Cap. 20 - Para respirar

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   Tudo que eu mais queria era sumir. Simplesmente sumir. Sem deixar vestígios, pegadas ou quaisquer marcas de que existi.

O que sinto no momento é um misto de sentimentos, e um deles é o medo.
  Medo do que pode acontecer, medo de sofrer da mesma forma que sofri alguns anos atrás.

  Se eu não tivesse entrado na vida de Sasuke Uchiha, eu talvez não estivesse nessa situação. Mas uma parte de mim não se arrepende de o ter conhecido.
    Eu o amo de verdade...

  Quando penso nisso lembro que não estamos passando muito tempo juntos. E agora não vamos conseguir mesmo, já que o irmão dele está no hospital. Talvez isso também seja minha culpa.

  Comecei a me distanciar do hospital.

  — Desculpe, Sasuke-kun. Mas eu não vou poder estar com você nesse momento. — Sussurrei pra mim mesma e dei uma última olhada no hospital da minha família.

           Não posso entrar lá.
  

Dei várias voltas pela cidade, sem rumo. Entrei em uma lanchonete pouco visitada e fiquei lá, apenas olhando pela janela, tentando evitar pensar sobre o que está acontecendo com a minha vida. Eu estou apenas fugindo. Estou tentando não pensar em como vou resolver meus problemas; como vou encarar Sasuke.

  Senti meu celular vibrar no meu bolso e vi que era Sasuke, gelei na hora. Fiquei encarando o celular e decidi não atender, me senti horrível por isso. Eu estou ignorando ele mesmo na situação em que ele se encontra, é como se eu estivesse ignorando o sofrimento dele e pensando apenas no meu.

  Rapidamente liguei para ele e o mesmo atendeu no mesmo instante.

   — Sakura? Por que desligou? Acho que isso não importa agora...

  — Como ele está?

  — Consciente.

  — Isso significa que ele não está correndo nenhum risco?

  Demorou alguns segundo até responder:
   — Ele está com... Um problema, nas pernas.

   Arfei e sem querer deixei transparecer o meu desespero.
  

   — Sakura, você está bem? Onde você está?

  — Nem eu sei... — Respondi as duas perguntas de uma vez.

  — Como assim não sabe? Quer que eu vá te buscar?

  — A última coisa que eu quero agora é te atrapalhar, Sasuke.

  — Do que você está falando? Você está bem estranha hoje, Sakura.

  — Sasuke nós temos que conversar. — Meus olhos se encheram de lágrimas ao falar isso.

  — Você pode vir aqui no hospital? Eu-

  — Vou te dizer onde me encontrar.

 

  — Sakura... — Pude finalmente sentir o hálito quente dele perto de mim.

  — Sasuke... — Nos beijamos como necessidade, em seguida ele me encarou esperando calmamente.

  — Você está tão distante... — Tomou a iniciativa da conversa.

  — Me desculpe, foi tudo tão rápido... Nem pude ir com você ao hospital.

  — Por que? — Passou a mão delicadamente no meu rosto.

  — Vou te contar tudo. Do início. — Disse e ele me olhou sem entender.

  — O que eu não sei? — Ele questionou e eu o guiei a sentar num banco próximo a nós.

  — Era uma vez...-

  — Sakura não é hora pra isso.

  — Não me interrompa!

  — Tá...

  — Era uma vez, uma garota que tinha tudo que queria, todos os bens materiais. Ela tinha o amor dos pais, da mesma forma que os amava. Ela tinha um irmão mais velho que não gostava muito dela, e ela estava ciente disso, por isso fazia de tudo para que ele gostasse mais dela; sempre que podia. Mas ele só achava isso cada vez mais... Irritante.

Esperei para ver se ele iria falar alguma coisa, quando vi que não, prossegui.

  — Eles foram crescendo e a garota foi sendo cada vez mais odiada pelo irmão mais velho, sendo assim vítima de pegadinhas e brincadeiras de mau gosto, sendo humilhada sempre que possível. Sempre que ele tinha "a chance". Certa vez, ela a expôs em grande perigo, a garota começou a ficar ciente das atitudes do irmão, ficando com cada vez mais medo dele.

Senti um bolo na minha garganta ao chegar nessa parte da história, não sei como consegui chegar até aqui sem derramar uma lágrima. Sasuke segurou minha mão, me olhando profundamente.

   — Quando ficaram adolescentes, até passou pela cabeça dela que ela estaria mais maduro, mas isso foi apenas um sonho. Ele estava cada vez pior.
 
   Enfim derramei lágrimas, mas não parei.
  
   — A garota pensou em conversar com os pais, mas os pais eram muito ocupados e sempre mandavam eles pararem de "brigar" e não os incomodar com uma simples briga de irmãos adolescentes. Certa vez, eles estavam brigando perto da piscina seriamente, com direito a socos e chutes, quando ele a empurrou, mas dessa vez ela o levou junto. Continuaram a brigar mesmo lá, e, sem modelar a força, a garota o fez bater a cabeça na lateral da piscina.

   À essas horas eu era apenas lágrimas, Sasuke me amparava em seus braços enquanto passava as mãos em minhas costas, me consolando enquanto eu apenas sujava a camisa dele de lágrimas.

 
   — Sem forças para o tirar do fundo, ela correu para pedir ajuda aos vizinhos. Quando os pais foram avisados, entenderam a história de forma errada. E nessa história a garota era a vilã. Uma adolescente agressiva e psicótica, era chamada. Forçada a sair de casa, sua única opção era a casa dos avós ou um internato para adolescentes problemáticos, claro que a casa dos avós era a melhor opção. Depois de ficar maior de idade, procurou empregos, e encontrou alguns bicos. Estudou enfermagem para começar no Hospital da família, mas estava banida e lembrar disso era simplesmente horrível.

   Eu nem sei se ela estava entendendo o que eu estava falando, eu estava aos prantos no ombro dele, que apenas me abraçava cada vez mais forte.

  — Sasuke eu não quero entrar lá! — Eu disse me afastando para olhar no rosto dele, que me olhava com tristeza e apoio, o apoio que eu precisava.
 
  — Não quer e não vai. — Disse me abraçando novamente.
  
   Ele disse o que eu precisava ouvir com as palavras certas.

  — Me perdoa por não estar lá logo agora... — Eu soltei um soluço.

  — Tudo bem, Sakura. Eu precisa saber o que estava acontecendo, e você me contou tudo. Obrigado.

 
  Eu chorei mais ainda. Ele diz isso com tanta facilidade, eu sinto cada vez mais vontade de chorar. Sinto que ele é demais para mim.

  Mas não vou nunca mais abandoná-lo ou deixá-lo sozinho.

  Fui egoísta em o fazer ouvir minha história trágica melancólica enquanto ele está nessa situação.

  Mas isso não irá acontecer novamente.


•        •         •

Completamente envergonhada por fazer vocês esperaram tanto, perdoem a tia.

  

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