31.Marcela

9K 465 11
                                    

Lucas

        Eu já havia acordado, mas antes de abrir os olhos pedi a deus para que quando eu abrisse-os ela estivesse ao meu lado e tudo não tivesse passado de um sonho. Um daqueles sonhos tão reais que quando você acorda se xinga tanto, ou xinga quem te acordou por fazer o sonho terminar.

        Evitei qualquer tipo de movimento brusco para não me decepcionar caso não sentisse sua presença ao meu lado, abri os olhos devagar e eles a procuraram por ela antes que eu mesmo tivesse virado meu rosto. E lá estava ela. Olhos com longos cilícios fechados, o cabelo castanho esparramado em cachos sobre o travesseiro, respiração regular e uma expressão tão serena que eu podia jurar que tinha um sorriso em seus lábios carnudos e convidativos. Ela era tão linda que ser chamada de Deusa seria um mero elogio á sua beleza provocadora.

        Tive vontade de puxa-la para perto de mim, grudar seu corpo ao meu e começar a beija-la e mais uma vez me perder em suas caricias, mas ela era tão linda dormindo, que admirar seus traços perfeitos já bastavam para mim naquele momento.

        Ao mesmo tempo em que eu me sentia o homem mais feliz do mundo por estar ao seu lado, Lívia me vinha à mente. O que eu estava fazendo com Lívia? Ela não merecia isso. Eu era o homem mais desprezível, errado, um tremendo filho da mãe, para não falar algo pior. Ela havia feito tanto e ainda fazia, e como retribuição aqui estava eu a traindo. Eu teria que ser sincero e contar a verdade. Dizer sobre Melyssa. Sobre nosso passado para que pudesse contar o que estava acontecendo agora entre nós. Eu sabia que tinha que contar, mas como entrar nesse assunto logo agora que sua mãe não estava em um momento frágil; que ela estava também fragilizada. Seria egoísmo meu fazê-la sofrer ainda mais agora.

        Titubeei o celular em minhas mãos não sabendo se ligava ou não. Claro que eu não falaria isso com ela pelo telefone, essa conversa teria que ser entre nós dois, frente a frente. O celular vibrou na minha mão e tomei um susto. Quem ligava era a mesma de quem eu estava fugindo. Comecei a suar frio e atendi. 

― Oi Lívia. ― tentei disfarçar o nervosismo na minha voz. ― Eu ia ligar pra você agora. ― Realmente eu iria, estava apenas tomando coragem para isso.

― Então me adiantei. ― riu fraco.

― Como está sua mãe? Ontem não deu pra falar com você direito eu estava dirigindo. ― eu realmente estava preocupado com ela e com Eleonora.

― Não foi muito grave. ― sua voz era calma. Foi horrível vê-la desesperada daquele jeito. ― Foi um infarto leve. ― ponderou. ― Mas ainda assim nos deu um susto. ― suspirou.

― Essas coisas são bizarras. ― senti um arrepio.

― Quando você vem?

― Era justamente sobre isso que eu ia ligar pra falar com você. Fechamos o contrato e você já sabe como são essas coisas... Agora temos que ficar em cima dos fornecedores e de todo o pessoal para que a obra fique pronta no prazo de entrega. ― disse já cansado por todo trabalho que teria em breve. ― Não vai da pra ir. E de quebra fiquei sem secretária justamente nesse momento. ― brinquei.

― Ainn amor é verdade. ― riu. ― Já estou com pena de você. Manda algumas coisas pra mim por e-mail para eu poder te ajudar pelo menos com alguma coisa. Eu ligo pros fornecedores e...

        E lá estava ela mais uma vez me colocando a frente de seus problemas.

― Não Lívia. ― a cortei. ― Eu me viro. Contrato alguém pra me ajudar enquanto você não pode vim. ― Ela com certeza não continuaria sendo minha secretária depois que eu contasse toda a verdade. Eu não queria nem imaginar qual seria a reação dela. ― Mas quando volta?

Lembranças - CONCLUÍDO (SEM REVISÃO)Where stories live. Discover now