28. Lar

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Agatha

Não sei se eu chamaria mais atenção usando ou não usando um casaco com o um gorro escondendo boa parte da minha face, era verão, e o sol estava intenso. Deixei a casa dos Leicam, apressada. Observei o cartão de crédito com o nome de André, o coloquei no bolso do casaco, apressando os meus passos. Eu tinha uma longa caminhada pela frente. Poderia optar por pegar um ônibus, mas os cartazes com a minha foto ainda estavam espalhados por toda a cidade.

Observo o homem caminhando, usava uniforme com um emblema das Forças Especiais, eles ainda estavam em suas posições. Não terminaram o que começaram. Pensei por que Stephenie não resolveu esse problema também. Mas eu era muito grata a ela, conseguiu se livrar do toque de recolher, e eu soube que a entrada e saída da cidade foram liberadas.

Abaixo a cabeça, atravesso a rua, o coração quase saindo pela garganta, não quero entrar em confronto caso o homem resolva me parar, mas ele está ocupado demais falando no comunicador. Faz perguntas, confirma algumas enquanto sigo o meu caminho. Meus ombros relaxam cada vez que a voz do homem fica mais distante.

Então ouço um carro cantar pneu, espio sobre o ombro, ele acabou de parar em frente ao homem. Ele entra, e o carro segue velozmente em minha direção. Penso em correr. Mas estou trêmula demais para ter qualquer reação, ao invés de acelerar os meus passos, o que falo é reduzi-los. O barulho do motor estar perto, passa por mim em velocidade alta, e eu paro, observando o carro segui em frente até ficar pequeno, some da minha vista, e eu suspiro, aliviada.

Olho ao redor, o bairro está silencioso, e as pessoas parecem ainda terem medo de sair de casa. Elas têm razão. Eu também teria. O toque de recolher foi finalizado ontem, quase no finalzinho da noite. E se tinha um toque de recolher, significava que a cidade estava em perigo eminente, um perigo inventado pelas Forças Especiais. Protejam seus filhos, era uma frase que eles usavam bastante.

Já caminho há alguns minutos, ainda é cedo, mas penso que estou perdendo um grande tempo caminhando. O centro da cidade fica muito longe do bairro onde estou. Sei que usar atividades inumanas poderá atrair as Forças Especiais, mas se eu não me apressar, tem os riscos de as pessoas saírem de suas casas, e uma delas me reconhecer. Faço a primeira rampa de gelo, deslizo sobre ela, e sigo assim, velozmente.

Avisto a entrada do centro da cidade, lá tem um grande movimento, de carros, pessoas. Paro imediatamente, e desço. Olho para trás, deixei um grande rastro e conto com a ajuda do sol para derrete-lo rápido. Me embrenho em um jardim, e saio do outro lado, quando olho novamente para a minha ponte de gelo, vejo algumas pessoas em sua frente, encarando-a, tocando-a, algumas delas fará o trabalho de avisar as Forças Especiais sobre o gelo. Me apresso em sair dali, puxo ainda mais o capuz.

Estou quase chegando ao meu destino. Sinto meu estômago se agitar. Eu realmente não queria que fosse a última vez, mas eu não tinha mais escolha, tinha que aceitar o que o destino tinha reservado para mim.

O café já está aberto. Nada mudou. Tudo continua do mesmo jeito. Estou um pouco distante, mas ainda dar para ver a rotina. Pessoas impacientes no balcão, esperando sua vez de ser atendido, uma delas recebe o seu café, e sai, passa por mim, apressada para ir para o seu trabalho. Algumas garçonetes atendem as mesas. Alguns tomam o seu café, solitários, outros estão em grupos. Há também alguns estudantes, suas risadas sempre são mais altas do que a dos demais. Um outro cliente trata mal um funcionário, outro manda refazer o café. O cheiro se tornou algo suportável.

Dou um passo adiante, será que estão ocupados demais para notarem a minha presença? Observo um cartaz com a minha foto, ainda está colado bem na entrada. Só preciso passar por algumas pessoas e seguir até o elevador, mas para isso preciso ser discreta, não posso ser vista.

(Completa) Sopro Congelante (Todos os passados)Onde histórias criam vida. Descubra agora