CAPÍTULO 47

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ALEXANDER

Mais um longo dia finda e velha e tão conhecida sensação de vazio volta novamente, inoportuna e latente.
O entardecer carrega um ar melancólico.
É nesse momento que a solidão assume seu estágio avançado, tomando posse de cada fibra, cada poro do meu corpo, num ritmo lento e doloroso, me consumindo vivo. Semelhante à uma tortura física, rasgando a carne, minando sua energia, suas forças, até você não suportar mais a dor e em meio a agonia desejar com fervor que a morte te leve, pois esta pode ser a melhor opção, sua libertação.
É assim que me sinto, entregue a um torturador invisível, porém real, um sádico, que como eu, se diverte com a dor dos outros, zomba do sofrimento alheio.
Então quando menos espera, fita friamente seus olhos, só para dar o golpe de misericórdia, lembrando com crueldade, "Você é o responsável por essa situação"
Analiso carregando o fardo na consciência.

Inspiro o ar dos pulmões, enquanto visto a roupa especial; calça de couro, uma camiseta escura e o colete à prova de balas. Antes de calçar as botas, caminho até a janela e concentro minha atenção tão longe quanto a vista alcança. O sol está pondo-se acima das montanhas situadas nos limites da propriedade.
No topo entre os montes encontra-se o velho castelo, parte da herança tradicional da família Castellari. O símbolo da descendência nobre dos meus ancestrais.
No passado ostentara riqueza e soberania.
Com a evolução o lugar foi perdendo espaço para a modernidade. Tornou -se um monte de pedras, cheio histórias do que um dia representara para seus antepassados.
No entanto continua lá... no topo-
Imponente! Impressionante! Resistindo todas as intempéries do tempo, mas tão indiferente a este, que olhando-o agora, a sensação, é de que, estagnou.

Quantas vezes corri para me refugiar dentro daquelas velhas e grossas paredes!
Eu era um garotinho assustado, desesperado para escapar do temperamento volátil e o gênio explosivo da minha mãe.

Ficava lá até o entardecer, com a vã esperança de que com o passar das horas, Eva se acalmaria e não me castigaria.
Isso nunca acontecia.
Para piorar não tinha ninguém em que eu pudesse confiar.
Tio Diego não parava em casa.
Tia Gabrielle vivia em um colégio interno e meu pai estava sempre a serviço da máfia e quando retornava, mal chegava, já estava de saída.
Espanto as más lembranças e me concentro no que realmente importa, resgatar minha mulher.

Me afasto da janela, ainda sentindo o peso do passado me atormentando.
Não entendo, o porquê, depois de tantos anos as lembranças da minha infância, ainda me incomodam.
Uma vez, ou outra, sou pego retornando ao passado, revivendo tudo de novo.
Talvez seja decepção.
A questão é que, por mais que eu tente entender, não consigo encontrar uma razão que justifique uma mãe odiar o próprio filho, e com tanta determinação orquestrar prejudica-lo de todas as formas possíveis.
Isso é totalmente insano e incompreensível.
Analisando friamente, ao longo dos anos, minha mãe declarou-me uma guerra pessoal e traiçoeira.
Não sei definir ao certo, quando e como isso tudo começou.
Só sei que preciso dar um fim nisso tudo, para que possamos viver em paz.
Que ironia!
Não me intimido com essa possiblidade, pelo contrário, me sinto compelido à esta missão, desafiado.
Relembro minha conversa com Rock, hoje bem cedo, pela manhã.
A pergunta que Rock me fez, martela em minha mente como um sino batendo de hora em hora.

_ Teria coragem de matar a mulher que o gerou Sua própria mãe?--Ele questionara me estudando como sempre faz.
Rock tenta me decifrar há anos. Tenta entender meu cérebro.
Como funciono.
Nem eu me entendo às vezes.

-- O que você acha? -- Devolvi com raiva.

Ele não disse nada, mas seus olhos sempre atentos demonstraram um certo alívio.
Essa preocupação estampada no seu rosto ocorreu logo após recebermos a ligação de um dos nossos agentes, informando que Petra fora fotografada entrando na limusine, e que embora tenha perseguido o tal fotógrafo, não fora possível alcança-lo, pois este se infiltrou entre as pessoas transitando pelo lado de fora da casa noturna, consequentemente acabou fugindo.
Com certeza Eva desconfiou de Petra e designou um de seus capangas para segui-la, com a finalidade de descobrir suas reais intenções.

UMA TRAMA DO DESTINO- RELEITURAOnde histórias criam vida. Descubra agora