• Capítulo 4 - Estranhos acontecimentos

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       Abigail Brown, governanta de Overdeen Hall há já trinta anos, com um currículo impecável onde constam zero reprimendas do falecido duque, o que era de espantar, regressava ao serviço após um curto período de férias, que não foram férias mas...

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       Abigail Brown, governanta de Overdeen Hall há já trinta anos, com um currículo impecável onde constam zero reprimendas do falecido duque, o que era de espantar, regressava ao serviço após um curto período de férias, que não foram férias mas sim um pedido seu ao atual duque para poder cuidar da irmã enferma, a única família que lhe restava.

       Os seus outros irmãos já tinham partido todos, alguns não chegaram sequer à idade adulta, enquanto outros foram devastados por doenças, desde a tuberculose à varíola, e até pneumonia. Ela e Clarisse eram sobreviventes, e quando a mesma lhe enviou uma carta a contar o seu estado e a pedir a sua ajuda, estava disposta a pedir demissão caso não fosse autorizada a deixar o palacete para cuidar da irmã, mas Dorian Cavendish era um bom homem, conhecia-o desde que nasceu, logo sabia que ele nunca lhe negaria o seu pedido, e assim foi.

       Esteve dois meses a cuidar da irmã no vilarejo próximo ao palacete, onde ambas viviam juntas quando tirava uma folga ou curtas férias do serviço. Estava ansiosa para conhecer a jovem com quem lorde Cavendish casou, e só esperava que ela fosse bem melhor do que a viúva do duque, uma bruxa que tem gosto em causar discórdias.

       Ainda não tinha amanhecido quando se pôs a caminho, Overdeen Hall não ficava longe do vilarejo, logo podia ir a cavalo sem a necessidade de alugar uma diligência. Com uma capa escura e o capuz sobre a cabeça, trotou até ao palacete despreocupada, observando no céu a luz do sol a começar a despontar.

       A estrada de terra batida que a levaria até à residência dos Cavendish tinha a segunda metade ladeada por árvores, mas nada demasiado denso que impedisse a luz de entrar e iluminar o caminho. Já próxima da residência, faltando cerca de dez minutos até lá chegar, notou algo estranho à beira da estrada à sua frente. Parecia-lhe um amontoado de tecido rude e já gasto largado ali, logo não deu muita importância, mas ao aproximar-se viu que o monte de tecido tinha braços, pernas e uma cabeleira castanha clara, e logo assustou-se.

       Freou o cavalo e desmontou, fazendo sinal para ele ficar no sítio. Aquela jovem podia estar desmaiada ou a sentir-se mal, logo aproximou-se para ver o seu estado. Aquela podia ser uma armadilha de salteadores para a roubarem, mas iria correr o risco.

       A mulher era nova pelo que aparentava, e mesmo com os seus passos a aproximar-se ela não se mexeu. Estava deitada de bruços e com o rosto voltado para o lado oposto da estrada, e com as mãos a tremer a governanta virou o corpo da jovem, dando um grito horrorizado e afastando-se com as mãos a tapar a boca ao contemplar a visão horrível que estava aos seus pés em choque.

       A mulher, que ela logo soube quem era e que devia ter pouco mais de vinte anos, tinha os olhos esbugalhados, uma mancha de sangue medonha a sair-lhe da boca, bem como um hediondo corte no pescoço, algo grutesco e animalesco que lhe causava náuseas e terror puro. Na mão dela tinha um papel pequeno, e mesmo com vontade de correr dali, tirou-o da mão dela para ler.

O perdão de Lady Evangeline - Série ImplacáveisWhere stories live. Discover now