário para que me perdoasse, mas não tinha a menor possibilidade de  como lidar com minha descoberta tendo-a tão perto. Era demais para mim, extenuante, excruciante contemplá-la e não poder envolvê-la com meus braços, me perder em sua doçura e possuí-la ali mesmo em meu tapete. Uma força hercúlea se fez necessária, quando tocou meu rosto e beijou-me. Como a amo!! Por todos os deuses, não!   Blindei minha mente e mandei-a para casa, afogarei minha angústia no álcool uma vez mais e espero que dessa vez me mantenha entorpecido por pelo menos três dias.

#AnthonyBridgerton

Diário do Visconde Bridgerton - COMPLETA Where stories live. Discover now