Capítulo I - O Bacanal

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Dos faunos o cortejo alegre e rude
Rodeia Baco, cuja fronte a hera
Cinge, como a Apolo, a quem a espera,
Como a Apolo, a eterna juventude.
Em torno ao jovem deus, lindas bacantes,
Címbalos, tirsos, plantas carregando,
Da embriaguez se mostram presa, quando
Bem alto entoam versos delirantes.

— Longfellow, "Canção de Brinde"




— Presente —

Dionísio arquejou, entreabrindo os lábios vermelhos. Os cílios espessos tocavam em suas em suas bochechas lisas enquanto os olhos dançavam por baixo das pálpebras fechadas. Os cachos castanhos e entremeados de folhas de vinha, emolduravam a face macia e ruborizada.

Sempre ruborizada.

Ele arquejou novamente, desta vez deixando ver os dentinhos brancos molhados de vinho. O peito, nu e alvo, subiu e desceu lentamente enquanto ele lutava para se conter, acabando por derrubar o cântaro já vazio que segurava mole na mão direita. As bacantes riram, deliciadas.

E Apolo trincou os dentes.

O deus das orgias estava estirado de forma lânguida sobre uma cama de almofadas delicadas, a cabeça pousada sobre o colo esbelto de uma de suas servas que ora ou outra lhe acarinhava as melenas em desalinho. Ele usava apenas um chiton¹ curto e de cor púrpura, que há muito havia se soltado dos alfinetes de ouro que o seguravam nos ombros e agora repousava de maneira frouxa ao redor da cintura, deixando à mostra centímetros e mais centímetros de carne terna e clara. O umbigo pequeno estava cheio de vinho tinto, o qual ele tentava equilibrar, enquanto uma bacante morena especialmente bonita lhe tocava em pontos maldosamente estratégicos. Ao seu redor, uma dúzia de outras bacantes, alguns sátiros e mais um punhado de divindades assistiam a brincadeira lasciva.

Apolo era um deles.

Um gemido alquebrado escapou de sua boca quando a bacante deslizou as unhas pela parte interna de sua coxa esquerda até por baixo do tecido amarrotado e fino da solitária peça de roupa, maculando a pele suave com uma trilha de linhas escandalosamente vermelhas.

O deus jogou a cabeça para trás, esparramando ainda mais os cachos macios pelas pernas desnudas da ménade², mas manteve o tronco magro bravamente imóvel e todo líquido rubro inerte. As fêmeas exclamaram em expectativa e depois murmuraram aprovação ou decepção, sempre em cochichos e risadinhas.

A bacante morena apertou os lábios numa expressão manhosa, para depois abri-los num sorriso libertino. Subiu a mão espalmada pelo peito liso do deus e, num movimento brusco, agarrou-lhe um mamilo avermelhado, apertando-o entre os dedos.

Dionísio gemeu alto, abrindo os olhos verdes e escuros como as folhas entre seus cabelos, e em sua surpresa... mexeu os quadris.

Uma linha fina vermelho-escura escorregou lentamente pela pele branca da lateral de seu abdome, mas, antes que pudesse manchar o tecido das almofadas, a bacante inclinou-se sobre seu senhor e lambeu o vinho derramado até a sua fonte, rodeando o círculo demoradamente com a língua, e então finalmente umedecendo os próprios lábios e sorrindo em satisfação. As outras explodiram num rompante barulhento de palmas, gargalhadas e gratificações ruidosas.

O jovem deus ergueu o tronco, sentando-se sobre as almofadas, e abriu um sorriso preguiçoso, guiando os dedos até o queixo da bacante morena e trazendo-a para perto.

BacanalWhere stories live. Discover now