xi. you surprise me everyday

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Nos dias que se seguiram, Louis percebeu que uma onda de desânimo e infelicidade atingiu Harry em cheio. Mesmo com os telefonemas frequentes de seus pais e irmã, as caminhadas que faziam pela manhã e a mais tranquila paz que pudesse ser oferecida, ele parecia sempre estar caindo por vários metros de altura, perdido em seus próprios pensamentos, agarrado ao próprio corpo e com o olhar sem vida.

Diferente do que imaginaram, o uso da tala — que Louis correu para comprar na farmácia mais próxima no dia posterior à ida no hospital, uma vez que haviam esquecido — tinha se tornado algo bem simples, já que Harry não tinha ânimo para fazer muitas atividades e ficava frequentemente com a mão imóvel. Ele era estimulado pelo médico a exercitar os dedos várias vezes por dia, mas fazia apenas por alguns poucos minutos e parava, achando a parede mais interessante.

Nesse mesmo dia, no período da tarde, eles fizeram uma visita à casa dos Styles. Harry contou boa parte das humilhações que havia passado nos últimos anos, ainda omitindo detalhes muito importantes por vergonha. Essa era uma das coisas que ele se pegou fazendo muito quando o assunto era o seu casamento abusivo: esconder o episódio de estupro, as palavras sexistas e acusações de traição. Louis cruzava seu olhar com o dele diversas vezes enquanto aconteciam pausas e ele tomava fôlego para continuar, tentando assegurar de que tudo estava bem e de que ali, naquele ninho de amor, não havia espaço para julgamentos. Harry se sentiu bem menos culpado por não ter sido repreendido em nenhum momento por não contar coisas que o outro sabia.

A tarde se passou tranquila com um Harry sendo mimado pelos pais e mimando Gemma — a mais nova universitária da família — enquanto Louis os observava, não querendo quebrar o clima amoroso da família. Ele até tinha sugerido que fosse para outro lugar para que eles aproveitassem o momento em particular, o que foi negado por todos, em especial o homem de olhos verdes, que tentou mantê-lo no meio de todas as conversas e brincadeira. No começo da noite, eles usaram alguns minutos para que pudessem conversar a sós no jardim da casa, decidindo o que fariam a partir dali. Harry ficou em silêncio por um tempo considerável, esperando que Louis sugerisse algo. Murmurou que não podia ficar ali com os quando o médico fez menção de dizer algo e se calou, também não sendo questionado sobre. Foi perguntado se ele gostaria de voltar para a própria casa para ver como seria o andamento das coisas ou se gostaria de continuar como estava. Obviamente, escolheu a segunda opção timidamente, estudando a expressão de Louis para ver o que ele realmente pensava sobre aquilo. Quando percebeu que não havia nada, nem mesmo um bufar disfarçado, puxou o amigo para perto e o abraçou profundamente, mostrando com o gesto sua eterna gratidão.

Eles estabeleceram rapidamente uma relação afável e agradável, onde conseguiam fazer e conversar sobre qualquer coisa e respeitar seus próprios espaços. Harry apreciava muito a atenção que recebia, sendo tratado como se fosse um bem precioso e sentindo sempre como se estivesse em um pedestal dando uma palestra importante. Em contrapartida, muitas vezes sentia um súbito desalento, que fazia com que se fechasse ao redor de si mesmo, sem querer conversar ou fazer qualquer outra coisa que o distraísse.

Louis não se importava de perder o tempo que fosse necessário ouvindo sua fala lenta e suas histórias imensamente detalhadas, assim como não se importava de cozinhar, sair para comprar mantimentos e arrumar a bagunça pequena que se instaurava inevitavelmente. As palavras nunca se perdiam no ar porque ele absorvia todas elas. Quando ele percebia a retração de Harry, tentava se entregar por completo de muitas formas, procurando opções novas de jogos que pudessem jogar juntos, subindo e descendo as escadas com pilhas de livros grifados para que analisassem boas frases, acionando a assistente pessoal de seu celular para que ela contasse piadas toscas que arrancavam dele pelo menos um sorriso de lado, criando playlists animadas e sugerindo que pensassem em atividades incríveis e originais para as crianças do hospital. Poucas coisas funcionavam, mas ele nunca desistia de tentar.

aneurysm • lwt+hesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora