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           Liv acordou no meio da madrugada por causa de um pesadelo angustiante, abrindo os olhos de súbito e o coração acelerado no peito.

Tinha sonhado com uma menina de longos cachos escuros, que corria para longe dela por uma floresta desconhecida. A inglesa não fazia a mínima ideia de quem era, muito menos conseguiu ver seu rosto, mas acordou com a garganta fechada em agonia.

Não podia perdê-la, a simples ideia deixou Liv apavorada. Acordou com a sensação de que estava com o nome dela preso em sua garganta, pronta para gritá-lo, chamá-la... Só que agora não conseguia se lembrar do nome dela.

Liv estremeceu e tentou expulsar o sonho da própria cabeça. Virou-se de lado, encontrando um Rollo adormecido junto à si, o corpo dele esquentando o seu.

Sorriu, a presença do viking acalmando-a. Ouviu a respiração dele, pacífica e cadenciada, sentindo o próprio coração amansar aos poucos.

Liv deixou sua mão acariciar levemente o rosto dele, precisando daquele contato. Ainda se pegava tentando adivinhar que estar com ele era real, ou ela estava alucinando novamente, como quando estivera presa na caverna.

Ficou uns bons minutos observando-o dormir, quase sentindo inveja do sono pesado e imperturbável que Rollo possuía.

O viking dormia feito uma pedra, e Liv supôs que poderia entender isso. Estava exausto das últimas duas semanas que tiveram, viajando de um lado para o outro, visitando Condes e suas cidades espalhadas por todo o território viking, com um exército volumoso, que crescia a cada parada que eles faziam em direção à Oslo.

Myslein se provara um homem de lábia inigualável, convencendo até o mais desconfiando dos Condes a se juntar à causa contra Erik.

Até agora, nenhum dos seis Condes que visitaram tinham dito não. Com o árabe e a fama — agora quase mística — de Rollo, ninguém queria ficar do lado de um suposto que Rei que fora banido e usurpara o trono de Aeren. A maioria deles ainda nem ao menos tinha ouvido falar do falecimento do antigo Rei antes da chegada de Rollo em suas cidades.

Liv tinha um bom pressentimento quando àquela batalha, mas temia por Anneke. Tudo que Liv queria era levá-la para casa em segurança, acabar de vez uma com aquela guerra interna, eliminar Erik da vida deles e poder seguir em frente.

Mas seguir para onde? O que faria quando todos os problemas acabassem? Voltaria a procurar por Iduna? Ainda havia algum sentido naquela busca?

E, a pergunta que ela mais temia fazer a si mesma: Depois de tudo, depois de como sabia que sentia em relação à Rollo... Poderia deixá-lo, queria deixá-lo?

Desejando se livrar daquelas perguntas inquietantes, Liv se levantou, sentindo um calafrio ao se afastar do corpo aquecido de Rollo.

Não quis pensar na ironia daquilo, ou como poderia ser alguma espécie de sinal. Deixá-lo a fazia sentir-se daquela maneira: o mundo simplesmente ficava mais frio, como o inverno rigoroso no qual eles estavam entrando.

A inglesa colocou seu vestido, as suas antigas botas — que Rollo guardara e trouxera consigo para devolver a ela — e um grosso casaco de peles sobre os ombros. Bem agasalhada, saiu da pequena tenda onde eles dormiam para a noite friorenta.

O acampamento estava imerso no silêncio da madrugada, quase que completamente escuro... Mas havia uma fogueira que ainda se encontrava acesa. E sentado em frente ao fogo, estava Myslein, com seu fino traje cor de vinho e detalhes que brilhavam à luz da fogueira.

Liv caminhou até ele, que ergueu os olhos taciturnos das chamas para encará-la. Pareceu surpreso, mas satisfeito em vê-la. 

— Problemas para pegar no sono, Lívia, querida? — Myslein sorriu do jeito que só ele conseguia, um sorriso cheio de segredos, mas também cheio de humor.

Imortais - O segredo dos deusesWhere stories live. Discover now