rato de laboratório

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Capítulo três

Janeiro 13/2011

Quando omma e appa foram dormi, ouvi alguns murmúrios vindo do quarto ao lado, eles não estavam dormindo, estavam brigando. Talvez por ele ter bebido de novo ou quem sabe por ter dirigido em alta velocidade. Mas, seja lá qual for o motivo eu tive que ficar com Soyuk até que ela adormecesse. Quando o esperado aconteceu, subi na parte de cima da beliche de solteiro e peguei o HQ. Não sei que hora também acabei por adormecer mas não demorou muito.

O meu dia começou às 5h da manhã, minha irmã gritara tão alto que foi impossível não acordar todos e nos obrigar a começar a trabalhar mais cedo. Omma me pediu para alimentar Soyuk, foi o que eu fiz.

- De quem é o livrinho? - Ela perguntou enquanto eu depositava colheradas em sua boca. - O livrinho em cima da cama, de quem é?

Omma estava na cozinha preparando o lanche que venderiamos mais tarde:
- Que livrinho?

Não sei qual seria suas reações se soubessem que alguém me emprestou um livro, talvez eles nem desconfiem que eu saiba ler:
- Eu encontrei no lixeiro da escola... Mas devolverei, pode ser de alguém, certo? Devolverei hoje.

A mulher que estava arrastando a colher pela panela de alumínio murmurou um "Hm" e parece não ter se importado com a mentira. Há dias que Soyuk vai conosco, seu médico afirmou que seria de grande importância que ela tivesse contato com outras pessoas e que não passasse o dia deitada ou sentada na cadeira de rodas. Hoje, foi um desses dias. Ela foi conosco e até me ajudou com alguns pratos mas quando deu 14h da tarde ela já estava cansada e voltou para a cadeira de rodas.

Do outro lado do campo de futebol americano avistei o garoto do HQ dos X-Men Origins, gostaria de sair do trailer e gritar até que ele olhasse para mim - Já que não sei seu nome. -, mas appa e Soyuk estão aqui e logo descobririam a mentira e eu não quero que isso aconteça. Continuei secando as louças e servindo algumas das últimas pessoas que ainda estavam lanchando, ele sempre é meu último ou penúltimo cliente. Continuei lhe observando até que o perdi de vista novamente. Quando virei meu corpo para o balcão, lá estava ele com outro HQ na mão, dessa vez do Wolverine.

Tirei o HQ do avental e ele não amassou, - Por sorte. - levei o cardápio e embaixo do mesmo estara sua pequena revista. Ele me pareceu surpreso quando lhe entreguei, talvez estivesse pensando que eu não o devolveria ou que o devolveria amassado ou rasgado.

- Qu- - O interrompi quando ele aparentemente me perguntaria alguma coisa.

Engoli em seco e olhei para o cardápio:
- O que vai querer?

Ele pegou a revista nova que estara em suas mãos e a colocou cautelosamente embaixo do cardápio:
- Yakisoba, sem molho.

Peguei o cardápio mais uma vez e segurei a revistinha embaixo dele torcendo para que minha irmã não estivesse prestando atenção. Olhei de relance para ela enquanto me virava para caminhar até o fogão e ela estava olhando para mim - Isso foi o que eu pensei. -, quando saí do seu campo de visão, a garota continuou olhando para o mesmo lugar. Olhando para o garoto e intercalando para mim como se ele fosse algo que eu estivesse escondendo, como se ela fosse uma detetive prestes a desvendar um crime. Ele por outro lado, esta de cabeça baixa lendo a revista que lhe devolvi. Levei a tigela até o mesmo e ele levantou-se da cadeira:

- Posso levar para a escola? Estou atrasado, eu devolvo a tigela a amanhã. - Segurou-a com as duas mãos depois que guardou a revista no bolso grande a bolsa e foi-se.

Peguei o pano de prato do voucher da pia e o arrastei pelo galpão, enquanto ouvia Soyuk murmurar algumas palavras.

- Que garoto esquisito. - Ela falou vagamente. - Você viu o que ele estava lendo?

- Não o achei esquisito, o único motivo pelo qual não leio as mesmas coisas que ele é que eu não tenho dinheiro para comprar. - A respondi.

- Não precisa ser grossa! - Ela me responde surpresa.

- Eu sinto muito, não quis ser grossa...

Ela passou uns segundos olhando para seus próprios dedos:
- Eu ouvi ontem a noite... Omma e appa estavam brigando, não foi? - Balancei a cabeça positivamente e ela respirou fundo. - Ele bebeu de novo, certo?

- Aqui no trailer, mas não se preocupa com isso agora... - A respondi enquanto procuro astutamente por algo que possa chamar sua atenção ao ponto em que ela troque de assunto. - Você quer servir os clientes de amanhã?

Ela me deu um sorriso fraco e balançou positivamente a cabeça enquanto mexia em suas unhas quase que violentamente:
- Eu entendo que você não goste de se meter com omma e appa... Mas não pensa nisso quando estiver comigo, se eu pudesse escolher, escolheria você!

De fato sempre tentei ao máximo não intervir entre ambos porque eu não sou da família, eu sou um membro de sangue, os chamo de família mas não pertenço a ela. Eu sou como a Cinderella, estou aqui para servir e receber ordens e ora pedidos, eles não me querem como família só me querem como alguém, como a rainha má queria a Cinderella. Antes de voltarmos para casa passando em uma farmácia, não sei ao certo o que foi comprado mas tenho certeza em quem vai servir. Sinto muito pela minha família, sinto muito por mim e sinto mais ainda por Soyuk. Sinto muito por todos nós.

Lapso De ResignaçãoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt