Capítulo XIII

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Respirar o ar puro de Aubrey Hall, e deixar para trás o ar carregado de Londres, este deveria ser um ato mecânico, biológico muito bem vindo. Mas não é. Estar aqui em minha casa ancestral, relembrando a cada instante dos tantos momentos que vivi aqui não torna a estadia fácil .

Em frente às janelas de meu escritório e olhando para a vastidão dos campos da propriedade, sinto como se houvesse um torno ao redor de meu coração. Meu tolo coração, mesmo após quase 12 anos, mantém um fio de esperança que ele surja por entre aquela paisagem tão querida, e retornemos a ser uma família completa...

Sempre evitamos voltar aqui, e mesmo que as minhas obrigações ditem que não possa ignorar a sua existência por completo, a dor é excruciante. Muitos podem olhá-la e acreditar se tratar de um amontoado de pedras, gramados e jardins muito bem cuidados, para mim ela em absoluto é apenas isso. Este é meu lar ancestral, o local onde passei as melhores lembranças de minha vida, onde tive meu pai tão querido correndo nos campos, ensinado-me a cavalgar, onde dei meus melhores sorrisos, local onde fui extremamente feliz.
Como isso pode ser desconsiderado? A melancolia não se estende apenas a mim, sei que mamãe também se pudesse, evitava o retorno a Aubrey Hall, mas ela tenta magistralmente esconder quão dolorido é estar aqui e relembrar tudo o que viveram.

Por todas essas questões que me decidi, uma vez que tenho que me casar, que possuo deveres para com o título, e que quero trazer um pouco de felicidade a mamãe: casarei o quanto antes. Ou melhor, aproveitarei que a festa de campo estará em curso, e pedirei a Srta Sheffield em casamento. A senhorita Sheffield certa, não aquela que povoa meus pensamentos e ousa deixar-me contando em latim a noite toda e boa parte da madrugada, esta só seria machucada por minha morte prematura, e creio que não seria capaz de deixá-la sem sofrimento. Não desejo ver em seus olhos castanhos e vívidos a tristeza que vejo nas profundezas dos olhos de mamãe. Edwina Sheffield até o final da temporada será a Viscondessa Bridgerton.

Não analisarei o motivo pelo qual cada vez que penso em me casar com Edwina, minha mente se nega a registar o fato, meu corpo tenta rebelar-se. O episódio no meu escritório na Casa Bridgerton não sai de meus pensamentos, o que fui capaz de fazer com Kate me atormenta até hoje, uma semana depois de nosso desastroso encontro. Uma necessidade primal de pedir desculpas, um tormento por ter deixado as raias da minha raiva, por tê-la machucado. Neste momento decidi, me redimirei aos seus olhos, pedirei desculpas, mostrarei arrependimento e reiterarei a ela que não serei demovido de pedir sua irmã em casamento.

Que mal tem um beijo? Beijos são dados a todo momento. Beijos roubados em jardins, beijos dados por amantes experientes, beijos são simplesmente beijos não é mesmo?!? Mas por que o beijo "dela" me perturba tanto? Por que ela parece se entranhar em meu sangue como veneno? Por que não consigo demovê-la de meus pensamentos? Por que meu corpo parece em chamas cada vez que estamos no mesmo cômodo?
Acredito serem muitos porquês com que lidar. Nunca pensei que seria tão fácil lidar com problemas aritméticos, e tão difícil lidar com esse emaranhado de sentimentos que me cercam e me deixam sem fôlego.

Temo mais uma vez por minha sanidade, tantas questões pulam em minha cabeça que estou tonto. Porém uma coisa é certa : sairei desta festa noivo. E tenho certeza que não será com Kate, afinal preciso manter meu cérebro funcionando e meu coração fora da equação, não desejo seu sofrimento.
Desejo uma esposa, que gere meus herdeiros, e cuide de nossa família, não quero em absoluto amor envolvido. A dor suplanta meus pensamentos.

E se papai estivesse vivo? E se aquela maldita abelha não o tivesse tirado de nós? Hyancith teria tido todo o seu amor, mamãe não estaria sozinha, nós não teríamos sido privados de sua presença e cuidado. Se ele estivesse vivo, estaria aqui cavalgando pela propriedade, atendendo os arrendatários, estaríamos rindo, aproveitando todas essas lindas paisagens juntos. Mesmo sabendo que não posso sucumbir a dor...

Te amo papai, gostaria com cada fibra de meu ser que estivesse aqui.

P.s.: Ela logo chegará, vi a lista de pretendentes - digo de damas convidadas-, e ela estará aqui em algumas horas. Meu corpo vibra só de imaginar seus lábios, seus olhos sinceros e sua expressão franca. Banhos frios, disto que preciso!

#AnthonyBridgerton

Diário do Visconde Bridgerton - COMPLETA Where stories live. Discover now