40.Ciúme desvairado

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Lucas

        Lívia estava deitada em minhas pernas enquanto víamos Tv. No caso ela apenas via, eu estava contendo a minha raiva e tentando não demonstrar minha inquietude para ele. Essa raiva que sentia, tinha nome e sobrenome: Melyssa Viana, a mesma que estava em algum canto, com um moleque e que não chegava nunca.

― Já anoiteceu. ― Olhei pela janela pela milésima vez pra ver se via Mell chegando, mas essa como todas as outras as vezes que olhei foram em vão. ― Que horas seu irmão vai trazer a Mell? ― me mexi agoniado no sofá. E eu sabia que ela não tinha resposta para aquela pergunta.

― Deixa eles amor. ― Lívia virou a cabeça para cima prendendo seus olhos nos meus.

― Seu irmão é irresponsável e Melyssa não conhece nada por aqui. Se acontecer alguma coisa com ela eu sou o responsável, Lívia. ― Revirei os olhos. ― Já que eu á trouxe. ― completei.

― Ainn... meu Deus do céu. ― Lívia fez uma vozinha de criança e apertou minhas bochechas. ― Que namorado preocupado. Vai ser um pai bobão. ― riu. ― Eles são maiores de idade amor, deixa os dois.

        Virei o rosto irritado me livrando de seus dedos. Eu queria sair dali e ir atrás de Melyssa onde ela estivesse. Minha agonia e inquietação duraram mais meia hora. Assim que eu vi que Diogo entrar com Melyssa nos braços, levantei abruptamente não me importando com Lívia que ainda estava deitada no meu colo. Se ela não caiu no chão com meu jeito apressado de levantar deve ter sido por muito pouco, mas eu não olhei para trás para me certificar.

        Minha cara não devia estar nada boa, porque a cada passo que eu dava, mais amedrontados ficavam os olhos de Diogo. Já Mell, estava encolhida em seus braços, suas mãos em volta do pescoço do dele, como uma criança.

― Calma cunhadinho. ― Diogo falou com cinismo e ao mesmo tempo com um sorriso forçado nos lábios.

        Minhas mãos já tinham se fechado em punhos e ele ao perceber isso engoliu a seco dando um passo atrás em recuo. Eu poderia dar um soco nele, mas ele estava segurando Melyssa e ela poderia cair de seu colo. Mais por que eu estava me importando? Que caísse junto com ele.

― Ela está bem. ― antecipou-se em dizer. Seus olhos ainda em minhas mãos.

― O que você fez com ela Diogo? ― exigi explicações ao mesmo tempo em que retirava Melyssa de seus braços. 

        Só ai que percebi o quanto ela estava gelada. Suas roupas molhadas, os lábios arroxeados, trêmulos e sua pele arrepiada.

― Ela só torceu o pé. ― falou como se fosse a coisa mais natural do mundo.

― Ahh... ela só torceu o pé! ― repeti ― E como você diz que ela está bem? ― gritei. Não tinha mais porque conter a raiva que sentia.

―Lucas calma, foi um acidente. ― Os lábios de Melyssa tremeram no meu pescoço quando falou.

― Calma? ― fiz uma tentativa van de olhar seu rosto escondido no vão do meu pescoço. ― Fala Diogo. ― seus olhos estavam arregalados.

― Estávamos voltando pra casa, estava escurecendo e ela tropeçou em um galho e torceu o pé. ― explicou apressadamente.

― O pé dela pode estar quebrado sabia? ― grunhi. ― Ela está tão gelada que parece um cadáver, se não estivesse consciente eu poderia dizer que ela estava morta. ― apertei Melyssa mais forte em meus braços.

― Não é pra tanto Lucas. ― Lívia disse atrás de mim.

― Como não Lívia? ― me virei para olhá-la indignado.

Ela mesma abaixou a cabeça e nada disse.

― Eu vou levar ela para o hospital agora. ― Melyssa poderia estar entrando em um quadro hipotérmico agora mesmo, não tinha porque eu continuar discutindo com aqueles dois. ― será que seu pai me empresta o carro dele? ― Lívia levantou o rosto para me olhar.

― Claro que sim.

― Pega as chaves, por favor?

― Claro! ― disse andando sem saber pra onde ia.

― E uma blusa de frio, ou melhor, um cobertor, ela está tremendo aqui. ― gritei. Ela já estava no topo da escada.

― Tá vendo Diogo o que você fez?

        Eu o acusava, a culpa era toda dele mesmo.

― Foi um acidente. Aconteceu. ― defendeu-se, e mesmo eu sabendo que ele estava certo eu o culpava. Sabe quando você sente raiva e procura alguém pra descontar a raiva, era o que eu estava fazendo. Ele não tinha nada que carregar Melyssa pra longe de mim.

― Diogo sai daqui sai. ― Lívia vinha descendo a escada correndo. O mesmo obedeceu saindo batendo a porta indo para sei lá onde. Eu desejei que fosse para o inferno.

― Aqui Lucas. ― me entregou a chave e me ajudou a cobrir Melyssa.

― Ai tá doendo. ― Melyssa choramingou.

        Agora estava doendo? Eu queria sacudi-la, gritar, brigar, xingar e o que fosse possível. Mas agora não adiantaria nada. Mas dessa conversa ela não ia fugir.

― Já estamos indo Mell, calma. ― usei o tom mais paciente que encontrei.

― Abre a porta do carro pra mim Lívia? ― pedi saindo com Melyssa pela porta que ela mesma tinha aberto.

― Eu vou com você amor. ― ela bateu a porta do carro com certa força, logo assim que coloquei Melyssa dentro.

― Nada disso! Você vai ficar aqui com a sua mãe. ― só quando vi seu olhar triste e seus ombros se encolherem, foi que percebi o quanto tinha sido rude com ela. ― Desculpa Lili. ― a abracei. ― Eu estou de cabeça quente. ― Disse com tom de voz mais ameno. ― Sua mãe pode precisar de você aqui, deixa que eu levo a Mell. ― Olhei de soslaio na direção de Melyssa que estava sentada encolhida no banco da frente.

― Ok. ― soltou o ar contra meu peito. ― Mas me liga se precisar de alguma coisa. ― Olhou-me fundo nos olhos.

― Ligo. ― beijei sua testa.

        Eu segurava o volante com tanta força que eu sentia que qualquer movimento brusco que eu viesse vir a fazer pudesse tira-lo do lugar. Eu canalizava minha raiva ali, fazia isso para não abrir a boca e começar uma discussão com Melyssa, que parecia mais uma criança do que uma mulher adulta.

― Não briga comigo. ― falou num sussurro cortando o silêncio.

        Olhei rapidamente para ela encolhida debaixo da coberta, seus olhos verdes me fitavam inexpressivo e eu soltei o ar lentamente antes de falar qualquer coisa.

― Olha onde a sua teimosia está te levando. ― me senti repreendendo uma criança. ― Foi o pé, mas poderia ter sido outra coisa. Você tinha que sair com o Diogo, não é Melyssa! Isso tudo era pra fazer ciúmes em mim? ― meu tom de voz era baixo, e eu o controlava para permanecer assim.

―Em momento algum Lucas, eu só queria sair de lá e não ter que te ver com a Lívia, foi um acidente. ― eu não a olhava, apenas a ouvia.

― Se você não tivesse saído, não teria se machucado, mas não, você tinha que ser teimosa.

― Porra Lucas, eu só quis me divertir um pouco. ― ela estava chorando. Eu soube por que a olhei, sua voz tremula não denunciou, e só agora ela começou a soluçar. ― Me desculpa.

― Não precisa chorar Mell. ― peguei sua mão. ― Eu só estou bravo porque você saiu com ele, mas eu entendo foi um acidente. Já estamos chegando. ― Sua mão tremia na minha quando a peguei.

        Liguei o aquecedor e logo sua temperatura foi voltando ao normal. No hospital tiraram um raio-X do seu pé, que foi diagnosticado com uma leve torção. Não seria preciso engessar, apenas ficar de repouso e colocar gelo.

Lembranças - CONCLUÍDO (SEM REVISÃO)Where stories live. Discover now