Capítulo XVI - A Abelha

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De fato como havia previsto assim aconteceu, durante a maior parte da noite mantive-me alerta com as mais diversas imagens de Kate em sua camisola, Kate debatendo-se paralisada pelo medo, ela sozinha sem que eu a encontrasse na biblioteca, um verdadeiro calvário. O fato de encontrá-la naquelas circunstâncias despertaram um desejo primitivo de protegê-la, acalmá-la, ser aquele a quem ela recorreria quando estivesse com dificuldades de qualquer natureza...Ah como desejo ser esse homem, seu porto, seu esteio. Em meus sonhos isso era possível, e minha vontade de tê-la em meus braços havia sido suprida, Kate havia sido minha.

Toda a demora para o meu corpo alcançar o descanso fez com que meu martírio se entendesse até quase o amanhecer, e a inquietação não diminui como seria o esperado. Quando obriguei-me a me erguer e esquadrinhei a janela que dava aos jardins, a avistei. Esplêndida em seu vestido matinal, respirei muitas vezes para acalmar o anseio latente que me percorria, nunca havia sentido isso por nenhuma outra mulher. Não se reduzia a apenas desejo - não que não estivesse obviamente presente - mas era algo maior que não conseguia nomear, precisava ir até ela. Antes que me desse conta por completo, já estava completamente vestido e indo em direção aos jardins.

Ao observá-la mais de perto, pude perceber que os acontecimentos da noite haviam lhe sugado a vitalidade, ela estava séria, imersa em pensamentos. Daria meu título para ser capaz de diminuir seus temores, de dar-lhe alento, quando percebeu minha presença, seu semblante não mudou de maneira flagrante. Seus olhos estavam tristes, sua postura resignada. Tentei optar pela verdade, contei -lhe que a observava da janela de meu quarto, e que precisava saber como ela estava depois dos acontecimentos da noite. Percebi que decepção perpassam seu rosto, eu não poderia em absoluto evidenciar que meu desejo real era protegê-la, que encontrá-la embaixo da mesa de minha biblioteca havia assustado-me mais que a minha morte eminente, preferi que ela acreditasse que a minha preocupação seria a mesma com qualquer pessoa que estivesse sob o meu teto.

Amor não estava em meus planos, e eu sabia disso desde o início, mas também era suficientemente inteligente para saber que com ela rapidamente podia chegar a amar. E não infligiria essa dor a ela, fui testemunha do sentimento enternecedor que meus pais sentiam um pelo outro, e ainda que mamãe acredite que esconde bem seus sentimentos, percebo o quanto foi, é e sempre será a morte de papai para ela. Não poderia deixar esse mundo tranquilamente, enfrentar minha morte sabendo que a deixaria desamparada. Ainda que tudo que tivesse Kate Sheffield envolvida era mais revigorante, mais interessante, e muito mais prazenteiro, minha honra não permitia  que fosse egoísta. Ao menos era o que minha razão gritava, porém nem sempre somos regidos pela razão não é mesmo?

Ela estava ainda mais séria do que quando a encontrei, deu-me aquilo que havia motivado minha aproximação inicial a ela, sua aprovação. Sua postura tornou-se rígida e introspectiva, não olhou-me nos olhos e parecia prestes a fazer algo intolerável, e assim informou-me que eu tenho sua bênção para cortejar Edwina. O que a algumas semanas me faria exultante, nesse exato momento trouxe-me uma sensação de vazio, algo estava fora do lugar, não fazia sentido. A mulher que ardorosamente povoa meus pensamentos não era Edwina, aquela que incita-me com sua inteligência e beleza não era Edwina. De que diabos me adianta permissão para cortejar a mulher errada.

Minha pergunta nunca foi respondida, pois um inseto que abomino selou nosso destino. A mesma que havia sido a mensageira da morte para meu pai, havia de início me trazido terror paralisante e em seguida deu-me o que mais desejava: Kate Sheffield. Apareceu rodeando-a, zumbindo anunciando uma morte. Fui tomado pelo terror e entrei de imediato em ação, ela não levaria mais uma pessoa importante de minha vida, eu iria protegê -la. Assim o fiz, tentei afastar a abelha de Kate, mas já sendo capaz de vê-la jazendo morta em um quarto da propriedade. Segurei-a com muita força e lhe dei ordens ríspidas, mas obviamente que sendo ela Kate,  jamais iria me obedecer, enfrentou-me com um sorriso zombeteiro, não enxergava o quão próxima estava de sucumbir a morte.

Diário do Visconde Bridgerton - COMPLETA Where stories live. Discover now