10° Dia - 7 Escritores e Histórias

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Montanha da solidão

Autora: Virginia Dal Bo Ribeiro

CAPÍTULO 5

O mês de janeiro transcorreu sem maiores incidentes. A tal Dra. Rose não apareceu de novo. E Kevin voltou com suas meditações e canções ao som do tambor. Morin parecia apreciar esses momentos. Parecia mais relaxado. Com os olhos fechados. Como se estivesse visualizando lembranças felizes.

Morin começou a dar passeios pela montanha. E sempre voltava com um coelho ou esquilo e era quando tinham algo diferente para comer do que a comida enlatada do estoque de Kevin. Descer a montanha até a pequena cidade próxima era impossível com a neve. Algumas vezes, o homem loiro vinha com pingos de sangue no rosto, como se tivesse matado o pequeno animal com os próprios dentes.

Kevin tentava encontrar uma explicação lógica, contudo o fato de o próprio cara ter falado não ser totalmente humano. Bem... dava o que pensar. Kevin admitia a si mesmo fazer suposições desde as fantasiosas, como vampiro ou lobisomem até as lógicas como doenças mentais ou síndromes alimentares.

Ele sempre se sentia ridículo com qualquer das suas suposições. Mais cedo ou mais tarde teria que ter aquela conversa com Morin. Afinal, sentia que o homem seria parte de sua vida por um bom tempo. Ele precisava saber se a lua cheia era uma preocupação ou se era necessário dormir com um crucifixo no pescoço. Ele gargalhou com esses pensamentos fazendo com que Morim o olhasse levantando uma sobrancelha.

Olhando para o lindo homem loiro, deu um suspiro. – Eu estava pensando no fator não humano de seu DNA e seu eu teria que tomar cuidado na lua cheia ou em ter meu sangue drenado do corpo. – Kevin falava sem tirar os olhos do animal que esfolava e preparava para ser assado no forno à lenha da pequena cabana.

Uma risada cristalina fez o pelo de todo seu corpo arrepiar numa onda de prazer inesperada. Virou olhando com espanto em direção a Morin. Ele nunca tinha ouvido a risada dele. Foi o som mais lindo que ouvira na vida. Seu coração acelerou e uma vibração instalou-se em seu estômago e desceu até sua virilha. – "Minha Deusa Ishtar, estou completamente duro só com o som de sua voz". – Balançou a cabeça numa fraca tentativa de recuperar o foco no que estava fazendo.

Kevin viu com o canto do olho Morin fungar o ar como procurando um cheiro e olhando em sua direção. Ele corou sabendo no fundo de sua alma que de alguma maneira, Morin conhecia sua excitação e o fato de que o cara também ficou vermelho e desviou o olhar dizia tudo.

Durante esse tempo, dormiram juntos na mesma e única cama existente na casa. E, era só isso. No máximo Kevin abraçou Morin nas noites de pesadelo. E, tinha que confessar, o perfume do "prateado misterioso" acalmava os medos e a ansiedade de Kevin.

Deixando o pobre animal marinando numa mistura de ervas, cerveja e sal, limpou as mãos num pano e andou até a mesa pequena onde Morin estava sentado. – Vamos dar uma volta? Quero ver as condições da estrada, precisamos de suprimentos e terei que descer até a cidade de carro ou a pé. – Kevin sorriu com o balançar afirmativo do outro ao seu convite.

**

Eles andaram cerca de meia hora pela estrada. Não estava mal e daria para usar o carro. Foi quando Kevin sentiu um deslocamento de ar do lado de sua orelha e quando olhou o tronco de árvore do seu lado encontrou um dardo desses peludinhos com tranquilizante comum de ver no canal da National Geografic. Um rosnado retumbou do peito de Morin aumentando o estado de susto e alerta de Kevin.

De trás de uma árvore surgiu uma mulher. Kevin a reconheceu como a tal geneticista, Dra. Rose Stemberg. Ela não lembrava em nada a mulher simpática de quase vinte dias. Um sorriso sarcástico deformava seu rosto e um longo rifle nas mãos dizia que a visita estava longe de ser social ou amigável.

Antologia 2Where stories live. Discover now