iii. tracked

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Ao pisar com o pé direito dentro de seu doce apartamento, Harry só queria passar direto pelo papel de parede encharcado, tomar um banho quente e relaxante, saborear uma boa xícara de chá e ir deitar no meio dos meus edredons quentinhos. Se desse sorte, George se ofereceria para uma massagem frouxa em seus pés e eles dormiriam agarrados pelo resto da noite.

George sempre foi muito resistente quanto ao local que morariam depois que se casassem e, como Harry não abriu mão do lugar, ele se viu forçado a permanecer no local — não que passasse muito tempo lá, porque vivia em viagens de trabalho.

Toda a decoração tinha um toque especial do homem de olhos verdes. Tons pastéis, quadros minimalistas, móveis claros e prateleiras com pequenos vasos de flores enfeitavam quase tudo por lá.

Ele sente muito orgulho de seu lar, mesmo com todos os defeitos que George insiste em listar. Era ali que ele se protegia do frio, da chuva e do calor. Ali ele teve momentos que guardará para sempre e nada e ninguém poderá mudar isso.

A mãe de Harry, Anne, organizou tudo antes de se aposentar da carreira de corretora de imóveis. Foi graças a ela que Robin, seu esposo, conseguiu um bom desconto pela compra e presenteou o enteado e seu companheiro. Com lágrimas nos olhos, disse que aquilo era apenas uma pequena parcela de tudo o que Harry merecia, agradeceu por todas as alegrias proporcionadas e por poder ter a chance de ter um filho do coração tão incrível.

Seus olhos verdes sempre brilham ao lembrar desse dia.

Ao contrário de tudo que esperava para sua fantástica noite, quando foi encher a pequena banheira para relaxar, George o impediu.

— Chuveiro, Harry. Não demore mais que dez minutos e, por favor, tira essa tinta horrível do cabelo.

— Banheira — resmungou. — Estou muito cansado.

— Temos um jantar na casa dos meus pais.

— Nem vem, George. Acabei de chegar de um hospital, caso não se lembre.

— Você adora causar confusão, não é? Você tem meia hora e eu estou contando — saiu batendo os pés.

— Vá sozinho, simples assim — Harry retrucou.

O acastanhado tornou a entrar no banheiro completamente irritado, se aproximando do esposo e o segurando pelos ombros.

— Nós já conversamos diversas vezes sobre eu odiar essa sua falta de respeito comigo. Somos casados e você tem o dever de me acompanhar em um jantar de família, ok? Não quero mais ouvir sua voz — chacoalhou seus ombros com força e o soltou.

— Você não é meu pai — Harry retrucou baixinho, com medo de sua reação.

— Vinte e cinco minutos. Estou contando.

Ele não teve outra saída.

Nos últimos anos, passou a desconhecer algumas atitudes da pessoa que o levou para o altar. Ou talvez fosse coisa de sua cabeça. George também tinha o direito de ficar irritado com as circunstâncias que fugiam de seu controle.

Mesmo esgotado, se vestiu com o melhor casaco de seu armário e secou os cabelos — agora naturais — com um difusor, antes de ir para a sala. Jantares em família eram especiais para seu esposo e ele respeitaria isso.

Lembrou-se das janelas abertas e da garrafa d'água em cima do balcão da pia quando George estava manobrando o carro. Sem querer prolongar o inevitável e deixar o outro ainda mais irritado,se contentou em observar a linda paisagem da cidade durante a noite.

A casa de seus sogros não era tão longe e como as ruas não estavam tão cheias, chegaram rápido.

Era cômica a forma como sempre se sentia deslocado quando os portões imponentes se abriam. Seu estômago revirava, seus olhos brilhando para o belo jardim. Ninguém em sã consciência poderia negar que era um casarão extremamente maravilhoso. A entrada exalava poder, com um caminho de pedras decorativas que formavam trajetos distintos, sempre se encontrando ao fim, dando a volta em um lindo chafariz com uma estátua de Jesus — loiro, cabelos caídos aos ombros, expressão serena e braços abertos. Dava para enxergar a estrutura da casa, com janelas importadas, vidros extremamente limpos e lustrosos, cortinas feitas de tecidos chineses. Mais longe, uma garagem com carros de diferentes tamanhos, cores e marcas e a grande porta de entrada, onde Joseph e Chloe Warnock os esperavam, acenando nada animados.

aneurysm • lwt+hesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora