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Episódio: Scarborough Fair
"Você está indo à Feira de Scarborough?
Salsa, sálvia, alecrim e tomilho.
Mande lembranças àqueles que vivem lá,
pois outrora eles foram o meu verdadeiro amor."
– Scarborough Fair.
Era uma noite fresca, daquelas de fim de primavera e início de verão. Chovera forte no fim daquela tarde ensolarada, resultando no clima predileto de Harry quando o sol finalmente se pôs: quente, embora úmido.
O jovem dormia profundamente envolto em cetim: novamente, cetim e mais nada. A brisa noturna que adentrava a sua janela aberta batia em sua pele pálida, causando uma sensação refrescante e ocasionando um sonho, um bom sonho, daqueles raros desde a morte de seus pais – Harry costumava não sonhar desde que sua mente lhe devolvera a lembrança da tempestade naquela fatídica data. Agora, finalmente, ele estava mergulhando em uma ilusão, uma boa ilusão, onde ele velejava em pleno oceano índico. Ele amava velejar e sua parte favorita com certeza era o vento oceânico beijando sua pele e embalando seus cachos.
Então ele ouviu.
A princípio, pensou ser parte do sonho, mas quando sentiu seu corpo iniciar o processo de despertar, soube que o som de gargalhadas vinha de seu próprio quarto. Harry Edward Styles era dono de um sono leve, de modo que ruídos externos, ainda que suaves, eram suficientes para despertá-lo quase de imediato.
Existe, é claro, aquele momento em que você não está completamente dormindo, mas tampouco encontra-se totalmente desperto e, quando Harry atingiu esse limbo, podia ouvir o som ainda mais alto e claro – era uma risada infantil e feminina, quase inocente, mas vinha acompanhada por algo que Harry sabia que estava errado, apesar de não conseguir identificar exatamente o que era. As gargalhadas pareciam tão nítidas agora que Styles quase conseguiu visualizar mentalmente que a fonte dela deveria estar próxima dele, muito próxima, como bem ao lado de sua cama.
Despertou com um sobressalto.
Sentou-se, assustado, olhando para ambos os lados de sua cama e em seguida para todo o seu quarto iluminado apenas pelo tom prateado do brilho das estrelas acima de si. Não havia ninguém, é claro e ele se sentiu patético.
Respirou fundo e afastou os cachos longos que grudavam em seu pescoço e nuca, em seguida apoiou o rosto oleoso em suas mãos e tirou o excesso de suor com seu tato.
De fato, pensou Harry, o ser humano tem uma natureza um tanto quanto mórbida em si e é de praxe que nutramos determinado fascínio por assombrações. Talvez seja por tal natureza mórbida que quando tomamos ciência de uma morte, a primeira reação nunca é dar os pêsames; não, a primeira reação é a famigerada pergunta: "nossa, mas faleceu de quê?" e só depois os pêsames serão pronunciados. Trata-se de um costume popular a romantização da morte, afinal ela é uma inimiga misteriosa e invencível.
Em verdade, Harry decidiu muito cedo – ainda criança – que lutaria contra sua própria natureza humana mórbida ao se declarar um amante fiel da vida e prometer manter seus olhos ocupados demais com sua beleza para que cedessem aos encantos que cercam a morte. Styles não costumava voltar atrás com sua palavra, mas ali estava ele, projetando suas inquietações em fantasmas, como qualquer outro ser humano medíocre.
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Mystical (l.s)
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