Capítulo 9.

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 Anna deixou o Corredor sem medo, apesar de saber que não estava camuflada ao deixar o beco. Apenas continuou com seus passos lentos em direção ao seu apartamento. Ela sabia que, quando Daren tivesse de aparecer, ele iria procurá-la. Até mesmo os alienígenas precisam de um tempo para si. É cada uma que eu tenho que ver...

Caminhou pelas ruas escurecendo devido ao pôr do sol, sempre olhando em volta, caso visse Daren por ali. Desistiu de procurar quando estava a duas quadras de seu prédio. Chegou no mesmo e foi atravessando as portas — da recepção, do elevador, do seu apartamento. Anna estranhou ao ver o casaco de Daren jogado no sofá da sala de entrada.

— Daren? — ela chamou. Trancou a porta atrás de si, largou sua bolsa ali e foi em direção ao corredor que a levaria aos outros cômodos do lugar. Daren não estava em nenhum — mas Anna percebeu a porta de seu quarto fechado e, pelo que via pela fresta inferior, havia luz vindo do mesmo. Imaginou que Daren estivesse ali e, por estar se sentindo um lixo, Anna entrou no banheiro e se arrumou. Ajeitou seu cabelo, arrumou a maquiagem, escovou os dentes. Ela sempre queria fazer uma boa impressão ao garoto. Quando achou estar pronta, saiu. Virando em direção ao seu quarto, gentilmente, Anna bateu à porta e começou a entrar.

Deparou-se, então, com uma cena que certamente diria vir de um sonho.

Anna se viu em meio ao universo.

As paredes, a cama, os objetos ali — era como se tudo tivesse desaparecido. Ela sentia como se estivesse flutuando em uma imensidão de galáxias, estrelas e poeiras cósmicas coloridas. Ao seu redor, era como se pudesse tocar os pontinhos brilhantes. Via planetas e erguia seu dedo para conseguir encostá-los — mas os mesmos fugiam ao que ela se aproximava. Ela via Daren, sentado no que seria a cama de Anna, e parecia estar flutuando também. Ele matinha a cabeça baixa e as mãos unidas, de onde todas aquelas imagens se projetavam pelo cômodo. Anna sabia que não conseguir enxergar os objetos do seu quarto, mas, mesmo assim, aproximou-se de onde sua cama estaria e sentou-se na beirada da mesma. Em sua visão, era como se estivesse sentada no topo de um planeta enorme e azulado, e seus satélites voando ao redor de seu corpo.

— Daren? — ela chamou, baixinho. Ele não respondeu. Ela se desconcentrou, por um minuto ou dois, com os satélites rodopiando cada vez mais rápido ao redor dela. — Daren? — ela se aproximou do garoto, ainda falando baixo.

Daren fechou as mãos e o quarto se escureceu, Anna se encolhendo com o susto. Até sua visão se acostumar com o escuro, ela percebeu, pelas luzes da rua que entravam no cômodo, que Daren estava com os olhos inchados. Ela não sabia, até então, que os eonianos eram capazes de chorar.

— Daren, está tudo bem — ela falou, gentilmente, tocando as costas do garoto. Ele saiu do seu transe, abrindo os olhos e virando o rosto em direção à garota.

— Não está tudo bem. Tudo está prestes a explodir. Todos nós vamos morrer. Vocês, os eonianos.

Anna balançou a cabeça, negando.

— Não, Daren. Você está querendo que tudo se exploda, porque acabou de receber uma notícia pela qual não esperava. Não se assuste com isso. É bem comum aos humanos.

Ele deixou escapar um riso, mas logo voltou a fechar o rosto.

— Sage sabia. E ele não me contou.

— Mas, Daren, quando me falou sobre você ter sido abandonado e recrutado... você não parecia ligar para isso.

— E se fosse com você e Mel soubesse sobre seus pais?

Anna considerou aquilo.

— Eu... eu te entendo. De verdade. Mas você tem de entender que Sage teve seus motivos. Você não acha que teria surtado de uma maneira diferente de agora, se tivesse recebido a notícia em outro momento?

Íris VioletaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora