Capítulo 2.

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 Anna sabia que deveria estar jogada em sua cama, a concentração afundada em seus livros. Mas ela simplesmente não conseguia parar de abrir abas e abas de pesquisas relacionadas ao tal de Daren Mars. Não se conformava com as informações que encontrava — nenhuma, de fato, sobre o garoto que vira. Nenhuma relacionada à B&L. Todos links sobre alguém que tinha o mesmo nome que ele ou o mesmo sobrenome. Mas nunca sobre ambos.

Foi então que a ideia lhe atingiu como um raio. Se, por acaso, ele fosse a mesma pessoa — ou algum parente — da carteirinha, então ela teria frequentado o lugar em 1890. E se Anna não encontrasse nada sobre a pessoa, poderia, certamente, encontrar algo sobre a B&L.

Digitou o nome do lugar em que trabalhava em uma nova pesquisa do Google. Esperou a página carregar e diversos foram os links que apareceram; sequer sabia em qual clicar. Desceu pelas páginas até que encontrou um que parecia saciar sua curiosidade: “A primeira foto da primeira biblioteca-livraria do mundo!”. Isso deve servir, ela pensou.

Abriu aquela página e começou a ler as informações ali compartilhadas. Curiosidades sobre a B&L que Anna já sabia de trás para frente. Desceu mais rápido pelas linhas até que chegasse na fotografia. Certamente, fora escaneada. A qualidade era antiga e parte das bordas da foto original foram corroídas com o tempo. Salvou a imagem em seu notebook e a abriu, usando o zoom em cada detalhe.

Em uma esquina da cidade de São Francisco, as pessoas se reuniam na frente do estabelecimento, ao que o fundador da B&L se encontrava em frente a porta, erguendo seu chapéu, a boca aberta, como se desse um discurso a quem o ouvia. O local era minúsculo — nada comparado ao que era hoje. As pessoas que o assistiam tinham sorrisos nos rostos e algumas erguiam os braços, prestes a baterem palmas antes de a fotografia ser tirada. Anna analisava rosto por rosto. Ela sabia que estava deixando alguma coisa passar. Aquela provavelmente era a fotografia mais antiga que conseguiria da B&L e, por conta disso, deveria analisar cada pixel que fornecia.

Ela prendeu sua respiração e empurrou seu notebook para longe. Sentiu seu coração pulsando em seu pescoço. Se olhasse para seu peito, o viria quase que saltando dali de dentro. Será que ela estava enlouquecendo?

Voltou a olhar para a tela.

Ali estava. Atrás do próprio fundador — uma pessoa que ela certamente não achou que seria importante. E, ainda assim, estava bem ali. Parado, as mãos cruzadas atrás do corpo, olhando fixamente para câmera, os olhos arregalados como se tivesse cometido o maior erro de sua vida.

Era ele. O mesmo garoto que Anna atendera. E ele estava em uma foto de cento e poucos anos atrás. E estava com a mesma aparência nos dias de hoje.

Algo estava errado. Não poderia ser um bisneto, ou tataraneto, certo? Porque era igual. Era ele. Anna sabia que era ele. E por mais que soubesse que aquilo era o tipo de coisa em que ela não deveria meter o dedo, ela sentia que deveria fazê-lo com mais gosto ainda. Aquela era a história de um milhão de dólares que a tornaria uma escritora famosa.

É claro... se ela encontrasse esse garoto misterioso.

Anna bufou e largou tudo o que tinha procurado ali mesmo, na sala. Correu para o seu quarto, colocou-se em baixo das cobertas e ficou lá o resto da noite. Ela teria que acordar cedo para sua aula, afinal de contas.

***

Como de costume, assim que sua manhã cheia de estudos chegava ao fim, Anna era acompanhada até a B&L por seus melhores amigos, Mel e Joe, que também faziam curso na mesma universidade que ela.

— Fico feliz que esteja melhor, Joe. — ela disse, segurando sua risada. O coitado teve de sair, pelo menos, três vezes a cada aula... ainda estava com problemas intestinais.

Íris VioletaOnde histórias criam vida. Descubra agora