EPÍLOGO

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ENTÃO ESSA ERA A SENSAÇÃO DE ESTAR MORTA?

FOGO.

MORRER ERA ESTAR EM CHAMAS.

TUDO ARDIA, TUDO SUFOCAVA E ESTRANGULAVA.

NÃO HAVIA AR.

EU NÃO CONSEGUIA RESPIRAR E QUANTO MAIS TENTAVA, MAIS AFUNDAVA.

ONDE EU ESTOU, ONDE EU ESTOU, ONDE ESTOU.

O MEU MUNDO TINHA SUBITAMENTE SE TRANSFORMADO EM UM CAOS... TALVEZ ESSE SEJA O INFERNO.

SERÁ?

ATÉ QUE ATINGI A SUPERFÍCIE. AR FEZ OS MEUS PULMÕES QUEIMAREM. FINALMENTE SENTI O GELO DA ÁGUA PENETRAR MEUS OSSOS E DESPERTEI.

ESTAVA CEGA, NÃO CONSEGUIA VER OU RECONHECER Á NADA.

CEDO DEMAIS, OUTRA ONDA ME AFOGOU. E DEPOIS OUTRA.

ATÉ QUE NÃO TIVE FORÇAS PARA PROCURAR PELA SUPERFÍCIE MAIS UMA VEZ.

MEU CORPO PESADO LENTAMENTE AFUNDOU NA IMENSIDÃO AZUL.

E EU ME LEMBREI DAQUELE MOMENTO.

DAQUELA SENSAÇÃO.

EU A CONHECIA.

ANTES DE DOBRAR O TEMPO, ANTES DE DESAPARECER, EU TIVE UMA LEMBRANÇA DAQUELE MOMENTO. EU ME SENTI AFOGANDO.

MORRENDO.

ERA ISSO. EU ESTAVA MORRENDO. COMO TODAS AS OUTRAS COMO EU QUE VIERAM ANTES DE MIM.

MORTES TRÁGICAS, DESTINOS TRISTES.

ENTÃO ERA ASSIM QUE ACABARIA PARA MIM.

🦋

Tossi incontáveis vezes quando a água foi expulsa dos meus pulmões e eu despertei de súbito, completamente desorientada.

Coloquei pra fora do corpo uma boa quantidade de água do mar e meus pulmões se reduziram a pura brasa, chamuscando e protestando.

Meus braços não suportaram o peso do meu tronco e eu caí sobre eles com a bochecha na areia.

Estava exausta enquanto reaprendia a respirar novamente, mas meus ossos ainda tremiam.

De frio, medo, confusão.

Depois do que pode ter sido cinco minutos ou cinco horas, eu percebi que havia um céu azul sobre a minha cabeça. E que eu não estava sozinha ali naquele lugar desconhecido.

— Moça, você está bem?

A voz fez meu coração recém contido voltar a acelerar.

Por puro reflexo, sentei-me e encarei o homem — que na verdade não passava de um garoto sardento e assustado.

— O que estava fazendo nadando tão no fundo? Queria morrer?! — O garoto sardento gritou, arfando, mas ele parecia muito mais preocupado do que zangado.

Senti uma dor começar a nocautear minha cabeça sem parar. Estava zonza e vendo pontinhos pretos na visão.

— Eu... Eu...

Estava procurando uma resposta, vasculhando pela minha mente em branco por alguma coisa, quando tudo me atingiu feito uma das ondas do mar que quase me matara e lembrei de quem eu era. Lembrei de Rollo.

E que eu o tinha deixado.

Foi como receber um poderoso soco no estômago, tão forte que me inclinei para o lado e vomitei o restante da água — tudo isso enquanto chorava. Ou melhor, entrava em prantos. Simplesmente não consegui controlar a avalanche de sentimentos. A dor me incapacitou e virei uma bola inútil encolhida no chão. Aparentemente eu tinha conseguido, estava de volta, mesmo que não soubesse exatamente aonde.

— Ai, pelos deuses... Você precisa de ajuda! Mãe! A moça precisa de ajuda aqui! Venha rápido!

O meu choro cessou de imediato. Encarei o garoto, olhos inchados e visão turva.

— O que você disse?

Ele voltou-se para mim, assustado e muito nervoso, como se não soubesse o que fazer.

— Não se preocupe, minha mãe vai ajudá-la. Ela é uma ótima curandeira. Todos a adoram.

Curandeira. — Eu repeti, assombrada, sentindo um arrepio se alastrar pelo meu corpo trêmulo.

E foi só quando meu cérebro, já acostumado a traduzir mentalmente o dialeto viking, percebeu que ainda falava a língua medieval. Não inglês, e certamente não norueguês. Mas o dialeto viking medieval.

Minha mente ameaçou derreter em perplexidade e desorientação.

— Onde estamos? — Consegui balbuciar, ainda sentindo o gosto de sal nos meus lábios.

O garoto coçou a cabeça.

— Você não se lembra? Está com perda de memória? Qual é o seu nome? Lembra-se de onde veio?

— Eu preciso saber onde estamos! — Gritei, pegando o garoto agachado ao meu lado pela gola da sua camisa encharcada.

— Dinamarca! Estamos na Dinamarca! — O garoto berrou, aterrorizado. — O meu nome é Jø e eu vivo logo ali com a minha mãe! Eu sou só um pescador, moça. Vi você se afogar e quis ajudar. Foi só isso.

Eu larguei o garoto quando avistei a casa para a qual ele apontou, olhos arregalados em descrença. Era uma típica casa viking, pequena e provavelmente aconchegante, com telhados de tufa e feita de pedras escuras.

Todo o ar me escapou dos pulmões e por um meio segundo de desespero não entendi o que estava acontecendo. Eu tinha feito tudo certo, eu segui todos os passos... Mas ainda estava ali. Na mesma época. Não viajei no tempo... Só de lugar.

— Rollo tinha razão — Eu sussurrei para mim mesma enquanto meu coração acelerava com a potência de mil cavalos. — Talvez Iduna tenha mentido.

— Quem é Rollo? — O garoto sardento perguntou, agora caído na areia e me estudando como se tivesse certeza que sou louca. — Do que está falando? Está alucinando com deuses?

Ignorei-o.

Iduna mentiu ou estava terrivelmente enganada. Eu não sabia como ou porquê, mas se não consegui voltar para o século certo é porque ainda não posso. Era difícil fazer suposições tão arriscadas, mas talvez meu papel ali ainda não tenha acabado.

O que só podia significar que...

Eu precisava encontrá-lo.

Precisava voltar para Rollo.

FIM DO LIVRO UM.

xxx

Oi, meus amores! Demorou mais do que eu esperava, mas consegui finalizar esse livro. Sei que quem leu deve ter muitas perguntas, então á noite abrirei uma caixa de perguntas no meu Instagram para que vocês tirem todas as suas dúvidas! Meu Instagram é: @magsbookss.

Agora um agradecimento especial aos meus leitores que ainda estão por aqui. Obrigada! Vocês são incríveis. Amo vocês e obrigada  por não terem desistido dessa história. Ela só existe por causa de vocês.
Um beijo enorme no coração. 💙🦋

Imortais - O segredo dos deusesWhere stories live. Discover now