xix. (pt 2) i love you too

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— Lou, você pode pintar minhas unhas? — Harry perguntou baixo ao sair do banheiro carregando uma cestinha de vime.

Louis tinha várias cestinhas daquela espalhadas pela casa para organizar as coisas.

Harry se acomodou ao lado do médico na cama que dividiam e tentou tirar a atenção dele da televisão fazendo barulho com os vidrinhos de esmalte. Uma pequena coleção já estava formada e ele se sentia feliz por isso.

Louis abriu os braços e afastou o pequeno recipiente, pedindo silenciosamente que Harry se encaixasse ali. Seus olhos azuis estavam inchados de cansaço e ele parecia molenga enquanto o outro parecia um raio de agitação.

Quando o mais alto se encaixou dentro do abraço, Louis pôde sentir a rapidez das batidas do coração dele e mesmo que não fosse surtir efeito, seu primeiro reflexo foi acariciar o local.

— Qual cor você vai escolher? — Ele começou a roçar os lábios pelo pescoço alvo despretensiosamente. — Prometo que vou fazer o meu melhor!

— Eu pensei que seria bom se você escolhesse…

— Hmm, vamos ver… — ele riu carinhosamente. — Talvez um rosa clarinho-

— Rosa não!

— Pensei que eu fosse escolher, Hazza — retrucou.

Harry resmungou alto e uma carranca se formou em seu rosto enquanto Louis examinava minuciosamente cada cor disponível.

A chegada do dia da audiência trouxe ansiedade e dilemas. A necessidade de resolver tudo o mais rápido possível e ver a justiça funcionando esteve presente em todos os outros dias, e especificamente naquele, ela tinha evaporado. Harry nunca esteve dentro de um tribunal antes e sequer sabia como aquelas coisas funcionavam. Mesmo com todo o tempo passado, o afastamento e o processo lento e gradativo de recuperação que teve, olhar de novo nos olhos de seu agressor era completamente diferente. Tinha medo de não conseguir e retornar para o escuro…

O escuro da mente foi o pior local que percorreu durante os anos que viveu. Ecoavam vozes, gritos e imensa dor. Uma dor lancinante e que parecia eterna. Foi tão, tão difícil conseguir sair de lá e enxergar o sol brilhando novamente enquanto gritava a plenos pulmões e ninguém escutava.

Não tinha certeza se conseguiria enfrentar tudo de novo.

— Lindo — Louis interrompeu os pensamentos obscuros sem perceber. — O que você acha de preto?

Harry não escutou a pergunta, só estendeu a mão direita e esperou que o médico conseguisse trabalhar naquela posição.

Louis pousou um beijo no ombro coberto do professor e fez o seu melhor para conseguir pintar direitinho. Amava esses momentos que tinham juntos e, mais ainda, sentia prazer em cuidar de Harry, por isso sempre fazia com capricho e zelo. Não sabia se devia dizer palavras de conforto ou simplesmente continuar em silêncio.

Ele fez uma bagunça enorme borrando todos os dedos e manchando os lençóis com o esmalte grudento, e se Harry sorriu com isso, toda a sujeira ao redor não importava nem um pouco.

— Eu preciso tomar banho e ir — Harry avisou quando eles terminaram de gargalhar e trocar beijos risonhos. — Estou com muito medo… — segredou.

— É uma merda, mas você sabe que isso precisa ser revolvido o quanto antes, não é? Você pode sair da sala e, caso não se sinta bem, sua advogada pode falar por você...

— Só de pensar em olhar para ele de novo me causa tantos arrepios e tensão e-

— Eu sei que sim, e sei também que você é forte e vai conseguir enfrentar esse dia complicado. Ele vai pagar pelo que fez e você vai seguir a sua vida sem ter precisar sentir medo, okay? Você confia nisso?

aneurysm • lwt+hesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora