7. O Primeiro Contato

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John

As copas das árvores balançavam, inundando os meus ouvidos de sons do passado. Era assim que eu me lembrava do balançar das folhas das árvores. O orfanato se encontrava perto da floresta, frequentemente acordávamos dessa maneira. Às vezes era assustador para aquela idade. Atualmente eu vivo na cidade, mas às vezes a carência da minha mãe por minha presença em sua casa me fazia passar a noite aqui, em sua casa.

A água gelada refrescava meu corpo, enquanto caia em chuviscos sobre mim. Não era sempre que a água me afetava, o efeito que ela causava em mim dependia da quantidade de tempo que eu passava sendo atingida por ela. Às vezes elas me atingiam como agulhas, perfurando a minha pele, me tornando algo peculiarmente fraco.

Ainda de toalha, procuro algo no meu antigo guarda-roupa, que ainda serve em mim. Não demorei muito a encontrar um terno novo. Minha mãe sempre deixava algo reservado caso eu resolvesse aparecer. Olhei para trás quando o barulho de alguém abrindo a porta no meu ouvido. Não tenho costume de fechar a porta, perdi esse hábito desde quando comecei a morar sozinho.

A mulher de franja adentrou o quarto sem me avisar que era ela que estava chegando. Parou antes de se aproximar mais. Observou o meu corpo, e mordeu os lábios em seguida. Esse era um dos motivos que eu raramente frequentava essa casa. O modo como a minha irmã adotiva me passou a olhar há algum tempo.

— Valéria, eu estou de toalha. — Ela me olhou como se tivesse sido ofendida.

— Eu não vejo através da porta.

— Não se ofenda.

— Eu não estou.

— Então. — Apontei para porta, insinuando que ela se retirasse. Valéria enrubesceu, e saiu um pouco constrangida.

Ela não apareceu para tomar café com a gente. Era sempre assim quando eu a tratava com um pouco de indiferença, depois de um tempo ela me perdoava. Mas não demorava muito para que acontecesse de novo.

Peguei meu carro na garagem, e segui para o Café naquela manhã. O trânsito estava um pouco movimentado. Fiquei uns 20 minutos no engarrafamento. Eu estava atrasado. Minha vaga no estacionamento estava ocupada, isso era indicio de o que o Café já estaria lotado. Constatei isso ao entrar na loja. As mesas estavam todas ocupadas, algumas pessoas esperavam no balcão. Foi então que escutei algo que me fez sentir paralisado no meio do café. Escutei com toda clareza uma voz de criança me chamando. Não o John, mas sim o Brian. Era ela. Como um sopro a voz desapareceu. E quando me virei, eu a vi.

Seus olhos intensos estavam cravados em mim. Com uma bandeja em mãos, ela ficou por alguns segundos me observando, foram segundos que pareciam eternos. Algo me convidou para entrar de volta na realidade. Olhei de canto de olhos para a mesa dos clientes ao meu lado, que esperavam impacientemente para serem atendidos. Para quebrar o transe entre a garota desconhecida, sinalei para ela que fosse atender a mesa.

Andei com passos largos até o elevador. Com os olhos da desconhecida em minha mente, segui até a minha sala. Retirei o terno, e fui até a janela. Respirei fundo, tentando me tranquilizar. Não misturo negócios com romances, então não misturo a relação chefes com funcionários. Ela estava descartável para mim, mas seus olhos ainda insistiam em ficar em minha mente.

Também não podia negar, que ela era bela. Bela, e mal-humorada, pude notar isso, quando eu já observava ela pela terceira vez nas câmeras da loja. Eu estava ficando maluco. Nunca um ser humano me afetou tanto. Desliguei a tela do computador não querendo olhar mais. Se meu interesse não passasse teria que a mandar ir embora. Não queria chegar ao ponto de querer correr atrás, de querer investir. Eu definitivamente estava ficando maluco ao pensar nessa possibilidade.

(Completa) Sopro Congelante (Todos os passados)Where stories live. Discover now