Capítulo XVIII - Melhor Amigo

470 48 195
                                    

ALERTA DE GATILHO: Relacionamento abusivo

Tudo que eu quero nada mais é
Do que ouvir você batendo na minha porta
Porque se pudesse ver seu rosto mais uma vez
Eu poderia morrer como um homem feliz, tenho certeza

Quando você disse seu último adeus
Eu morri um pouco por dentro (...)
Mas se você me amava
Por que você me deixou?

— Kodaline, "All I Want"

Dionísio chutou a porta do Palácio da Paixão, quase matando pelo menos dois servos de susto.

Estava cansado daquilo.

Conseguiu ouvir as dobradiças rachando, mas dispensou sua preocupação, não era como se fosse a primeira coisa que quebrara na casa do amigo, ele iria perdoar.

Eu acho...

— Senhor Dionísio! O que... como...?

— Eu sei que ele está aqui! — o pequeno adiantou, para seja lá qual serva que ele não conseguia ver. Antes que eles começassem a dizer que Eros havia saído e não podia recebê-lo, como estava acontecendo sem pausa nem precedentes nos últimos meses. Tinha tido muita paciência, uma paciência excepcional para um deus da Emoção. Mas agora Eros iria vê-lo querendo ou não! — Não tente me dizer que não, eu sinto o cheiro dele daqui.

— M-mas... — gaguejou uma voz diferente. Era masculina, mas suave, o emissor também invisível para ele. — Nosso amo está... ocupado, senhor. Seria melhor se...

— Eu espero! — Dionísio cortou, já entrando a passos largos nas primeiras salas do castelo. Até achar uma confortável e opulenta poltrona vermelha e se esparramar nela. — Viu? Eu estou esperando.

Eloi e Daria se entreolharam, podendo ver-se por detrás daquela camuflagem, ainda meio chocados. A mulher fez um sinal de que iria avisar aquilo ao seu amo e o rapaz apenas concordou, já pensando em distrair o deus do vinho com alguma bebida. Daria tinha belos cabelos cacheados cor de mel e olhos azul-turquesa, uma beldade digna no Palácio da Paixão.

Dionísio balançou as pernas delgadas, expostas pela túnica curta, como uma criança inquieta e estupidamente cheia de açúcar, um sorriso que quase partia suas bochechas. Seus pés nem alcançavam o chão quadriculado por culpa aquele estofado alto, mas nem importava.

— É Eloi, não é? — ele perguntou de repente, surpreendendo o servo que já estava para sair de fininho dali.

— Ah, eu... sim, senhor. — ele disse, piscando, impressionado por ele saber que ainda estava ali, e mais ainda por lembrar seu nome. Fora apenas um de muitos de Eros deixara o menino ver de verdade. — Como...?

— Eu consigo ouvir o seu coração batendo. — Baco explicou, tranquilamente, ainda brincando com os próprios pés. — E não fiquei longe tempo o suficiente para me esquecer. Você é o menino com cabelos de fogo e cheiro de avelã. — esclareceu, virando o rosto para o exato lugar onde o servo se encontrava, assustando-o um pouco. — Eros sempre disse que você era o seu favorito.

Eloi corou até a última célula de epiderme, o elogio indireto do seu amo lhe trouxe um calor ameno e delicioso no seu peito e ele se viu sorrindo bobamente, a expressão de um filhotinho afagado pelo dono. Confiante de que aquilo não ofenderia o seu senhor, acabou dispensando sua invisibilidade, e mostrando-se ao deus do vinho.

— Olá. — Dionísio disse, sorrindo. Quase rindo na verdade, os cachos desmantelados pelo estofado do assento. — Ah nossa, você é quase tão pequeno quanto eu! — exclamou, apoiando o indicador num dos lábios vermelhos. — Eu não me lembrava disso. Você encolheu? — perguntou seriamente. Era muito raro para ele conseguir olhar alguém nos olhos.

BacanalOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz