(47) - Último Capítulo.

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A casa de Rollo estava imersa na completa escuridão. A cidade lá fora, alheia a qualquer tragédia pessoal que pudesse ocorrer ali dentro, seguia cheia de vida, transeuntes e trabalhadores se esforçando para erguer a cidade das cinzas de novo. Pela primeira vez em muito tempo existia esperança entre o povo de Skiringuissal, mesmo com o inverno rigoroso e a pouca comida, eles seguiam cheios de fé e determinação recém recuperados.

Mas dentro da casa de Rollo nenhuma dessas coisas existiam mais. Liv e ele estavam ignorando o mundo lá fora, deitados juntos no escuro pelo o que poderia ser a última vez de suas vidas.

Rollo não se importou em perguntar onde ela esteve ou o que tinha acontecido enquanto passara todas aquelas horas desaparecida — porque de alguma maneira ele pressentia que não gostaria de ouvir a resposta.

De alguma maneira... Ele já sabia.

Assim que a viu parada na soleira da porta, olhos inflamados, vestido em frangalhos e corpo trêmulo, ele entendeu que Lívia estava devastada de uma maneira singular, seu peito estava rasgado e exposto com um tipo novo e diferente de dor a qual para ele lhe parecia mais uma velha amiga. Ele dormia com e acordava com essa dor todos os dias.

A dor de saber que eventualmente a perderia.

Então por já saber do que aquele desaparecimento e sua volta repentina se tratavam, ele não fez perguntas. Simplesmente murmurou alguma desculpa aos outros e a levou embora dali de volta para sua casa. Precisava ficar sozinho com ela, precisava senti-la, abraçá-la, ouvir sua voz, seu calor e seu gosto. Porque por mais que odiasse a si mesmo com a força de mil sóis por estar certo, ele sempre soube que aquele momento chegaria algum dia.

Lívia pareceu sempre tão sua, corpo e alma entregue, mas o mesmo tempo sempre tão inalcançável, como se sua existência fosse algo frágil que poderia escorregar pelas mãos dele a qualquer momento. Exatamente como tinha acontecido hoje.

Em um instante ela estava lá... E no outro não mais.

Rollo nem uma só vez acreditou que os deuses tinham sorrido para ele e lhe permitiriam amar aquela mulher e tê-la consigo por tempo indeterminado. O viking sempre imaginou que a perderia.... Ele só não imaginou que seria tão cedo. Tão de repente, quando menos esperava, quando acreditou que a teria para si finalmente.

Liv quis explicar — entre lágrimas e murmúrios abafados —, o que tinha acontecido quando chegaram na casa. Mas ele não quis ouvir o que já sabia que sairia da boca dela.

Ele só a queria. Pelo tempo que lhe restava, pelas poucas horas minutos e segundos que ainda sobravam. Rollo não queria ouvir as palavras que o quebrariam por dentro, não queria pensar no fato que Liv jamais seria sua esposa, que eles jamais teriam sua noite de núpcias juntos e todas as outras que viriam em seguida.

Seu único desejo era aproveitar aquela noite e talvez, se fossem sortudos o suficiente, conseguiriam fazer dela eterna.

Rollo a beijou assim que fechou a porta, implorando para que conversassem depois, e a mulher logo cedeu quando seus lábios estavam nos deles, tão desesperada por aquilo quanto ele.

Tudo que o pobre homem queria é eternizar o momento, enraizar o cheiro e gosto dela na sua memória para sempre, na vã esperança de que isso fizesse a sua ausência matá-lo menos um dia de cada vez quando não Liv estivesse mais ali.

Ele a beijou enquanto memorizava seu corpo com as mãos, enquanto respirava o mesmo ar que ela e provava a língua de Liv com a sua. Foi um beijo como o primeiro que deram... Exceto que talvez fosse um dos últimos.

Liv ofegou enquanto Rollo lhe tirava o que sobrara do vestido e o beijo subitamente se tornou salgado.

Ela estava chorando.

Imortais - O segredo dos deusesOnde histórias criam vida. Descubra agora