Capítulo 5.

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 Anna abriu os olhos, assustada. Puxou seu celular de cima da cabeceira da cama e viu as horas. Merda, merda, merda!, Anna pensava. Estou atrasada!

A garota se movia tão rapidamente, pegando seus pertences, vestindo as roupas corretas para atender às aulas, que mal percebeu a ausência de Daren. Não teria se dado conta de que ele havia saído, se não fosse o lírio, que ele havia lhe dado, pendurado com uma fita adesiva na porta do apartamento, junto com um bilhete.

“Bom dia, Anna. Espero que esteja melhor. Pode ter certeza que continua sendo uma humana muito legal. Eu tive que sair para resolver umas situações referentes à minha possível partida, mas te encontro à tarde”, dizia a nota de Daren. Anna se impressionou com a escrita do alienígena, mas tentou não focar naquilo. Ela teria, agora, que encontrar um jeito de segurar para si todos aqueles segredos que Daren a confessara. Como seria possível não contar para Mel e Joe que as almas realmente existiam, que a lua era ocupada pelo povo guardião da Terra e que Daren era um dos seres mais valiosos que se encontravam na Terra? Impossível. Você vai ter que dar um jeito, garota. Dar um jeito era seu desafio, agora. E se tornava ainda mais difícil com seu pensamento constante em Daren.

Ah, Daren.

Daren ficara tão tocado com a fragilidade de Anna e com o modo como suas lembranças eram tão vívidas e altas... ele queria poder ter feito mais por ela. Afinal, ele devia muito a Anna por estar o tratando normalmente, mesmo tendo percebido suas esquisitices desde o começo. Ele sabia que podia confiar nela; ele vira em sua mente naquela tarde na B&L. O único sentimento que o importunava quanto a isso era o de que algo daria errado com a garota, principalmente agora que ela sabia sobre ele e seus segredos.

Apesar de Anna não sair de seus pensamentos — e ele agradecia mentalmente o fato de ela não poder escutá-los —, Daren sabia que deveria ir até a entrada do Corredor para saber sobre sua viagem de volta para casa. Não que ele quisesse, ainda mais depois do que acontecera; mas precisava manter as informações atualizadas.

O Corredor era uma avenida quilométrica e subterrânea que servia de refúgio para os eonianos que ficavam fixos na Terra, localizado abaixo de uma das principais ruas de São Francisco — e, claro, haviam vários em outras cidades pelo mundo. Daren, entretanto, ainda não tinha acesso ao mesmo, já que não teve nenhuma missão designada na Terra. O que ele queria, além de conseguir contatar seu supervisor, era ter contato com outros mooners que estavam no Corredor — e, quem sabe, um lugar para ficar.

Daren caminhava pelas ruas centrais daquela cidade enquanto seus olhos vasculhavam cada beco, cada porta, cada rosto. Ele esperava que fosse encontrar algum conhecido — mas permaneceu solitário até que encontrasse o beco que o levaria até a entrada. As únicas instruções que Helium tinha lhe dado sobre a localização, em caso de emergência, fora sobre um beco entre dois prédios baixos e antigos, sendo que no mesmo não haveria porta alguma. “Mas como farei para entrar, então, se não há porta?”, Daren lembrava de ter perguntado. “Todos da raça Eoniana conseguirão enxergar a entrada. Você só tem que querer”, Helium respondera. Certo, Daren era um eoniano. Restava-lhe, agora, enxergar a tal entrada.

Daren concentrou toda a força que pôde ao redor de seu corpo, quando começou a caminhar na avenida principal. Ele sabia que não queria chamar a atenção de ninguém e que só outros da mesma raça que ele conseguiriam enxergá-lo através do campo de energia que ele havia magnetizado ao seu redor. Por isso, não temeu ao entrar no beco. Ele sabia que ninguém estava vendo ou seguindo-o. Daren encarou as paredes escuras, sem ver porta alguma.

Helium devia estar de brincadeira comigo!, pensou, emburrado. Tentou se lembrar das palavras do ancião, outra vez. “Você só tem que querer”. Pois bem, ele queria. O que faltava agora? Talvez ele não devesse estar camuflado. Daren fechou os olhos e soltou lentamente sua respiração, ao que, com isso, o bloqueio ao seu redor fora sumindo. Quando abriu os olhos, sabia que não estava usando qualquer poder que fosse. E, ainda assim, não enxergava coisa alguma. Voltou a se camuflar e ponderou seus pensamentos. Ele sempre mantinha Anna em mente, independente do que fosse. Tentou, então, esquecer-se da garota por um breve segundo e abriu os olhos.

Íris VioletaWhere stories live. Discover now