29. Me chame de Diana

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Diana

Papai está melhor. Talvez daqui a dois meses ele possa ter alta da clínica onde foi internado. Ele não diz nada quando eu o visito, mas o seu olhar diz mais que palavras: Traidora. Embora os membros da Força Especial me vejam da mesma maneira que o meu pai, eu me vejo de outa forma. Sei que fiz a coisa certa, e consigo dormir à noite por isso.

Um ano se passou desde aquele ocorrido. Desde que peguei o celular preso em minha cintura e gravei as celas das Forças Especiais em pleno funcionamento. Eu não tinha muito o que fazer naquele momento já que Stephenie estava ocupada. Ocupada com o meu pai. Tentando mostrar o quanto as pessoas presas naquelas celas poderiam sair de lá feridas, tanto físicas como emocionalmente, mas ela tinha um jeito peculiar de mostrar a verdade.

Caminhei livremente por aquelas celas, lembrando-me que já presenciei algumas torturas, muitos agentes se divertiam em assistir as cenas.

Abri os arquivos dos computadores, apagando tudo que estava lá, referente a John, Max, Agatha. Mas eu sabia que o arquivo da memória do meu pai eu não conseguiria alcançar, talvez esse seja o motivo de Stephenie ter exagerado tanto. Mas ela também queria se vingar. Percebi isso quando ela saiu da última cela que levou o meu pai para visitar com um sorriso no rosto. Ela estava satisfeita.

Retorno para casa, venho de mais uma longa e exaustiva audiência. Fui dispensada das Forças Especiais logo depois que expus o vídeo, e agora eu luto para provar que tudo o que acontecia na 1ºPrisão realmente aconteceu.

Me acomodo no sofá, observo o local. Me sinto só. Esse foi o destino reservado para mim. Às vezes eu me sinto incomodada, as vezes penso que mereci. Nenhum deles me procurou mais.

E quando deixei a 1ºPrisão aquele dia, o sol já estava raiando, mas eu ainda esperava encontrar ele lá. Mas Max já tinha ido. Não quis ficar por pelo menos alguns minutos a mais. Queria que ele tivesse ficado. E falado tudo o que pensava ao meu respeito. De todos eles, Max foi a pessoa que eu mais magoei. Tem dias que penso no pai dele. Daniel só era um homem triste. Não merecia ter visto aquilo. Não merecia ver as Forças Especiais invadindo sua casa daquela maneira e capturando o seu filho.

Vou para cozinha, a pia está cheia, louças acumuladas de dias. Queria saber o que Agatha está fazendo agora. Faz um tempo que ela se foi. Ninguém me contou, mas as vezes passo horas em frente a mansão de André, querendo ver algum sinal dela por lá, mas não havia nada que desses indícios que Agatha estivesse lá. Queria perdi perdão.

Às vezes vou ao café, John ainda fala comigo, isso é raro de acontecer. Às vezes é sorte, ele está chegando no café, eu o chamo, e acredito que para ser educado, ele vem até mim. Responde as minhas perguntas com respostas curtas, e segue para o elevador.

Depois de ajeitar toda a cozinha, tomei um demorado banho e com uma toalha enrolada na cabeça, me acomodei mais uma vez no sofá. Peguei o controle, que estava sobre a mesinha de centro, e liguei a TV. Fui surpreendida com uma reportagem ao vivo. Eles estavam em frente a 1ºPrisão. Me coloquei de pé rapidamente, aproximando-me da televisão.

— Amanhã no horário das oito da manhã, a 1º Prisão vai ser finalmente demolida.

Fiquei atordoada com a notícia. A minha primeira luta eu tinha vencido, agora me restava lutar para as leis imposta pelas Forças Especiais sofressem uma grave mudança.

Demorei a pegar no sono com aquela noticia remoendo o meu interior. Acordei cedo, disposta a ver tudo de perto, mas uma faixa amarela limitava onde as pessoas poderiam ficar. Era bem longe, que a prisão parecia pequena de onde eu estava. Me aglomerei no meio da multidão de curiosos, até que alcancei a faixa. Alguém deu uma batidinha de leve em meu ombro, olhei para cima e vi Stephenie. Usava óculos escuros, mas os tirou para observar.

— Quanto tempo! — Disse ela. — Não nos víamos desde o que fizemos juntas na prisão. Ela afirmou antes de me deixar as sós com o meu pai que, eu tinha tanta culpa quanto ela de ele ter ficado como ficou, fora de si. Uma maneira de ela me torturar mesmo eu nunca mais a vendo. — Veio assistir o fim de uma era? As Forças Especiais estão caindo. Como você se sente fazendo parte disso? — Não respondi. Eu sabia que ela estava me provocando. — Você trai facilmente as pessoas. Primeiro o Max, depois Agatha, John e agora as Forças Especiais. Diana, Eleanor, como eu posso te chamar mesmo?

Me virei, determinada de sair de perto dela, mas o caminho estava interditado pelas pessoas que não paravam de chegar.

A destruição da 1º prisão não era para se transformar em um espetáculo, mas fizeram disso um. O homem com o controle em mão, que detonaria os explosivos disse algumas palavras para a câmera, seu rosto era uma carranca, e as vezes ele balançava a cabeça quando as pessoas gritavam histericamente. Então ele iniciou uma contagem regressiva.

Cinco. Quatro. Três. Dois. Um.

Senti um pequeno tremor de terra, as pessoas se assustaram, mas eu permaneci com os meus olhos fixos na prisão, observando ela vindo a baixo, e logo mais uma nuvem de poeira cobrindo seus destroços até que não dava para ver mais nada.

Depois de minutos, as pessoas começaram a aplaudir. O homem com o controle, sorriu para a plateia. Acenou para os repórteres, e até mesmo para os curiosos, que gravavam toda a cena com seus celulares.

O interesse passou um tempo depois, algumas pessoas começaram a se dispersar e eu fiz o mesmo. Olhei para trás só para ver se Stephenie estava vindo atrás de mim, mas ela não veio, sumiu no meio daquela multidão.

Entrei no meu carro, afivelei o cinto, e suspirei ao olhar para aquela nuvem de poeira.

É só o começo, pensei.

Observei a minha carteira de motorista sobre o painel do carro. Eleanor Flynn, eu tinha que aceitar o fato de que essa era eu, mas muitas vezes eu sentia falta da Diana.

Levei papai para o meu apartamento nos meses seguinte. Ele estava bem, fisicamente, mas o seu psicológico ainda estava muito abalado. O estado estava o processando, por tudo que envolvia a 1ºPrisão.

Observo aquele velho homem, o antes perseguidor agora estar sendo perseguido, pela mídia, pelo estado. Nunca mais tocou no assunto Agatha, mas olhou para a foto dela em um cartaz colado em uma loja quando parei o carro antes da faixa para uma senhora passar.

Eu queria que ele realmente tivesse se arrependido pelo que fez em nome da "lei e da ordem", mas papai não é um homem de arrependimentos, a única coisa que eu conheço que eu sei que ele se arrepende, é quando ele olha para mim. Ele se arrependeu amargamente de ter me colocado nesta missão, e eu só tenho a agradecê-lo, se eu não tivesse entrado nesta missão, eu seria igual a ele, obcecada pela lei e pela ordem. Nem que para isso eu tivesse que passar por cima dos meus princípios.

Então se nesse momento, Stephenie perguntasse por qual nome eu gostaria que me chamassem, eu lhe responderia: Diana.

(Completa) Sopro Congelante (Todos os passados)Kde žijí příběhy. Začni objevovat