Capítulo final / Parte 2

265 32 161
                                    

ALEXANDER

Para todos os fins, Enrico assumiu o papel de  pai e foi o único que circunstancialmente preocupou-se comigo. Ninguém mais.
Por isso é insustentável dar de cara com com Diego e reconhecer que ele é o homem responsável por eu está no mundo.
Com tantos problemas ocupando minha mente, só agora, examinando a situação concluo que não tive tempo para assimilar e digerir tal fato.
A ficha caiu, e é intragável.

Desde cedo por experiências dolorosas, compreendi que eu só sobreviveria num mundo com tanta crueldade, se eu começasse a agir igual à eles.

Agindo tão semelhante ou pior.

Reconstruí minha vida catando meus próprios cacos e, depois eu aprendi a não me importar com as pessoas.

Aprendi à não confiar nas pessoas- elas são traiçoeiras.

Mas de todos os mecanismos de defesa dos quais me armei, um deles era primordial - Eu nunca agiria com o coração e consequentemente, Nunca amaria ... até o dia que Rebeca entrou na minha vida e todo o meu aprendizado, tornaram-se palavras ao vento.

Caminho apressado, subindo o pequeno lance de escada em dois passos, ignorando os olhares curiosos e perplexo.
Cruzo o hall de entrada e atravesso rapidamente a espaçosa sala de estar forrada por carpetes bege e decorada móveis e objetos em diversos tons em amarelos e azul-marinhos.

Percorro o extenso corredor entre o jardim de inverno e uma espécie de anti-sala, seguindo direto para o escritório. Por um momento travo no meio do caminho, experimentando uma sensação de mágoa, decepção e outros sentimentos confusos e desconfortáveis que não consigo descrever.
Um nó aperta a minha garganta no momento em que me concentro para observar o interior da mansão.
De olhos fechados posso enumerar cada objeto e cada canto dessa luxuosa e imponente casa como a palma da mão, entretanto, tudo parece ter mudado.
É estranho olhar para o lar no qual passei toda minha vida e ter a a sensação de que não me encaixo em lugar algum. Talvez, esse ponto tenha sido o causador de todo ódio de Eva. Ela deve ter percebido que eu não pertencia àquele lugar.
Engulo em seco, enquanto decido se prossigo ou retrocedo.
Nem sei por qual motivo tenho essa expectativa tão crucial de conversar com Enrico, mas algo me impulsiona a seguir enfrente, a confrontá-lo.

Sinto um tensão se acumulando pelos músculos do corpo ao me aproximar da porta do escritório. Quando apoio a mão na maçaneta para abri -la, só então percebo meus dedos trêmulos.
Com um suspiro empurro a porta devagar ao notar que não estar trancada.
Entro em silêncio no escritório passeando o olhar pelo ambiente, estaco na entrada ainda segurando com força a maçaneta da porta.
Meu pai estar em pé olhando para fora através da enorme janela de vidro parece distante.
Visto que não se move para olhar às suas costas, porém não tenho dúvida que sabe que sou eu chegando.

_ Não quis dar boas vindas para seu neto? _ Pergunto neutro, quebrando o silêncio.
Ele nada responde.
Continua parado na mesma posição, alheio à minha presença.
Um longo e retumbante silêncio toma conta do ambiente.
Cerro os punhos para conter a fúria e a adrenalina que começa a correr pelas veias como pólvora queimando no fio de uma dinamite prestes a explodir.

_ Não é nada disso! _ Responde, após o longo silêncio, ainda de costas.

_ E o que é, então?

_ Só não estava preparado para encara-lo ... ainda não estou. _ Profere as palavras com voz fraca.

_ Você está decepcionado porque descobriu que de alguma forma usurpei o lugar do seu filho verdadeiro ? É isso então ? _ Questiono ríspido, fechando a porta e parando no meio do escritório.

Ele gira o corpo para me olhar diretamente. As marcas de cansaço estão visíveis no rosto.

_ Isso nem passou pela minha cabeça ! _ Nega veemente. _ Quer saber de verdade como me senti? Como me sinto agora?

UMA TRAMA DO DESTINO- RELEITURAWhere stories live. Discover now