Penúltimo- 30. Tia Mariana

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Stephenie

O mundo mudou. Ele sempre muda, e desta vez a mudança para o nosso estado foi boa. Algumas leis estão sendo revista, a 1ªPrisão foi destruída, mas a memória das pessoas que viveram momentos de terror ali, jamais poderá ser esquecida.

O nome dele era Anthony. Meu irmão mais novo tinha um dom muito especial, porém incompreensível. Seus poderes eram parecidos com o de Vanessa, mas o dele vinha de uma forma mais intensa. Enquanto Vanessa consegue se transformar em sombra, ou até mesmo usá-la em seu favor, Anthony criava monstros com elas. Ele fazia isso apenas quando seu nível de estresse estava elevado, fora isso ele era um garoto normal.

Quando meus pais faleceram eu ainda nem tinha dezoitos anos, me responsabilizei por Anthony, embora eu ainda não conhecesse os seus poderes. Aos dezessete anos ele começou a se isolar, passava mais tempo dentro de casa, e gostava quando a noite vinha, era quando ele se sentia mais à vontade. Apagava a luz do quarto, e ficava lá, nas sombras, solitário.

Quando ele começou a temer a andar durante o dia, percebi que tinha algo muito errado com ele. Mas eu nada podia fazer, ele não aceitava a ajuda de ninguém.

Dois anos depois entrei para as Forças Especiais. Anthony continuava da mesma maneira, isolado, até a luz do quarto começava o incomodar.

Um dia cheguei exausta do trabalho. Escutei um barulho de estilhaço vindo do quarto de Anthony, corri para lá, desesperada, pensando que o pior aconteceu. Estava tudo escuro quando entrei, tateei a parede em buscar do interruptor, apertei algumas vezes, mas a luz não acendeu. Estava tudo tão escuro no quarto, que nem a luz dos postes da rua conseguia penetrar no quarto. Senti um tremor reverberar em minha coluna, e voltei para o corredor. Acendi a luz, e um feixe dela iluminou uma boa parte do quarto.

Anthony estava sentado no chão, bem próximo a cama. Tinha os braços em volta do seu joelho e chorava muito.

— As trevas estão me engolindo. As trevas estão me engolindo. As trevas estão me engolindo. — Disse repetidas vezes, partindo o meu coração. Nunca vi o meu irmão daquela maneira, e quando ele mudou a frase, senti que eu tinha que fazer algo urgentemente. — As trevas estão me engolindo, e eu estou gostando disso...

Olhei para baixo, e vi alguns estilhaços de vidro no chão. Anthony não queria ficar na luz, ele queria realmente ser engolido pelas trevas.

Dormir em seu quarto aquela noite, temendo por ele. A luz do sol entrou fraca através do tecido da cortina, Anthony resmungou, e cobriu a sua face com o edredom.

— Ele está ficando cada vez mais instável. — Disse eu ao meu parceiro de trabalho. Natan era a única pessoal que eu conseguia falar naturalmente sobre o meu irmão.

— Tem um cara novo na cidade. Um doutor. Que só lida com casos de meta-humanos, tipo o Anthony.

— Você quer dizer com os problemáticos. Por favor, Natan, não precisa economizar palavras. Você tem o endereço dele? — Perguntei, curiosa para saber se ele poderia resolver o problema do Anthony.

— Vou providenciar para você até na hora do almoço.

O consultório do doutor André ficava na sua própria casa. Uma mansão antiga que foi reformada a pouco tempo. Apertei o interfone, ansiosa, eu estava em horário de almoço por isso tinha pouco tempo. Fui recepcionada por uma voz feminina aguda.

— Oi, preciso falar com o doutor André.

— Você tem horário marcado? — Perguntou a mulher, que parecia impaciente.

(Completa) Sopro Congelante (Todos os passados)Where stories live. Discover now