19. Queimando

3.2K 446 78
                                    

O elevador parou suavemente. Fechei os olhos, e os abri rapidamente. Senti meu estômago embrulhar assim que a porta abriu. Não tinha limpeza aqui em baixo. Estava escuro e o lugar exalava cheiro de urina de rato. Stephenie olhou para o chão antes de sair. Fez sinal com a mão para que a acompanhássemos. Ainda tinha aquela careta de dor.

Elevou a mão ao nariz assim que o cheiro veio mais forte. Diana e John também fizeram o mesmo gesto. Algo pingou do teto, caindo sobre o meu ombro. Das mãos de John surgiu uma pequena chama, iluminando o local. Olhei para mancha dando um tom mais claro ao azul do meu uniforme. Cheirei o local da mancha, e soltei um suspiro ao não sentir cheiro algum.

As paredes estavam rachadas, e eu tentei não acreditar que o que eu vi em uma delas, não era o arranhado feito por uma pessoa. Imaginei ela, usando suas unhas, se segurando com afinco enquanto era puxada para seu destino cruel. Balancei a cabeça com força, fazendo essas imagens se esvaírem.

Stephenie tocou em uma parte da parede, deslizou sua mão para cima e para baixo, estreitou os olhos com força, tinha lágrimas neles, ela queria chorar. Seus lábios se retorceram, ela estava estranha. Então fiz o mesmo que ela, toquei na parede, mas não tinha nada. Deslizei minha mão por ela, e meus dedos roçaram no de Stephenie por frações de segundos, essas frações de segundos foram o suficiente para eu ver algumas imagens de horror que aconteceram por trás dessas paredes. Não é exatamente uma parede, a construíram assim para que caso alguém investigasse não descobrisse o que tem exatamente por trás delas. É uma cela.

Max está por trás de uma destas celas. E é isso que Stephenie está procurando. Mas até encontrá-lo, ela vai ver muitas coisas horríveis. Ela dar mais um passo adiante, fazemos o mesmo.

— Tem duas alas na prisão. Lá em cima. — Stephenie apontou para cima. — É onde eles enganam os vistoriadores. Eles mantinham aquelas celas lá em cima, caso eles viessem fazer a vistoria. Aqui é onde os prisioneiros realmente ficavam.

— Mas eles nunca saiam depois de cumprir suas penas? — Perguntei.

— Muitos saiam mortos. Alguns tão debilitados que um tempo depois morriam. E tem os que sobreviviam, era aqueles que se rendiam as Forças Especiais. Não dá para morrer todo mundo, Sara. Se assim fossem, as suspeitas contra as Forças Especiais ficariam mais forte.

Stephenie parou assim que pisou em uma poça de água. Olhou para os lados e depois para nós.

— Com certeza estão por aqui. Mas foi abandonado. Seu torturador não está aqui.

— Por que ele seria abandonado? — Perguntou John.

— Eles sabiam que nós estávamos vindo. — Respondeu.

— Como eles poderiam saber? — A chama sobre a mão de John aumentou de tamanho e Stephenie gargalhou.

— Não me olhe assim. — Disse ela para ele. — Consigo ver através de sua máscara, mas garanto a você que não fui eu que denunciei vocês. Agora fica frio, esquentadinho. Agatha acho que você pode cuidar dele para mim.

Segurei Stephenie pelo colarinho do macacão, a empurrei contra a parede de metal.

— Não estamos brincando.

— Eu também não. — Me empurrou para trás, e limpou suas mãos em suas roupas. — Eles vão voltar. Droga! E não vamos conseguir sair daqui, era isso que eles queriam o tempo todo. Todos nós aqui dentro. Preso como ratos. Pode acreditar, vai ter uma cela de tortura para cada um de vocês. — Apontou para mim e para John. — Preciso de um celular.

— Está no carro. — Disse John.

— É claro que está. — Nos olhou como se realmente estivesse lidando com amadores. — Onde está o André quando nós precisamos dele? — Stephenie correu em direção oposta onde estávamos indo, meu olhar e o de John se cruzaram. Sem perguntas seguimos atrás dela, John flutuando em sua prancha, eu sobre meu gelo, e Diana no chão.

(Completa) Sopro Congelante (Todos os passados)Where stories live. Discover now