Capítulo XV

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As atividades do dia, somados ao jogo de Pall Mall, não aliviaram em nada a tensão constante de insatisfação. Ainda que tenha me ocupado de meus afazeres, estava completamente consciente da presença dela na casa. Durante toda a preparação para o jantar peguei-me a pensar em seus olhos, e em como sua atitude na volta do jogo foi flagrante. Sua inocência é cativante, não acredito que estivesse consciente de tudo que deixou revelar com sua falta de fluência ao meu ataque. Mas não foi menos prazeroso, saber que me deseja, na realidade multiplicou em muitas vezes a minha expectativa em voltar a sentir seu gosto, beijá-la até que não lembrássemos mais nossas identidades.

Sempre a procura de Kate, assumi minha postura de anfitrião junto aos convidados, no entanto toda a tensão que sentia em meu corpo aumentou de forma significativa quando a vi descendo as escadas. Kate estava linda em seu vestido verde. Aquele estranho reconhecimento, a familiaridade, de algo que nem mesmo sei explicar veio à tona novamente. Ao seu lado estava Penelope Featherington, ambas conversavam de forma alegre e peguei-me analisando as feições de Kate, graças a isso percebi uma leve mudança em sua postura quando foram interrompidas por Cressida e Grimston. Por conhecer o dissabor que é estar na presença deles, me aproximei para observar o que acontecia e ao ver que humilhavam Penelope, interferi imediatamente. Tal atitude foi movida pela boa educação, como Visconde não poderia permitir que uma pessoa tão querida por minha família fosse tratada dessa forma em minha própria casa. Só que nunca caro diário, imaginei receber um sorriso brilhante e um olhar de aprovação vindo de Kate; não posso mentir esse arranjo do destino foi prazeroso.

Após o jantar e o toque de recolher de mamãe, fui ao meu escritório. O corpo parecia parcialmente cansado, mas a minha mente ainda insistia em rememorar imagens de Kate sorrindo, seus olhos fixos nos meus... Decidi que era hora de ir para a cama. Se não conseguisse dormir de fato, pelo menos diminuiria aquela quantidade infinita de roupas, e minimizaria o desconforto.

Meus planos foram frustrados, quando ao passar pela biblioteca percebi graças ao divino, uma luz fraca por de baixo da porta entreaberta. A primeira coisa que pensei foi na possibilidade de incêndio, mas nada, NADA, havia me preparado para o que realmente encontrei. Depois de ouvir um ruído entrecortado, apurei os ouvidos, e ouvi uma espécie de soluço, sem resposta a minha pergunta sobre alguém estar ali, percebi de onde vinha o barulho, e segui para lá com a vela.

Meu coração literalmente parou com a visão. Kate estava empoleirada no vão da mesa. Aquela visão ficará para sempre gravada em minha memória, ela estava tremendo, com olhos bem fechados e os braços em volta das pernas, à visão do terror. Tive que usar de todo meu autocontrole, para assumir o controle e assim ajudá-la. Aquela não era a Srta. Sheffield que me desafiava, que usava sua inteligência fantástica para colocar-me em meu lugar. Meu coração diminuiu de tamanho, pois eu teria que trazê-la de volta, de onde quer que sua consciência tenha se escondido.

Assumi a praticidade e o sangue frio, e toquei-a, a fim de tranquilizá-la. Chamá-la seria um erro. Abracei seus ombros já ao seu lado embaixo da mesa, e tentei acalmá-la com palavras reconfortantes, naquele momento minha consciência me escapou, só queria transmitir segurança. Não me importaria de prometer a ela trazer as estrelas para ornamentar a biblioteca.

Depois que beijei suas mãos- um carinho básico, essencial, sem relação com desejo, um cuidado - uma atenção a qual ela precisava naquele momento, ela começou a relaxar os músculos tensos. Pedi que abrisse os olhos, para que visse que não estava mais sozinha... Que eu estava ali ao seu lado. Esse pedido aqueceu mais o meu coração do que o corpo dela, senti que estava sendo essencial para alguém - para Kate -, deixou- me feliz. Uma felicidade crua, simples, mas não menos reconfortante.

Ao abrir os olhos, ela reconheceu-me, e quando pensei em falar algo para distrai-la e amenizar a tensão, ela se adiantou e pediu que lhe contasse algo. O inesperado aconteceu, ali embaixo da mesa de minha biblioteca, desnudei boa parte de minha alma a Kate Sheffield. Contei-lhe sobre minha infância, sobre como foi difícil a perda de papai, a dificuldade de ter que assumir o seu papel na sociedade e como chefe de família, enquanto tinha que lidar com a tristeza avassaladora de sua perda. Na sequência, Kate contou-me sobre sua mãe, e de como Mary de algum jeito supriu plenamente esse papel.

Seu medo de trovão, se assemelha ao meu, um medo irracional, que a assombra sempre que chove, e a mim a todo momento. Pois a certeza da morte paira sobre mim a muito tempo, contar-lhe isso seria um erro, poderia achar estúpido, e eu não suportaria.

Ficar com ela ali - por minutos, horas, não sei- nos fizeram íntimos, mais até do que quando trocamos um beijo na Casa Bridgerton, ali naquele lugar minúsculo estávamos só eu Anthony e ela Kate. Uma conexão assustadora se estabeleceu entre nós, e ouso dizer mais forte que todos os outros acontecimentos até aqui. Diante desse pensamento, a razão resolveu aparecer, e como ela já estava melhor, percebi suas roupas, o local e toda a implicação disso se fôssemos pegos. Levantei-a do chão, e indiquei que deveríamos voltar aos nossos quartos, separados para não acarretar maiores problemas.

Sua confirmação diante das circunstâncias foi clara, ela sentia o mesmo medo. Ordenei que fosse diretamente para o quarto. Ela assentiu, e o rubor cobriu seu rosto.Só nesta hora olhei realmente para seus trajes. Uma camisola simples de algodão, com um roupão grosso por cima, algo feito para ser prático e confortável, mas que com absoluta certeza iria me provocar os mais infinitos delírios eróticos dali a poucos minutos, quando estivesse sozinho em minha cama.

#AnthonyBridgerton

P.s. E assim aconteceu!

Diário do Visconde Bridgerton - COMPLETA Where stories live. Discover now