CAPÍTULO XIX

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07/01/2014

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07/01/2014

O CAMINHO para o colégio foi relativamente tranquilo, rimos de tudo o que podíamos, até mesmo do simples fato de o frio vento de inverno estar esvoaçando meus cabelos e os deixando tão apresentáveis quanto um ninho de pássaros.

Havia o deixado na porta do colégio alguns minutos atrás, agora estou a perambular pelas frias ruas enquanto reflito sobre minhas escolhas. Não creio que tenha sido certo sair do Brasil sem maiores explicações aos meus amigos íntimos.

Para ser sincera, apenas Leandro, meu chefe, sabe onde eu estou e o que me trouxe para este lugar. Não consegui confiar em ninguém além dele para contar sobre meu "segredo" e parte disto deve-se ao fato de que todos meus amigos são amigos de Elton e certamente o diriam minha localização assim que percebessem o quanto ele está "sofrendo".

Suspiro.

Conhecendo-o bem como conheço, sei que está a surtar com tudo e todos por não conseguir me encontrar; afinal, se há uma coisa que ele não fez, essa coisa foi aceitar o fim de nosso relacionamento.

Lembro-me de que ele disse que os momentos bons deveriam sobrepor seus erros. Mas como poderia confiar nele novamente? A confiança quebrada jamais pode ser recuperada, ao menos é assim que funciona comigo.

Paro em frente à uma praça arborizada, nada muito chique, apenas um círculo gigante com bancos esbranquiçados ao seu redor e árvores dispostas, estrategicamente, no centro. Coisa simples, porém belíssima.

Sento-me em um dos bancos de madeira que, por mais incrível que possa soar, estão em perfeito estado e ponho-me a admirar a praça, tal como uma criança admira o céu noturno, deixando que meus pensamentos vaguem para longe de Elton e de todo o drama que o cerca; me permitindo inspirar o ar puro de uma pequena comuna romana.

Permitindo-me, pela primeira vez em seis anos, viver apenas e exclusivamente por eu mesma. Sem pressão psicológica sobrepondo pressão psicológica.

É incrível como não nos apercebemos de que nos encontramos em um relacionamento abusivo até sairmos dele. Aí sim nossos olhos abrem-se para a dura realidade que estávamos a vivenciar.

Eu perdi as contas de quantas vezes o defendi para Leandro, quando ele dizia-me o quão abusivo Elton estava sendo comigo. Não serei hipócrita ao dizer que não sinto falta dele. Nosso relacionamento teve seus altos e baixos, teve seus anos românticos tal como teve seus anos abusivos. São dos anos românticos que eu sinto falta; é impossível apagar seis anos em um piscar de olhos.

E, sendo sincera comigo mesma, nem ao menos quero fazê-lo; afinal, tudo nessa vida nos serve de aprendizado, ao menos era isso que mamãe costumava dizer-me.

Cartas para RomeuWhere stories live. Discover now