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O salão estava divinamente arrumado para a festa do coroamento de Erik. Sedas vermelhas, tochas, peles de ursos e cerdos estavam perdurados entre as paredes, fazendo uma ornamentação poderosa e intimidante. Havia também grande lareira, a maior que Annneke já tinha visto, na qual um porco inteiro assava.

Comparado ao de Skiringuissal, o salão da fortaleza de Oslo era digno dos castelos ingleses que o pai de Anneke lhe contara ter saqueado muitos anos atrás. Tudo reluzia à ouro e prosperidade.

E graças aos cuidados da irmã de Brynja, Erik brilhava no meio de tudo, com uma coroa de pedras preciosas vermelhas entre os cabelos ruivos e um belo casaco de peles negro que ia até o chão. Junto com a cicatriz tomando metade do seu rosto, e mão decepada, ele era a figura perfeita de um rei imponente.

Mas Erik ainda se encontrava fraco, então permaneceu sentado na cadeira durante todo o tempo, com Anneke pousando em pé ao seu lado, feito uma boa e recatada esposa. Ela tinha uma coroa também, presente do marido. Era dourada e delicada, menor que a dele, mas que a deixava tão linda quando a deusa Freya, segundo as palavras o próprio Erik.

E ele estava certo.

Eventualmente, os olhares dos convidados pousavam na garota com admiração genuína. Anneke se permitiu aproveitar o momento, tentando imaginar como seria se realmente quisesse aquele posto, se realmente amasse o marido como todos acreditavam que ela amava.

  Tentou vislumbrar esse futuro impossível e longínquo de como seria se Erik tivesse feito tudo diferente, se fosse um Rei legítimo? Anneke ainda nutriria um amor cego por ele? Brynja, o seu pai, estariam vivos ainda?

  Ela cerrou os punhos, tentando impedir a onda de culpa que sempre a atingia ao se lembrar do fato que fora ela quem trouxera Erik para as suas vidas. Foi ela que se deixou enganar pelo sorriso bonito e manipulador do homem.

   Não. Não ia fazer isso consigo mesma de novo. Já tinha passado por aquela culpa antes. Era inútil agora, então abandonou a linha de pensamento e desistiu de tentar adivinhar um amanhã que jamais aconteceria.

E, apesar de não saber qualquer coisa do futuro, Anneke sabia muito bem como aquela noite acabaria, e seria com suas mãos sujas de sangue do homem matara sua irmã, que arruinara sua família.

Finalmente, seria àquela noite, e ao pensar em como tiraria a vida do homem que lhe roubara tudo, ela sentiu um misto de ansiedade e temor. Não sabia o que aconteceria consigo mesma quando matasse o novo Rei da Noruega, mas fora parte do seu plano garantir que as pessoas vissem o assassinato como defesa própria, e esperasse que desse certo.

Anneke trabalhara incansavelmente para manchar a imagem já arruinada de Erik entre o seu povo. E não precisou de muito para que eles começassem a ver que, apesar de parecer um marido apaixonado, Erik era um homem violento de temperamento explosivo. Descontar suas frustrações em Anneke, um alvo fácil e frágil, foi o que ele mais tinha feito nas últimas semanas.

A garota precisava admitir, teria sido difícil lidar com aquele relacionamento se ainda estivesse apaixonada por Erik. Seria uma tortura tentar entender como alguém que você ama poderia mudar de humor tão rápido e passar de "homem apaixonado" para "desgraçado sem coração" em apenas três segundos.

Especialmente depois que a Rainha se foi, o humor de Erik piorou tragicamente. Apesar de ainda ver a esposa como alguém de confiança, agora que a sua mãe não estava mais ali, ele precisava de outra pessoa para concentrar toda aquela raiva acumulada dentro de si.

  A esposa apaixonada e cegamente fiel à ele era a escolha mais esperta, porque não importasse o que ele fizesse, Anneke continuaria ali ao seu lado.

Imortais - O segredo dos deusesМесто, где живут истории. Откройте их для себя