Capítulo 1.

3K 187 9
                                    

 Anna batucava com sua caneta no balcão de atendimento da primeira biblioteca-livraria do mundo, em São Francisco. Apesar de aquele ser um trabalho bom para pagar sua faculdade, ela ficava, muitas vezes, entediada. Ainda mais com a quantidade de pessoas estranhas que passavam por ali e sequer a cumprimentavam. Quer dizer, ela estava ali para ajudá-los! Mal-agradecidos, ela rolava os olhos a cada olhar torto que recebia.

Ela bufou e puxou, de uma prateleira embaixo do balcão de atendimento, sua xícara de café e deu um longo gole. Com o frio que fazia naquela época do ano, nada melhor do que aquele líquido para mantê-la acordada e aquecida. Voltou a batucar sua caneta e, desta vez, olhou para a tela do computador ao seu lado. Na mesma, mostrava-se o programa pelo qual mantinha-se o controle de quem levava os livros emprestados e quem os tinha comprado. Anna adorava o conceito daquele lugar. Não tem dinheiro para comprar? Pegue emprestado. Quer levar um livro usado para ser só seu? Compre-o. Quer doar algum? Pode também.

Pessoas de todo o mundo visitavam aquele imenso refúgio. Levavam livros emprestados que, meses depois, chegavam por correio. Ou, então, os compravam e deixavam outro no lugar. O importante é que todos teriam acesso à leitura, pelo prazo que se comprometessem a ler. Anna se sentia bem com aquilo. Ainda mais ao ver aqueles dois andares, de centenas de metros quadrados, cheios de estantes e corredores divididos por gêneros, lotados de pessoas. Conhecidos da faculdade, ex-colegas do ensino médio, estrangeiros de cidades que ela nunca tinha ouvido falar. Era quase impossível não encontrar um livro ali.

Anna saiu de seu transe quando um livro foi largado em cima do balcão. Pulou de sua cadeira, com o susto, e o puxou para si na mesma hora.

— Empréstimo ou compra? — ela pediu, roboticamente.

— Empréstimo.

— Já tem cadastro? — ela olhou para o indivíduo. Um homem alto, a barba grisalha por fazer, já com seus cinquenta e poucos anos.

— Já sim. Espere um pouco. — ele tirou a carteira do bolso de seu sobretudo e, de dentro da mesma, puxou sua carteirinha de identificação da biblioteca-livraria. — Aqui está.

Anna a pegou e, com o leitor de código de barras, leu o código de cadastro que estava cravado na identificação. O número apareceu na tela do computador e puxou todos os dados do Sr. Carlos Gonzalez. Havia efetuado três compras no último ano, dez empréstimos e todos devolvidos. Anna cadastrou o código daquele livro no perfil de Carlos e o empréstimo estava feito. Sorriu, como sempre fazia, e entregou-o ao homem. Recebeu um sorriso de volta e, através da porta de vidro giratória, ele se foi.

Pelo menos ele devolveu todos os livros rapidamente, para alguém que tinha o cadastro há apenas dois anos, ela pensou. Inúmeras foram as vezes que Anna abriu encomendas de livros que estiveram fora por quase dois anos. Ou três. Ou cinco. Pelo menos, devolviam.

Anna começou a batucar a caneta outra vez. A razão de sua impaciência era o período de provas finais do seu curso de jornalismo. Ela queria estar em casa, estudando com atenção, mas tinha que se contentar em puxar seu livro de anotações da prateleira de baixo, vez ou outra, quando o movimento diminuía. Mas era difícil demais se concentrar. Não com aquelas pessoas entrando e saindo a todo instante. Se bem que, se alguma delas fosse lhe dar uma ideia genial para que Anna escrevesse seu primeiro livro, ela não se importaria. Ela só queria acabar logo com o curso para se tornar uma escritora famosa. É claro que ela teria começado a escrever uma história o mais rápido possível, se pudesse. Mas, sem ideias? Impossível.

— Eeeei, Anna! — a pessoa bateu com empolgação sobre o balcão, em ritmo musical, tirando-a do transe outra vez.

— Ainda vou morrer do coração, hoje — ela resmungou. — O que está fazendo aqui? — ela pediu para a garota que tinha o cabelo loiro platinado, os olhos verdes e parte lateral de sua cabeça raspada. Aquilo, aparentemente, era “moda”.

Íris VioletaWhere stories live. Discover now