Capítulo 5

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O grande dia

Os dias que antecederam, o tão esperado evento de nomeação de Alexander, foram muito cansativos, e uma das razões para isso foi o desejo de tia Norah em torna-lo memorável para todos.
Por isso tudo foi pensado detalhadamente; desde o buffet à música.
Para todo italiano,  festa boa precisa ter comida e bebida à vontade.
Por isso foi difícil chegar num consenso em relação ao coquetel: tipos de pratos: frios e quentes; quais sobremesas combinavam com as comidas que seriam servidas, os vinhos e as outras bebidas. Mas no final o cardápio parecia agradar todos . No canto estratégico a orquestra; executa música clássica.
No final deu tudo certo.
Sentada num canto discreto, observo toda a decoração do salão.
Cada detalhe  clássico e refinado da decoração passou  pela  supervisão de tia Norah.
As mesas foram cobertas com toalhas douradas e sobre todas; rosas negras, para constratar  as texturas das cores.
As luminárias em vidro em volta da piscina refletindo a luz  nas toalhas causam  um efeito  futurista e arrojado.
Logo a orquestra inicia mais uma  apresentação, enquanto as pessoas transitam no salão, sem   lhe dar a devida atenção.
Aos poucos o salão vai enchendo de convidados: políticos com  ligações à máfia. Empresários que encontram no crime  um caminho para lavagem de  dinheiro, e assim fugir dos  impostos e tantos outros. 
O mundo da corrupção é infinito.
Os criminosos  vão da mais baixa à mais  alta escala.
Observo as mulheres desfilando em  vestidos e sapatos caros, enfeitadas com jóias valiosas.

Nesses momentos de contemplação, me sinto uma mera expectadora no meio dessa gente.

Suspiro,  consultando  meu relógio no pulso e constato que mais uma vez Brianna está atrasada.
O relógio de ouro com bracelete cravejado de diamantes  foi um presente de Alexander quando eu fiz dezesseis anos.
Afasto  a lembrança  repentina, e logo surge em minha mente a proposta maluca de Brianna sobre  irmos escondidas para Sicília.
Sorrio com a  ideia impossível, desejando  que ela tenha desistido da aventura.
Mas do jeito que  tem tudo planejado, não vai ser fácil  convencê -la a desistir.
Relanceio meu olhar para a entrada do salão, no momento que Pietra adentra.
Meu sangue gela ao vê-la e  subitamente tenho um mal pressentimento.
Não posso negar que ela está muito bonita. No vestido negro com fenda lateral. A presença dela não é nenhuma surpresa, mas é impossível  não me sentir desconfortável diante de tanta autoconfiança.
Suspiro quando a orquestra pausa para que o locutor inicie a programação. Passando fazer as apresentações, e esclarecendo a  importância do evento e da grande expectativa em relação ao futuro da Camorra, sem deixar de  exaltar os  feitos de Enrico Castellari, algum desses momentos é demonstrado através de fotos num telão,  onde todos assistem com olhos atentos. 
Quando ele passa a relatar um pouco da história do possível sucessor de Enrico, todos gritam com entusiasmo o nome de Alexander.
Ele sobe no palco e os aplausos e assobios tomam conta do salão.
E assim Alexander é nomeado oficialmente o chefe da Camorra. Como símbolo do seu poderio Enrico passa o anel símbolo de autoridade para o filho, sob  os aplausos da platéia animada.
Alexander recebe as honras com reverência e a seguir  faz um rápido pronunciamento,  agradecendo  a todos pelo apoio.
No seu  discurso garante honrar com  os deveres como chefe e exercer a lei com braço forte.
Ele encerra as palavras em meio ao ensurdecedor  aplauso.
Ainda sob grande entusiasmo, Antonio Ferrara tem a oportunidade de se pronunciar .
Ele inicia  engrandecendo  Alexander, declarando que  a Camorra continuará em boas mãos.
Logo a seguir faz  um breve silêncio, voltando a falar do apoio incondicional  que Alexander terá de sua pessoa em particular, reforçando que a parceria entre N'drangheta e Camorra se estenderá por gerações.

-- E como muito honra que anuncio o noivado de minha filha Pietra com Alexander! -- proclama em tom solenemente orgulhoso. -- Filha suba ao palco! -- convida com um sorriso largo.

Por um instante tenho a impressão de que ouvi mal. Me recusando a acreditar.
Pietra e Alexander noivos?
Isso só pode ser um pesadelo.
Meu coração dar um tombo violento.
Sinto mil facas afiadas perfurando meu corpo,  rasgando a carne por dentro.
A pressão no peito, me deixa sem ar.
A dor é física.
Testemunho como em um filme em câmera lenta, Alexander colocar o anel de noivado no dedo de uma radiante Pietra. Entretanto ele não demonstra nehuma emoção.
Lentamente envio um olhar para Brianna que acaba de chegar. Ela parece tão surpresa e incrédula quanto eu.
Tento assumir uma postura reta e indiferente. Mas estou preste a desabar com o choro ameaçando explodir da garganta.
Sinto um dor latente, sufocante.
-- Preciso ir ao banheiro. -- invento uma desculpa ao levantar  da cadeira.

-- Espera. Vou com você!-- Brianna sugere levantando-se também.
-- Não precisa. -- Protesto apressadamente.
Ela me olha preocupada, mas não me segue.
Caminho entre os espaços que separam as mesas, praticamente às cegas .
Meus passos são vacilantes,  enquanto prossigo pondo no rosto uma expressão neutra para que ninguém perceba meu estado. 
Sigo na direção do corredor que dá no banheiro feminino, sentindo a visão turva pelas lágrimas que enchem meus olhos.
Quando atravesso a multidão e  chego no corredor vazio, apresso os passos.
Ao dobrar no corredor, entro no banheiro revistando as repartições para me certificar de que o local esteja vazio para que eu possa enfim  dar vazão a dor. Por sorte o lugar está totalmente vazio, e  volto à  porta a  tranco  com mãos trêmulas, encostando-me  com as duas mãos no rosto. Escorrego ao chão em prantos.
Meu corpo sacode devido aos soluços deliberados.
É uma dor insuportável.
Esfrego as mãos nos cabelos bagunçando o belo penteado de horas no salão, enquanto em vão tento  sufocar o choro,  mas é impossível. 
As lágrimas descem pesadas pelo meu rosto cada vez mais, me deixando  fraca e vazia.
Em seguida me levanto do chão, em soluços. Por um instante sou invadida pela raiva. Por ter me iludido tanto.
Numa fúria incontida arremesso minha bolsa de mão contra a parede, sem me importar com o celular ali dentro.
O barulho seco ecoa no recinto, com o barulho de vidros quebrando.
Meu celular deve ter pago a conta.
Paro diante do espelho e contemplo as lágrimas escorrendo no rosto.
Por mais que eu tente, não consigo me controlar,  nem tirar a imagem de Alexander e  Pietra no palco, oficializando o compromisso de dividir a vida juntos.
Minha cabeça dar um nó, enquanto a imagem me massacra cruelmente.

-- Maldito! -- praguejo com ódio
Eu nunca imaginei que fosse verdade, mas sim, é possível enlouquecer de tanto amar. 
Esmurro o mármore da pia várias vezes, sentindo minhas mãos adormecer.
Não ligo.  Por dentro estou pior.
Me encaro no espelho com  maquiagem desfeita.
Não passo de uma ridícula.

__ Bem feito para você! __ Desdenho __ Viu? Que adiantou esperar por ele? __ choramingando,  trincando os dentes, em meio uma nova onda de lágrimas e dor. 
Ele nunca me quis, esta é a verdade.
Eu que sonhei. Fui ingênua.

-- Burra! -- grito, diante do espelho.

Minha garganta dói pelo bolo que se formou.
Respiro fundo tentando me recompor. Concluo que preciso sair do banheiro  antes que alguém apareça, querendo entrar.
Estou há mais de meia hora trancada.
Solto um longo suspiro e novamente  respiro profundamente, tentando me acalmar... E logo o que eu mais temia acontece; do lá fora alguém está chamando.
Olho para a porta irritada.
E agora o que vou fazer?
Não quero que me vejam assim.

🌺🌺🌺🌺🌺🌺🌺🌺🌺🌺🌺🌺🌺🌺🌺🌺🌺Capítulo concluído  ✅
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UMA TRAMA DO DESTINO- RELEITURADonde viven las historias. Descúbrelo ahora