rato de laboratório

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Appa dirigiu o trailer até a faculdade e pela primeira vez durante o percurso, eu fiz questão de olhar pela janela. Seria divertido se também estudasse, fizesse faculdade e coisas assim como todos. Ele deixou o trailer no mesmo lugar de sempre mas dessa vez, ele saiu e afirmou que voltaria para me levar, que eu o esperasse. Assenti e liguei o fogão para garantir que a comida esteja quente quando as pessoas começarem a comprar.

- Cabelo de fogo, me dá uma água. - Uma das meninas que usava roxo me chamou, e todas as vezes isso me faz odiar a coloração do meu cabelo.

Peguei a água no freezer e a entreguei, ela me pagou e saiu andando com suas amigas. Provavelmente, eu não seria sua amiga se estudasse aqui por um milhão de motivos e o primeiro é que ela não gosta de mim e eu também não. Olhei para baixo da pia apenas para garantir que a caixa com HQ's está lá e que ninguém descobriu. E ela permanece intacta e limpa.

Demorou um pouco até eu ver o garoto de cabelo preto no campo de treinamento, mas também não durou muito quando ele saiu. Estava com a mochila nas costas e o treinador aparentemente infeliz com algo. Nunca o vi jogar, talvez ele também jogue.

- Annyeong? - A voz familiar me fez levar um susto e meu coração acelerou ao ouvi-la. - Como vai a leitura?

Pisquei meus olhos freneticamente:
- Já terminei. - Sorri com seu espanto. Sentei em um banco na parte de dentro em frente ao seu. - O Homem-Aranha é simplesmente incrível! Ele poderia ser meu super-herói preferido se não fosse o Homem de ferro, eu realmente o acho sensacional!

Ele parecia tão entusiasmado quanto eu, contudo, fez uma careta divertida enquanto falei do homem de ferro e sorriu por fim.

- O meu favorito é definitivamente o Wolverine, achei que você também acabesse gostando dele. - Ele balançou o cabelo com as mãos e em seguida cravou as unhas no peito e fez um grunhido engraçado. - Ele sim é sensacional!

- Tudo bem. - Concluí entre risos. - Das garotas, eu gosto da Feiticeira escarlate, ela é divina!

- Não mais que a Viúva Negra, a Natasha é muito forte e luta demais, como pôde tê-la deixado passar? - Ele sorriu e levou a mão até a boca.

- A Wanda também é forte - O interrompi e ele concordou levemente com a cabeça. -, não só pelos poderes que ela possue, que são muitos mas também por tudo o que ela teve que enfrentar até conseguir confiar em si mesma. Ela é totalmente digna do respeito de qualquer um.

Ele continuou sorrindo e seus olhos se fecharam, eu também estava sorrindo mas toda a minha alegria pareceu ir embora - e na verdade, foi embora mesmo. - quando vi a figura de meu pai caminhar de volta para o trailer.

- Shhh... - Ele me olhou sem entender e eu corri e fui até onde estava a caixa com seus hq's, empurrei pela bancada e ele tirou um de dentro, por algum motivo ele parecia compreender o que estava acontecendo. - Appa está vindo, ele não pode saber disso, nunca!

Quando appa abriu a porta do dirigível e entrou na cabine, ele assobiou para mim como um aviso que havia chegado, eu concordei com a cabeça e ele entrou. Virei-me de costas para o garoto que continuava alí sentado, talvez me esperando ou se perguntando o que há de errado.

- Vá embora! - Murmurei tão baixo que duvido que ele tenha me escutado.

- Onde posso te encontrar? - Ele sussurrou. - Onde você mora?

Caminhei até ele com uma pequena toalha das mãos e balancei minha cabeça negativamente:
- Não quero que me procure, quero que vá embora, por favor.

Ele juntou os HQ's e pegou a caixa contra os peitos, mas me olhou uma última vez:
- Você gosta de ouvir músicas? - Assenti. - Está bem.

O garoto saiu com a caixa contra os peitos e eu fiquei ali parada de frente para a bancada enquanto o via caminhar, até que ele finalmente desapareceu do meu campo de visão. Appa provavelmente não ouviu e também não viu nada, espero. Não sei o que eles fariam se descobrissem, para ser sincera nunca conversamos sobre garotos então, conclui que isso é por que eu não devesse me relacionar com eles e nem com ninguém. Mas também não sinto falta disso, não é como se eu quisesse já que não tenho um bom exemplo em casa e tenho a impressão que se meus pais não tem um bom relacionamento, eu por ordem também não terei.

As vezes conversamos em como deveria ser o casamento de Soyuk, contudo, nunca falamos do meu. Embora eu pouco acredite em amor já que sou obrigada a não acreditar, justificando as atitudes de meus próprios pais, eu também gostaria de conversar com eles e de agir como se tudo não fosse ao estranho.

Quando chegamos em casa, omma me mandou enxugar a louça e me avisou que sairiam para algum lugar que não fiz questão de prestar atenção. A única coisa que entendi é que eles três sairiam e eu ficaria em casa, o que me fez ascender em felicidade sabendo que poderia assistir o que quisesse na televisão até a hora que eu quisesse. Mas no momento, nada seria tão incrível que conversar com o garoto de cabelo preto.

- Cuide da casa e feche os portões quando der oito e trinta, não quero que os vizinhos pensem que você é uma dissimulada! - Appa falou entrando o carro e omma me olhou em concordância.

Minha irmã mais velha sorriu sem mostrar os dentes enquanto levantava o vidro do dirigível. Eu sorri de volta, sinceramente ela não faz parte dos culpados pela minha vida ser assim apesar de todas as teorias e inclusive as provas apontarem para isso.

Lapso De ResignaçãoWhere stories live. Discover now