Capítulo 19

465 33 1
                                    

Ela desmanchou a ruga que ele formara na testa com a ponta do dedo.

_ Não fique assim.

Ele beijou a mão dela e desviou os olhos.

_Desculpe.

_Por favor, Sam, se você fraquejar agora, eu não vou aguentar.

Ele conteve o fôlego, concordou e soltou o ar.

Você precisa dizer a ela. dizer que está apaixonado, que a ama.

O rosto dele se contraiu, e Sam olhou fixamente para o chão. Não. Ela lhe dissera que eles eram apenas amigos e nada mais. Se ele dissesse a ela, não tinha dúvida de que a amizade entre os dois iria acabar. Ela se entregará a ele sem reservas nas noites passadas mas isso, não anulava o que ela já havia lhe dito,  Discutir aquele assunto e mostrar a ela que deveriam ficar juntos, num momento em que ela tinha tantos problemas a enfrentar, seria se arriscar a perder tudo. Ele não gostava de esperar, mas queria tê-la em sua vida. Por mais frustrante que fosse, precisaria esperar. Mas não por muito tempo.

Uma porta se abriu e todos os olhares se voltaram para o Dr: Graham, que se dirigiu a eles dois com um sorriso.

_Boa tarde, Caitriona. Que bom que você veio  - falou ele baixinho, mas foi ouvido pelas pessoas mais próximas, que logo a reconheceram.

Cait corou e se levantou, apertou a mão de Sam e seguiu o médico até o consultório.

_ Vocês viram como está a cidade? - disse o doutor com uma expressão preocupada.

_Sim. É inacreditável.

_Não foi tão ruim como o outro, mas foi feio.

Cait concordou, com uma expressão serena, mas, pela maneira que ela contraía os lábios, Sam percebeu que ela estava inquieta.

_Então...  - disse Sam_ Vocês refizeram os testes?

_Refizemos. - O Dr: Graham tossiu, tirou os óculos e jogou-os sobre a pasta.

_E...?

O médico consultou o conteúdo da pasta por um tempo que parecia ser interminável. Por fim, puxou uma folha e também demorou muito tempo para lê-la.

Cait se inclinou sobre a mesa e franziu as sobrancelhas.

_O que foi?

O Médico corou.

_Primeiro, quero dizer que sinto muito pelo que você tem passado. Nós costumamos seguir regras restritas que, infelizmente, eu quebrei por causa da minha amizade com a sua mãe.  Ele tossiu. _Mas agora posso afirmar que...  Ele olhou para o papel e voltou a olhar para ela._Houve uma confusão no laboratório. Algumas amostras foram etiquetadas erradamente. O resultado do seu teste deu negativo para doenças neurodegenerativas.

A sensação foi de ter levado uma bolada no peito, acertada pelo melhor goleador do mundo. O soluço de Sam se misturou ao soluço mais alto e delicado de Cait. Ela arregalou os olhos e ficou congelada. Quando falou, sua voz ofegava, como se ela tivesse corrido escada acima.

_Desculpe... O quê?

_Os resultados dos seus exames de sangue deram negativo para doenças do neurônio motor. Você está imune é saudável, e...

As batidas do coração de Sam abafaram o resto. Ela era saudável. O resultado fora negativo. O alívio que ele sentiu não se comparava ao que já sentira em outras ocasiões. Aquilo era pura alegria, uma felicidade que lhe tirava a respiração e que o fazia sentir uma gargalhada subindo por dentro do peito, antes que ele a suprimisse.

Ela vai ter o bebê. Nosso filho.

Ele soltou uma exclamação exaltada, virou-se para ela e abraçou-a com muita força e, talvez, com demasiada emoção, mas a felicidade que ele sentia era difícil de conter. Ela viveria e veria o filho crescer, dar os primeiros passos, ir à escola, namorar, casar.

Ela iria viver.

Ele se afastou o suficiente para pegar no rosto dela, sabendo que o seu sorriso se estendia de uma orelha à outra porque ela fazia o mesmo.

_ Livre - sussurrou ela, com o rosto alegre coberto de lágrimas.

_Livre - repetiu ele. _Nós vamos ter um filho.

Ela arregalou os olhos e concordou.

O teste dera negativo. Ela iria ter um bebê. Ainda não conseguira avaliar a extensão das duas coisas que mudariam totalmente a sua vida.

O Dr: Graham pigarreou, e ela e Sam se voltaram para ele, a emoção fora tanto que até haviam esquecido que estavam de frente para o homem

_ Obrigada, doutor. - O sorriso dela era tão amplo que chegava a doer.  _Essa era a melhor notícia que eu poderia receber.

_De nada.  O médico recostou na cadeira e passou a mão na cabeça.  _Mas ainda existe um problema.

_ Qual? - quis saber Cait.

O doutor tossiu.

_O sangue da sua mãe era tipo O, correto?

_Era o que estava registrado nos formulários do hospital  - disse Cait.

_O seu tipo sanguíneo é AB.

_Sim.

_Aí é que está o problema.

Cait sacudiu a cabeça.

_ Desculpe, eu não estou entendendo.

_Em outros casos, eu recomendaria outros exames de sangue, faria um discurso sobre checar resultados e iria aconselhá-la a conversar com o seu médico... Mas eu conhecia a sua mãe há muito tempo e lhe devo isso. - O doutor suspirou.  _O que estou querendo lhe dizer é que é impossível que alguém que tenha sangue O tenha um filho com sangue AB.

Caitriona ficou surpresa e sacudiu a cabeça. _Deve ter ocorrido um erro. Precisamos refazer o exame do tipo de sangue.

O Dr: a encarou com simpatia e preocupação.

_Sinto muito. Nós fizemos o exame três vezes. Não há engano.

_O quê?

Cait ficou imóvel, tentando decifrar o significado daquela revelação. Muito bem: sua mãe era sangue O; ela era AB. Não havia relação entre O e AB, Isso queria dizer que...

De repente, ela apertou a mão de Sam com força.

_Espere aí... Está me dizendo que é impossível que minha mãe seja minha mãe?

O Dr. concordou.

_Não! - exclamou ela com firmeza._Os exames estão errados. Como... como o primeiro resultado do meu exame! Foi um erro. Um erro humano.

_Não, o exame está certo. Desta vez, fomos muito cuidadosos. Tudo foi feito corretamente. - Reparando como ela estava pálida, o dr. fez uma pausa.  _Olhe, Cait, posso colocá-la em contato com alguém que...

Ela levantou tão depressa que ficou tonta.

_Não... Eu não... - Ela não completou a frase. Abriu a porta e saiu do consultório.

Impossível. Ridículo. Tinha que ser um erro.

Cait passou pela sala de espera e atravessou o corredor, sem ouvir Sam chamá-la. Parou diante da porta do elevador, apertou o botão e tentou organizar os eventos dos últimos dias, separando-os em compartimentos, tentando encontrar um pouco de tranquilidade e de ordem. Não conseguiu. Estava longe de se sentir tranquila. Acreditara ter uma doença mortal, e conviver com os sentimentos, com a preocupação, com o abalo emocional causados por essa crença haviam-na esgotado. Sim, ela conseguira lidar com aquele fato, ainda que, no fundo, se recusasse a aceitá-lo. E, agora, quando o seu maior desejo se realizara, que soubera estar livre da doença...

Ela não sabia quem era.



Best Lovers ♡Where stories live. Discover now