Capítulo XXIII - Final

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Em minha corrida ao Hyde Park a fim de tomar meu doce amor em meus braços, e implorar por seu perdão por minha mais absoluta burrice, fui surpreendido pela presença de Lady Danbury. Anos e anos de cavalheirismo, e regras sociais arraigadas não me permitiram ignorar seu chamado. Agora analisando tudo com mais calma, desejei ter sido um pouco mais rude, pois assim teria interrompido os acontecimentos que se sucederam.

Terror, o mais absoluto terror, foi o que senti ao deparar-me com a carruagem que nitidamente se encaminhava para o desastre. Antes mesmo de ver os ocupantes sabia com a mais aterradora certeza que Kate estava lá. E como que para confirmar o que sentia, ouvi os latidos inconfundíveis de Newton, seguidos de gritos desesperados.

A perderia antes mesmo de ter a chance de dizer-lhe o quanto a amo. 

Ainda que galopasse a toda velocidade soube que não conseguiria evitar a tragédia. Como que em câmera lenta, assisti a carruagem ficar sobre duas rodas e na sequência tombar quando passou por uma elevação na grama.

Imagens de minha doce esposa, fria e pálida dançavam em minha mente e sem me conter gritei para dar vazão ao meu desespero, a minha dor.

Avistei Edwina, que já saia dos escombros e tentava de maneira torpe abrir um buraco maior na carruagem e acessar o interior. Atordoado, e cheio de temor, comecei a perguntar aos gritos o que havia acontecido e o mais importante onde estava minha esposa.

Diante daquela situação insana, pouco me importei em ser gentil e cavalheiro; só agora percebo o quanto fui brusco, mas em nome de todos os deuses o que desejava era achá-la e depois retirá-la do meio daquela profusão de escombros. Sim, que se danem as boas maneiras!

Quando minha cunhada disse que Kate poderia estar embaixo da carruagem, me senti fraco, como se estivesse a ponto de perder a vida.

No meio do crescente medo de tê-la perdido, obriguei meu cérebro a assumir o controle e tentei aplacar as emoções. Encontrá-la sem vida não era uma opção, assim usei de toda a força para retirar os destroços da minha frente e avançar ao seu alcance. Gritei seu nome, em desespero, rezando mentalmente para que não fosse tarde demais; para que Deus fosse magnânimo e nos permitisse, que me desse, mais uma chance de demonstrar o quanto a amo.

Redobrei meus esforços, arrancando os pedaços de madeira com as mais e nem se quer notando os cortes. Gritei se nome, uma, duas, três vezes; implorando, rezando, desejando ouvir sua voz.
Silêncio. Desespero. Tormento...

Respirei fundo e movi a almofada e foi então que a vi; meu coração deu um salto, e fui invadido por um alívio indescritível. Ela estava imóvel, pálida, mas não havia sangue e o pescoço não parecia quebrado. Ela ficaria bem, eu a tiraria dali a levaria para casa e ela ficaria bem. Agarrei-me a esse pensamento...

Não sei em que momento comecei a chorar, e ainda não consigo dizer se foi de alívio ou desespero, apenas me dei conta quando as lágrimas se misturaram ao sangue que escorria de minhas mãos, e os soluços se tornaram audíveis.

Repeti como um mantra que ela não iria morrer, que a salvaria e que estava pronto para desafiar o próprio Deus se ousasse tirá-la de mim.

Estendi a mão e garrei seu pulso, que me pareceu muito fraco, mas para minha extrema felicidade, Kate apertou minha mão e abriu os olhos questionando quase que imediatamente minhas ações, como só ela é capaz. Ah, minha adorável esposa e sua total falta de senso de perigo! Certamente envelhecimento trinta anos em poucos minutos.

Precisava me certificar de que estava bem, assim comecei a lhe fazer uma série de perguntas e quando me confirmou que sentia apenas uma dor na perna, não pude me conter e lhe falei o que tinha guardado em meu coração, disse que a amava, que não poderia esperar nem mais um minuto para contar-lhe e que por isso, tinha ido ao seu encontro no parque.

Enfim conseguir dizer as palavras que há tanto estavam guardadas em meu coração, me senti em paz e inundado pelo sentimento que descobrira e pelo qual valia viver cada minuto com minha destemida esposa - que mesmo em meio aos destroços se mantinha forte - Como a amo!

Quando finalmente consegui retirá-la da carruagem meu coração se encolheu. A perna estava presa e por mais que tenha me esforçado, foi impossível não lhe causar uma dor avassaladora. Edwina escolheu justamente esse momento para nós chamar a atenção a perna de sua irmã. Por Cristo, estava horrível!! E Kate, que até então, tinha aguentado tudo com força e fibra invejáveis aos mais fortes soldados, sucumbiu desmaiando diante da dor e da visão da perna retorcida.

Vê-la desmaiada, reavivou todo o meu temor e bradei feito um louco.  Necessitava de um médico, um não, vários, pois com a perna de Kate disposta naquele ângulo esquisito, necessitaria de um exército de profissionais para colocá-la de volta no lugar.

Depois do que me pareceu uma eternidade estávamos em nosso aposento, cercado de todos os médicos que consegui reunir.  Como era de se imaginar, o procedimento médico executado foi extremamente doloroso.
Minha querida esposa gritava de dor, enquanto eu implorava de forma nada máscula para que amenizassem sua dor com uma dose a mais de láudano.

Mesmo com a confirmação de que a lesão não levaria a morte, sentia-me inquieto; sentia-me impotente.

Temerosos de que eu atrapalhasse retiraram-me do quarto, mas me recusei a ir longe, estava ao lado no quarto de vestir, andando de um lado para o outro gritando ordens. Cristo, porque demoravam tanto?! Certamente se a presença destes não fosse cabal, eu os colocaria para fora a pontapés!

Assim que os médicos se retiraram, respirei fundo e juntando todas as forças que ainda me restavam fui ao seu encontro. Precisávamos conversar, precisava ser honesto e expor de forma direta tudo o que se passava comigo.

Parei na porta, e ao vê-la recostada em nossa cama, com a perna machucada pousada sobre o travesseiro, percebi uma vez mais a minha tolice. Fui atingido pela certeza de que ao negar o sentimento óbvio que havia desenvolvido por essa belíssima mulher, também havia me negando o prazer de desfrutar de sua companhia e dos momentos que ainda teríamos juntos.

O desconforto inicial de contar-lhe a certeza da minha finitude e por consequência todo o processo de negação do sentimento foi se perdendo durante nossa conversa, enquanto a observava e sentia sua mão na minha como forma de apoio e compreensão diante das minhas fraquezas.

Contar-lhe tudo me pareceu não apenas o certo, mas necessário. É claro que não foi fácil, porém já havia me decidido de que daquele  momento em diante, não poderia se quer imaginar que minha adorada esposa não ouviria o quanto a amo e que todos os nossos momentos -  discussões, flertes, encontros tórridos - foram extremamente preciosos.

As palavras de meu pai ecoavam em minha mente; o amor não me faria menor, pelo contrário me proporcionou uma confiança e uma sensação de plenitude que jamais imaginei ter.

Kate, ouviu-me com paciência e infinita bondade, provando ser mais uma vez o meu ponto de equilíbrio. Uma mulher menos preparada certamente fugiria aos gritos, mas aquela era a minha Kate, minha doce esposa, meu amor.

Enquanto a contemplava, decidi que não iria tantas vezes ao clube, que dedicaria mais tempo a fazer-lhe companhia, pois além do fato de que estará presa a cama por um bom tempo, quero recuperar o tempo que tolamente desperdicei.

Vou aconchega-la em meus braços, cobri-la de mimos e beijos pelo tempo em que viver. Se será por mais dez anos, não sei dizer, o certo é que vou amá-la com todo o meu ser, sem amarras, sem reservas, sem medo.

#AnthonyBridgerton

P.S.

Caríssima abelha, devo reconhecer que seu trabalho foi maravilhoso. Acredito que nem em mil anos, serei capaz de lhe pagar o presente que me proporcionou.

Ass. Um Visconde Apaixonado

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