Capítulo 16.

913 86 7
                                    

 Anna abriu os olhos, sentindo-se tonta. Como se estivesse em um filme de ação, a garota se viu amordaçada, os braços amarrados para trás de uma cadeira, bem como as pernas, presas ao pedaço de madeira em que sentava. Olhou em volta e viu-se em um cômodo redondo e branco, não maior do que o quarto de seu antigo apartamento.

Percebeu, pelas roupas brancas que usava, que haviam a tocado; sentiu nojo ao pensar na possibilidade de terem sido os orths a fazê-lo.

O silêncio cessou ao que o barulho de uma engrenagem começou a preencher o cômodo, as paredes redondas se erguendo ao seu redor. Anna se viu em frente ao líder dos orths, Cepheus. O corpo magricelo e alto, a cor verde-musgo, os olhos enormes e como os de gato, a cabeça pontuda.

— Tem certeza que é a última? — ela ouviu o líder falar para o orth que a capturara.

— Absoluta. Seguimos todas as pistas dos ortheonianos pela Terra. Ela e ele são os últimos.

— O que fizeram com os que já... você sabe? — o líder pediu. Falavam baixo, mas a estrutura do lugar fazia com que a voz se ecoasse até os ouvidos da garota.

— Os Sanguessugas fizeram bom proveito — e o bicho grunhiu em uma risada.

— Bom. Chamem os outros. Eu quero que eles vejam, quando acontecer. Desta vez, não terá como fugirem. Não haverá nenhuma discórdia para nos atrapalhar.

Anna soubera, desde o começo. Ela sabia que era uma armadilha.

O orth anão cambaleou até a porta e, abrindo-a somente um pouco, utilizou de uma língua desconhecida para chamar os outros. Quando outros ortheonianos entraram, aglomerando-se ao redor da garota, o anão deixou a sala e fechou a porta atrás de si.

Anna sentiu o medo percorrer todo o seu corpo. Sentia sua barriga tremer e sua pele suar frio. Quando não conseguia mais conter suas emoções, ela chorou, baixinho.

— Oh, pobre humana. Tão dependente das emoções... presa a essa carne que te consome — Cepheus começou, aproximando-se da garota. Os olhos amarelados do líder faziam Anna estremecer. — Não se preocupe, alma. Nós iremos libertá-la.

Houve alguns murmúrios no cômodo.

— Quem quer dar a honra de fazê-lo? — Cepheus gritou, enquanto deixava a roda de orths formada ao redor da humana. Todos ergueram os braços e grunhiam com vontade. Anna percebeu o líder se aproximar de uma mesa, apoiada em uma parede do lugar, com diversos equipamentos metálicos e ferrosos. Quando ergueu um deles, Anna percebeu que se parecia muito com a mesma adaga que fora fincada em sua barriga, por Rheo. A lembrança a penetrou, fazendo-a se remexer pela cadeira, tentando se soltar.

— Infelizmente, meus caros — a voz grossa e fônica começou, fazendo os berros se calarem. —, serei eu quem irá fazê-lo. Temos aqui, em nossa frente, a última Alma da Discórdia. Essa será uma extinção interessante, amigos. Cheia de experimentos...

— Mas nós combinamos com os anciões, chefe. Usaremos o gás.

Os olhos amarelos de Cepheus rolaram.

— Estúpido, sempre há os corpos mais fortes, que resistem a essas coisas. É claro que será um ou outro, mas será o suficiente para aprisionarmos e usarmos de cobaia aos nossos experimentos. O vírus, principalmente. Afinal, os Sanguessugas já adoram o sangue humano — e o próprio líder gargalhou, levando todos os outros a fazer o mesmo.

Cepheus começou, então, a caminhar, lentamente, em direção à garota. Quando mais perto chegava, mais Anna lutava contra as amarras.

— Está bastante difícil essa, não? — Cepheus questionou. — Pois bem — e, com um breve movimento da adaga, ele cortou a mordaça da boca da garota, fazendo-a puxar todo o ar que pôde. — Diga, humana, o que está te incomodando?

Íris VioletaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant