xiii. kiss me where i lay down my hands press to your cheeks

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Harry se fechou totalmente no dia seguinte.

Ele não desceu para tomar café, não quis caminhar, não cuidou do jardim ou do bonsai e ficou o tempo inteiro deitado, observando a varanda do quarto. Louis tentou entender o que estava acontecendo diversas vezes e não obteve nenhuma palavra, optando por respeitar o espaço dele e esperar o tempo que fosse necessário para que ele se sentisse confortável em contar.

Os pensamentos autodestrutivos voltaram com toda a intensidade. Algum tempo se passou desde que ele se sentiu tão insuficiente ao ponto de não conseguir conter as lágrimas que insistiam em ser libertas e a dor lancinante em seu coração.

A forma como eles dormiram e acordaram, a inquietação de ver o médico com outra pessoa, as palavras doces que trocaram… todos momentos da noite anterior passavam em sua mente sem cessar. Ainda conseguia sentir os braços delicados de Louis ao seu redor, o beijo que recebeu na nuca, o apelido carinhoso que saiu de seus lábios e seu sorriso perfeito. Se sentia uma piada completa.

Foi um dia longo e maçante para os dois.

Louis regou as plantas, conversou um pouco com o bonsai e ficou existindo na sala. A televisão ficou muda o dia inteiro, pois ele tinha esperança de ouvir seu nome ser chamado pela voz que ele aprendeu a apreciar tanto — o que não aconteceu. Ele não almoçou e se contentou em tomar muita água ao longo da tarde.

Quando a noite caiu, procurou ingredientes na despensa e geladeira e decidiu fazer um caldo de abóbora com frango. Estava acostumado a preparar a receita, porém, dessa vez, deu seu melhor para que ficasse esplêndida e que Harry gostasse.

Perto das oito, deu dois pequenos chutes na porta do quarto para indicar sua presença e se atrapalhou para conseguir girar a maçaneta. Quando conseguiu, caminhou no escuro até a beirada da cama e deixou a bandeja que segurava lá.

— Harry?

Silêncio.

Andou até a cômoda e procurou algo na primeira gaveta. A luz que entrava da rua pela porta aberta da varanda o ajudou a encontrar rapidamente. Plugou o abajur na tomada mais próxima e observou a mágica.

— Espero que goste dele — comentou, forçando um riso. — Eu gostei muito quando comprei.

Era uma borboleta média e transparente que brilhava com as cores do arco-íris, formando uma sombra razoavelmente grande e colorida na parede.

— Quero me desculpar, caso tenha feito algo que você não gostou e que te deixou desconfortável — tentou. — Hoje meu dia foi péssimo… Senti falta da sua voz, de você conversando com as plantas, me fazendo companhia na cozinha e na nossa caminhada matinal, que eu não fiz, aliás. Me acostumei rápido com a ideia de te ter por perto — confessou. — E, claro, não me arrependo — acrescentou.

Harry continuou imóvel, respirando alto e sem demonstrar qualquer emoção.

— Não vou te forçar a falar, só vim deixar o jantar, ok? — Perguntou, mesmo sabendo que continuaria falando sozinho. — Eu fiz um creme de abóbora com frango e trouxe pralinês, tomara que goste. Boa noite, H. Eu venho correndo se você precisar de algo, é só me chamar.

O médico se virou, decepcionado, e caminhou até a porta, pronto para sair. Antes, porém, finalmente teve seus desejos atendidos, ouvindo a voz chorosa de Harry sussurrando:

— Lou, a culpa não é sua. Me desculpa por ser todo errado.

Ele voltou correndo.

— Você não é errado, Harry. Você é mais do que certo.

— Eu quero ir embora — revelou, se sentando e apoiando a cabeça nos joelhos.

A postura de Louis caiu visivelmente e ele gaguejou como nunca fizera em nenhum episódio de sua vida. Ele sabia que esse dia chegaria, só não esperava que fosse tão rápido.

aneurysm • lwt+hesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora