xix. changes

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Uma ligação um tanto quanto misteriosa despertou o casal em uma manhã. Louis atendeu falando baixo e sem muitos detalhes, sem nem mesmo revelar quem era do outro lado. Ele agiu da forma cotidiana, dando um beijo em Harry e o desejando bom dia, indo para o banheiro fazer a higiene matinal, escolhendo uma roupa para passar o dia…

Ele avisou que precisava ir para o hospital com urgência participar de uma reunião e resolver algumas outras coisas com a administração e Harry, sem desconfiar muito, aproveitou para pegar uma carona até o apartamento. O jaleco, a mochila e a marmita térmica com lanche que ele usualmente levava estavam no carro, o medico não parecia diferente, então, tecnicamente, não haviam motivos para desconfianças bobas.

A conversa que tiveram no outro dia foi muito importante para Harry criar coragem e rever vários aspectos de sua vida. Ele percebeu que adiou diversos assuntos e situações por tanto tempo e sem necessidade alguma, se obrigando a viver em um passado traumático, relembrando momentos ruins e se privando de novas experiências. Honestamente, ele sabia que não ia se curar de um dia para o outro, mas se julgar e culpar pelo que aconteceu também não o levava a nada. A nova relação em que decidiu estar só daria certo se ele conseguisse reestabelecer o amor próprio, pois apenas assim conseguiria retribuir o amor de Louis com todo o seu coração.

Por isso, naquela manhã ele vestiu um shortinho confortável e uma camiseta macia e ligou para Gemma para perguntar se ela não gostaria de passar um tempo com ele brincando de ser decoradora de ambientes, como faziam antigamente. Ela prontamente aceitou, alegre, e correndo ainda com o celular na orelha para se trocar — jamais desperdiçaria as ocasiões incríveis ao lado do irmão.

Harry fez uma lista mental das coisas que planejava fazer: 1. trocar os papéis de parede; 2. limpar os rejuntes dos azulejos e pisos; 3. dar uma boa faxina na lavanderia e atrás da máquina de lavar; 4. arrumar um destino para as bugigangas dentro do armário da pia; 5. jogar fora tudo o que remetia a George; 6. doar as roupas de cama; 7. se possível pintar as paredes. Ele não tinha certeza se conseguiria fazer tudo unicamente naquele dia e se outras coisas surgiriam na lista, mas estava completamente certo de algo.

Não queria mais aquele apartamento.

Mesmo que as inúmeras lembranças boas e o amor que sentia pelo cafofo que chamou de seu pelos últimos anos o deixassem com um pé atrás, ele precisava ser forte e deixar essa parte ir embora de uma vez por todas. Sabia que seria melhor dessa forma.

Ainda não tinha certeza se a melhor opção era alugar ou vender o lugar. De qualquer forma, conversaria com Robin e sua mãe antes para saber o que eles achavam da ideia.

Tinha certeza que seria aceito de braços abertos na casa dos pais por algum tempo, até encontrar outro lugar que fosse tão confortável quanto, e juntaria o máximo de dinheiro que pudesse nesse período, já que grande parte da reserva que tinha se foi com os medicamentos e Dorothy. Não era tão gastão, então talvez não fosse ser tão difícil…

— Amor, chegamos — Louis o tocou na coxa para conseguir atenção assim que estacionou. — Uma moeda por seus pensamentos? — Ofereceu.

— Eu estava pensando em deixar esse apartamento. Na verdade, acho que já decidi e você me ajudou nisso... depois daquela conversa que tivemos. Ela me ajudou muito. Gemma vai vir daqui a pouco para organizarmos algumas coisas. O que você acha disso?

— Se é isso o que você realmente quer, eu te apoio. Já decidiu tudo certinho?

Harry explicou o que tinha planejado até agora. Limpar tudo, doar — ou em caso extrem, jogar — as coisas fora, conversar com Anne e Robin, pedir para ficar lá... Isso certamente o ajudaria a não ficar completamente centrado na audiência que se aproximava a cada dia.

aneurysm • lwt+hesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora